quarta-feira, 11 de julho de 2012

O lado bipolar do Rock

Você gosta de rock and roll? Tenho quase a certeza de que sim. Daí que, provavelmente, entre seus cantores favoritos estarão Elvis, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Kurt Cobain (leia-se Nirvana), Axl Rose (entenda-se Guns N' Roses) e Cazuza.

Você consegue imaginar os anos 50 ou 60 sem Elvis? Os anos 70 sem Hendrix ou Joplin? A década de 80, no Brasil, sem Cazuza? E os anos 90 sem Nirvana ou Guns N' Roses? Todos eles eram bipolares e a maioria deles sucumbiu à doença de modo direto ou indireto.

Mas o que teria sido do rock se eles tivessem sucumbido mais precocemente, antes de terem feito sucesso? Você consegue imaginar o rock sem o rei do rock? Que outros grandes nomes da época de Elvis você poderia mencionar? Bill Haley? Faça uma lista. Ela provavelmente não será grande se você ainda é jovem...

Também tente pensar em Woodstock sem Hendrix, sem o célebre show em que ele ateou fogo à guitarra, brincando com as chamas de maneira, digamos, mágica (veja a imagem que ilustra este post). Que outra apresentação, no mundo do rock, é tão lembrada? A do Nirvana durante o Hollywood Rock, em que Kurt se masturbou no palco? Aí não vale, porque ainda estamos falando de um bipolar... Tente mencionar não-bipolares...

Agora, imaginemos a década de 80 no Brasil sem Cazuza. Obviamente havia outras bandas e o povo não deixaria de se divertir e ouvir música. Mas que outro compositor compunha aquelas letras? Exagerado, Ideologia e O Tempo Não Para se destacam da média, isto é, se destacam das letras de outras bandas que, em geral, cantavam canções mais ingênuas ou superficiais, algo que era mais para entreter por um minuto do que para refletir por longo tempo ou revelar grandes mágoas ou os abismos da alma... Só na década seguinte, outro grande nome apareceria com o mesmo destaque no cenário do rock nacional, se agora estamos falando de Renato Russo... Será que só produzimos um grande nome por década? E será que, mesmo assim, ainda tivemos que contar com uma ajudinha do transtorno bipolar nos anos 80?

A década de 80, sem Cazuza, teria sido menos profunda em matéria de letras de música, ainda que certamente não deixasse de ser igualmente divertida. O riso sempre foi o estado de espírito mais fácil de despertar nos outros, mas a reflexão não...

Se você fizer um bom apanhado das letras compostas por Cazuza, verá que elas se dividem facilmente em dois grupos bem distintos, um que nos lembra as fases de depressão, outro que nos lembra as de euforia... Talvez agora alguém diga que Cazuza nem sempre compunha sozinho. Mas, para que tenhamos uma ideia dos efeitos da bipolaridade na música nacional, basta ver que rumos o Barão Vermelho tomou quando deixou de contar com as letras de Cazuza, escritas em parceria ou não... O Barão é uma banda excelente, não se discute, mas o que estamos questionando aqui, deixemos isto bem claro, é até onde o elemento bipolar fazia a diferença na personalidade da banda.

A década de 90, sem o Nirvana, isto é, sem o maior marco do rock desse período, certamente não teria sido a mesma. Alguém aí é capaz de imaginar os anos 90 sem o maior ícone do grunge? Talvez alguém diga que o Nirvana não se resumia a Kurt e que ninguém é insubstituível. Concordo, mas o que sobrou da banda depois do suicídio de Kurt? O Foo Fighters, formado com o ex-baterista do Nirvana, certamente é uma banda excelente, mas muito, muito diferente... O Nirvana, em ao menos boa parte de suas canções, tinha um vigor que só podia vir de uma elavação do humor acima do normal...

Axl, líder do Guns N' Roses, é outro bipolar do mundo do rock. Este, entretanto, ficou meio queimado de uns tempos para cá. Prometia e não cumpria como alguns políticos que conhecemos, ou melhor, adiava... Chinese Democracy foi o CD do Guns que mais deu o que falar, não exatamente pela qualidade dele, mas pela eternidade que levou até ser lançado. Acabou conhecido como o disco eternamente adiado... Mas como não perdoar Axl? Como odiar o Guns? Os fãs ainda esperam novos CDs!

