O relato abaixo foi traduzido do Blog Hispano Trastorno Bipolar. Se preferir ler este relato na íntregra e em seu idioma de origem, clique aqui.
Outro relato... Quem no-lo conta, vai explicando José Luís, do Blog Hispano Trastorno Bipolar, é uma amiga diagnosticada com transtorno bipolar um pouco tarde, após ter sofrido várias crises agudas. Ela nos diz como sua vida mudou e como ela enfrenta seu dia-a-dia e suas relações com os demais... Apesar dos duros momentos que lhe coube viver, a esperança e o amor de seus amigos e família têm-lhe permitido que siga adiante.
Vejamos o relato da srta. S. Ortega.
Eu lhes escrevo para comentar como minha vida mudou desde quando comecei a sofrer de transtorno bipolar...
Desde quando eu era muito pequena, minha mãe diz que notava coisas diferentes em mim. Havia épocas em que me isolava de todo o mundo e só brincava com minhas bonecas. Enquanto isso, minha mãe se aporrinhava uma vez após outra procurando conseguir-me amiguinhas com quem brincar. Em outras ocasiões, pelo contrário, eu mesma me rodeava de muitíssimas amigas e parecia muito sociável.
Assim foi passando minha infância e adolescência, até que cheguei aos 18 anos e sofri minha primeira crise.
Depois do episódio, deixei o curso universitário que estava frequentando e me desesperava, com medo de que as pessoas falassem mal de mim, de que pensassem que eu estava louca. Refugiei-me nos Estados Unidos, país no qual continuo vivendo. Mas, para minha surpresa, as crises continuaram e a cada vez faziam-se mais agudas... Finalmente, recordo que fui parar no hospital e estive internada mais de uma semana por ter tentado suicídio.
Mais tarde, as coisas se complicaram com o nascimento de meu único filho... e, se não fosse pela ajuda incondicional de meus pais, eu não teria podido cuidar dele. Agora, depois de quase 11 anos, pude encontrar um bom médico que finalmente diagnosticou corretamente minha enfermidade e receitou-me a medicação adequada. Atualmente, tomo 4 comprimidos diários de Tegreto 200mg e melhorei muitíssimo... mas minha vida deu uma volta de 360 graus.
Já não posso sair à noite porque a menor mudança em meus hábitos de dormir me desequilibraria totalmente. Tenho que me levantar e me deitar nos horários de sempre...
Tampouco posso beber álcool e perdi a maioria de minhas amizades porque já não posso sair com eles. Mas graças a Deus tenho minha família e também novos amigos que têm me ajudado a continuar com minha vida normal... Hoje em dia, meu doutor considera que devo tomar um comprimido extra, porque ainda tenho depressões, mas cada vez menores.
Viver com o transtorno bipoar é muito difícil, e ao dizer isto meus olhos se enchem de lágrimas. Não posso evitar que minha voz se embargue ao recordar todos os momentos difíceis que passei e continuo passando.
Uma enfermidade como esta é um desafio muito grande para qualquer pessoa, mas sou muito grata ao trabalho dos psiquiatras e cientistas em sua interminável busca para aliviar os males que afetam nossa sociedade. No particular, ser bipolar serviu-me para explorar ao máximo a espiritualidade, adquirir conhecimentos e enriquecer minha mente.
Quero olhar para trás e lembrar os momentos felizes que vivi, mas é inevitável sentir a angustiante sensação que me produziu recordar as penúrias que passei. Agora tenho 30 anos e não sei quais são as probabilidades de que me case e tenha mais filhos...
O doutor não recomenda que eu tenha mais filhos por duas razões: A primeira é que teria que deixar de tomar o Tegreto durante o período de gestação, o que implica que eu teria crises na ordem do dia. A segunda é que o bebê teria probabilidades de herdar o transtorno bipolar.
Por outro lado... conhecer um homem que te aceite com esta enfermidade tampouco é fácil.
Este é meu testemunho sobre a bipolaridade. Obrigada.
S. Ortega
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