Chinese Democracy pode não ser o melhor CD do Guns que ouviremos, mas o fato é que Axl ainda está na ativa. Não é o fim do Guns, senão um pequeno tropeço ou solavanco numa estrada que segue adiante. Até quando?

De todos os bipolares mencionados acima, apenas Axl continua vivo. Obviamente, o fato de Axl ser mais jovem, isto é, ter nascido depois, ajuda bastante... Depois dos avanços no tratamento do TAB nestas últimas décadas, talvez ele seja o que venha a viver por mais tempo. Talvez seja o único que venha a deixar fotos de sua velhice para a posteridade. Vamos torcer. Um mundo do rock menos bipolar, como já podemos notar, não teria a mesma graça... Devemos imaginá-lo? Melhor não. Pode ser que, sem os extremos de depressão e de euforia do transtorno bipolar, o rock caísse na mediocridade... Como tirar a prova dos 9? Talvez no dia em que encontrem a cura definitiva para a doença...


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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Dicas para blogs - Postagens

Faça seus textos renderem o máximo possível no blog!


1 – Correção Gramatical

A correção tem a ver com a credibilidade de seu texto, especialmente se estamos falando de um blog de notícias ou um blog mais sério, menos informal.

Evite pelo menos os erros mais grosseiros, mesmo que você escreva num português bastante coloquial. Em outras palavras, use o corretor gramatical do Word ou do programa em que você gosta de escrever.

Se você tem dúvida sobre a grafia de uma palavra não corrigida pelo corretor, especialmente uma que você costuma usar, não tenha medo do dicionário. Há vários on-line que você pode consultar sem ter que sair da Net.


2 – Revisão

Escreva textos hoje para postar amanhã. Guarde seus textos por pelo menos um dia e revise-os antes de postar. A revisão sempre faz a diferença se queremos um texto mais correto.


3 – Postagens Programadas

Provavelmente, há época em que você escreve mais postagens. Programe-as de modo que elas sejam publicadas de modo regular ao longo do tempo.

Se você tem um blog literário, por exemplo, os lançamentos deveriam ter preferência, isto é, seja o primeiro ou um dos primeiros a postar resenhas sobre os livros mais recentes ou sobre as novidades que aparecem na Internet.

Por outro lado, se você também faz resenhas de livros antigos ou clássicos, não tenha tanta pressa de postá-las. Provavelmente já haverá outras centenas ou milhares de resenhas dessas obras na Internet. Mas você poderia programar as resenhas dessas obras para aquelas épocas do ano em que você praticamente não pode ler e resenhar devido às provas na escola ou a outros eventos que te ocupem completamente.

Se você vai postar uma resenha de Dom Casmurro, por exemplo, não tenha pressa. O livro foi publicado há mais de um século e certamente você pode esperar mais alguns meses!

Seja como for, ter uma postagem guardada para emergências é sempre um bom trunfo para manter o blog em atividade.

O segredo das postagens programadas consiste em publicar imediatamente o que não pode esperar, o que é mais importante ou depende de uma data para fazer sentido, e deixar para depois o que não é urgente postar ou fica bem em qualquer data.


4 – Imagens

Use imagens para ilustra as postagens sempre que for conveniente. Já falamos disto em outro post, lembra? Quantas vezes uma imagem no painel do blogger ou entre os resultados do Google não te chamou mais atenção que o texto ou o título de uma postagem?


5 – Links

Use links ao fim da postagem para incentivar a navegação interna de seu blog. Também já falamos disto em outro post. Achar um link ao final da postagem para clicar é muito cômodo. Se o texto que acabamos de ler foi bom, certamente pediremos “mais do mesmo”.


6 – Título

Outro item de que já falamos num post anterior.


7 – Tema

Procure falar do que sabe ou daquilo de que você gosta. Seus textos sairão de sua cabeça quase que instantaneamente. É muito fácil falar do que sabemos ou daquilo de que gostamos. Além do mais, o prazer que você sente ao escrever faz toda a diferença para que continue escrevendo.


8 – Frequência

Dizem que, para manter um blog, devemos publicar pelo menos três postagens por semana. Ao menos em se tratando dos blogs mais profissionais ou menos amadores.

Seja como for, há que haver uma frequência para as postagens. Uma por ano? Uma por mês?

O consenso é que “qualidade vem antes de quantidade”, ou seja, é sempre melhor publicar uma boa postagem por semana do que duas ou três pouco caprichadas ao longo do mesmo período! As postagens programadas, como eu disse, são ótimas para mantermos um ritmo ou frequência, já que nem sempre estamos tão disponíveis para o blog.

Se você tem um blog literário, isto é, se o forte de seu blog são as resenhas de livros, são essas postagens que devem ser publicadas com certo ritmo ou frequência. Se você publica 15 resenhas em janeiro, nenhuma em fevereiro, e outras 15 em março, isso significa que em fevereiro seu blog não teve nenhuma daquelas postagens que são, justamente, o ponto forte dele. Se estivéssemos falando de uma churrascaria e não de um blog, eu diria que sua churrascaria só serviu salada no mês de fevereiro, porque não houve carne no cardápio!

Lembre-se de que o prato principal, num blog literário, são as resenhas. Faria mais sentido reservar 4 das resenhas de janeiro para o mês seguinte, de modo que fevereiro tivesse ao menos uma resenha por semana enquanto você aproveita as férias ou o carnaval.


9 – Postagens Vazias

Não faça, portanto, com que seus seguidores voltem a seu blog “à toa”. Não publique uma postagem a menos que você realmente tenha algo a dizer. Lembre-se de que seus seguidores esperam algo quando visitam seu blog, e não encontrar nada de significativo lá nas últimas 10 vezes em que você postou algo é, no mínimo, desestimulante.

Se todo dia você gritar que o lobo está perto, mesmo que ele não esteja, chegará o dia em que já não te darão ouvidos. Em outras palavras, se você publicar muitas postagens vazias, chegará o dia em que você terá algo realmente bom para postar, mas ninguém acessará mais seu blog para conferir...

Por outro lado, deixe que seus seguidores sintam faltam de suas postagens se você realmente não tiver algo para postar. Só “chame” seus seguidores para o blog se a visita valer a pena para eles. Ninguém gosta de andar de lá para cá sem necessidade.

É como se você tivesse um restaurante e chamasse os seus fregueses mesmo quando não há comida para servir. Eles se lembram da boa comida que você já serviu um dia e atendem a seu chamado, mas agora não encontram nada para comer. Você faz isso uma vez, duas, três... e um dia seus fregueses já não atendem a seu chamado.


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quarta-feira, 25 de abril de 2012

Veronika Decide Morrer, de Paulo Coelho

Veronika é uma jovem que tenta o suicídio e, no fim das contas, acorda numa clínica psiquiátrica. A tentativa havia fracassado e Veronika passa a viver como interna. A maior parte do romance se desenvolve na clínica e é aí que encontramos o Dr. Igor, o personagem mais interessante depois da protagonista.

Veronika é informada por ele de que morrerá dentro de alguns dias devido a complicações cardíacas decorrentes dos calmantes que ela ingeriu ao tentar o suicídio. O tempo, entretanto, vai passando. À medida que a morte não vem, a estadia de Veronika na clínica vai se alongando, contra sua vontade, até que chegamos a um ponto de ruptura. Veronika foge da clínica... (Não, não ria. A cena da fuga do hospício não é engraçada; é até bastante bonita e provavelmente você se alegrará pela protagonista.)

A longo da história, entretanto, o leitor sabe da experiência do Dr. Igor e entende por que Veronika não morria.

Direta ou indiretamente, Paulo Coelho é mencionado aqui e ali. A primeira vez é a que mais chama a atenção. Mas depois das primeiras páginas, após o narrador ter mencionado um jogo em CD-ROM do próprio Paulo, o leitor entra definitivamente na história e daí por diante chega facilmente ao final do livro, que tem um bom desfecho (na opinião da maioria) e um ótimo desfecho (na minha opinião).

Quem já teve a oportunidade de ler "Verónika Decide Morir" (versão espanhola, Editora Planeta, Argentina, Ano 1999), sabe que o romance traz um subtítulo na capa: "Una novela sobre la locura" (um romance sobre a loucura). Com loucura, obviamente, queremos dizer a depressão da protagonista, sua permanência na clínica, os demais internos, os profissionais da área que ali trabalham, a visão dos de fora, etc.

Antes da tentativa de suicídio, notemos, houve a vontade de morrer, o planejamento e a preparação, abrangendo um período considerável de tempo. Isso corresponde à realidade das pessoas que sofrem de depressão. Tais pessoas não se suicidam da noite para o dia como muitos pensam, mas depois de várias semanas ou pelo menos após alguns meses. Outros sintomas da depressão da protagonista, além da ideia de morte, são a falta de perspectiva de futuro e o desânimo com sua vida atual, ainda que aparentemente ela não tivesse motivos para se sentir assim.

Outros internos, com quem Veronika convive, são Zedka (depressão), Mari (síndrome do pânico) e Eduard (esquizofrenia). Por este, Veronika se apaixona. Não esperemos, entretanto, uma série de loucuras. A vida na clínica é até bastante tranquila, apesar de todas as suas peculiaridades, outro ponto da história que corresponde à realidade. Porque, ao menos nas boas clínicas, os internos estão sob o devido tratamento. O próprio Paulo já esteve internado, lembremos.

Talvez ainda devêssemos falar das freiras e das pessoas leigas com as quais a protagonista mantinha contato...

Veronika vivia num quarto alugado às freiras, num convento, e talvez isso queira nos sugerir que a proximidade com a Religião (não importa qual, obviamente) não é o bastante para curar alguém da depressão ou para torná-lo livre de qualquer enfermidade cujo tratamento compete aos psiquiatras e psicólogos. Não pensemos, entretanto, que o romance fala de Religião. Ao menos não de modo direto. Essas páginas, devo dizer, são poucas e logo o leitor esquece que a protagonista vivia num quarto cedido pelas freiras. Seja como for, o exemplo bíblico usado pelo narrador, ao fim do romance, nos traz à mente outra vez a ideia de Religião.

Sobre as pessoas leigas, elas tampouco parecem ter percebido a depressão de Veronika. Foram amigos diversos que reuniram os calmantes que ela ingeriu em sua tentativa de suicídio. Foi a maneira que Veronika encontrou de conseguir os remédios em quantidade excessiva sem levantar suspeitas. Ela os havia pedido a vários amigos sob o pretexto de que tinha dificuldades para dormir. Só não lhes avisou que pretendia dormir o sono eterno... Talvez isso queira sugerir que nossa Sociedade, tal como ela é, contribui de algum modo para a loucura e o suicídio ou para os distúrbios mentais. Essas páginas do romance também são poucas.

Quase toda a história, ressaltemos, consiste na estadia de Veronika na clínica, na ideia de que temos uma vida valiosa embora às vezes ela pareça banal ou vazia, e no questionamento do conceito de normalidade.

Sobre "A Montanha Mágica", de Thomas Mann, também tenho algo a dizer.

A Montanha é um romance bastante conhecido. Nele, o protagonista também é internado numa clínica para o tratamento de uma doença respiratória e sua estadia ali, igualmente, vai se prolongando por tempo indeterminado. Não pensemos, entretanto, que ambos os romances se pareçam muito. Muitas pessoas leriam os dois e não veriam semelhanças.

A semelhança está, sobretudo, na ideia de continuar internado por tempo indeterminado ou maior que o previsto quando já queremos voltar à vida aqui fora. Também está em sugerir que a grande loucura seja exatamente este nosso mundo ou esta nossa aparente normalidade. Além do mais, a clínica (a de Paulo ou a de Mann) não é senão um reflexo da Sociedade fora dela. Em ambos os romances, há um amadurecimento do personagem principal e uma certa história de amor entre ele e outro interno.

Se você ainda não leu um romance de Paulo Coelho, comece com Veronika. Ele está mais próximo do nosso estilo de vida ocidental e da loucura do nosso dia-a-dia que O Alquimista, por exemplo. Não é um romance para fugir da realidade, mas para aproximar-se dela. Livro indicado especialmente para mulheres entre 18 e 35 anos, acostumadas aos best-sellers americanos.

Também existe o filme, de 2009, ambientado em Nova York e com o mesmo nome. Não posso falar dele, porque não o vi, mas dizem por aí que o livro é melhor que o filme.



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Depressão e Café
Marta #1

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Garota Interrompida

Para quem deseja saber um pouco mais sobre "transtorno borderline", há uma ótima postagem chamada Um pouco mais sobre garota borderline, no blog My Fitst, Ana.

Como os transtornos bipolar e borderline são considerados de difícil diagnóstico e, não raro, bipolares são confudidos com borderlines, temos aí um texto muito interessante para os leitores do ME.

Também existe o filme "Garota Interrompida", cuja protagonista é borderline. Quem já viu o filme?


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Qual é a diferença entre bipolar e borderline?

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Transtorno Esquizoafetivo

Muitos de vocês já devem ter ouvido falar em Espectro Bipolar, que são aquelas formas mais brandas do transtorno bipolar, entre elas a ciclotimia e o TAB-SOE.

A ciclotimia, embora classificada como uma doença à parte pelo CID-10, não deixa de ser uma forma mais leve de transtorno bipolar. Já o TAB-SOE são aqueles episódios de depressão, mania, etc., que não atendem a todas as exigências do CID-10 e, por isso, são chamados de inespecificados. Há sintomas, mas não suficientes ou claros o bastante para caracterizar um episódio maníaco, misto, etc.

Pois bem! Do mesmo modo que há o Espectro Bipolar, com suas formas mais brandas do TAB, existe o Espectro Esquizofrênico, do qual faz parte o transtorno esquizoafetivo.

O transtorno esquizoafetivo não é simplesmente a soma da esquizofrenia e do transtorno bipolar, porque, na prática, temos aí algo mais brando que a esquizofrenia. Do contrário, o transtorno esquizoafetivo não estaria dentro do espectro esquizofrênico tal como a ciclotimia está dentro do espectro bipolar...

Grosso modo, essa é a melhor comparação que posso fazer.

No transtorno esquizoafetivo, temos crises como as do transtorno bipolar e, no restante do tempo, podemos perceber sintomas esquizofrênicos.

Talvez agora alguém diga: "Mas na esquizofrenia também há essas crises, às vezes muito semelhantes às do TAB, sem que possamos distingui-las à primeira vista. Como saber se é transtorno esquizoafetivo ou transtorno esquizofrênico? Além do mais, como saber se não é TAB?"

No TAB, entre uma crise e outra, há ou costuma haver períodos de vida normal. Esses períodos não são iguais àqueles que vemos entre uma crise e outra do esquizofrênico. Estabilizado o humor, o bipolar volta a ser o que era, ainda que, entre uma crise e outra, possa haver "resquícios", sintomas leves e flutuantes. Já na esquizofrenia, há os sintomas negativos, que não existem no TAB. Entre uma crise e outra, o esquizofrênico já não volta a ser extamente o que era.

A esquizofrenia afeta algo mais profundo que o humor ou o afeto. Tratá-la não é só uma questão de estabilizar o humor, como no transtorno bipolar...

"Mas OK", talvez você diga agora, "já temos uma ideia da diferença entre transtorno bipolar e esquizofrenia. Mas qual a diferença entre os transtornos bipolar e esquizoafetivo?"

Como eu disse, o transtorno esquizoafetivo está dentro do espectro esquizofrênico; é mais brando, por assim dizer, do que a esquizofrenia. Para termos uma ideia melhor, basta lembrar que pacientes esquizoafetivos costumam obter melhores resultados com o tratamento do que pacientes esquizofrênicos, desde que recebam, obviamente, tratamento adequado para transtorno esquizoafetivo.

Na prática, neste último transtorno, veremos crises ou fases como aquelas que vemos no TAB, mas também veremos, entre uma crise e outra, características que nos lembram a esquizofrenia, sem que chegue a ser um caso clássico de esquizofrenia ou a causar exatamente os mesmos prejuízos na vida social do indivíduo. Comparado com a esquizofrenia, o transtorno esquizoafetivo limita menos a vida social do paciente.

O diagnóstico de transtorno esquizoafetivo poder ser ainda controverso, mas os resultados obtidos com o tratamento adequado já nos dizem algo. Aliás, já nos dizem muito...

Certamente há outras diferenças entre esses três transtornos, mas, por enquanto, fiquemos com essas aí. Já são suficientes para que tenhamos uma noção sobre o assunto. Seja como for, não se surpreenda se, não prática, não for tão claro para os profissionais distinguir os três transtornos. Porque de fato não é. Você já ouviu falar numa coisa chamada diagnóstico errado? De vez em quando eu ouço...

Mas ânimo! Os profissionais da área ainda são as pessoas mais adequadas para enxergar diferenças ente esta e aquela enfermidade parecida... São eles também que costumam dar o diagnóstico correto, é claro! Quem mais poderia ser? Enfim, eles ainda são o que temos de melhor, especialmente para os casos mais complexos.

Procure os profissionais da área desde o início.


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Qual é a diferença entre bipolar e borderline?

quarta-feira, 28 de março de 2012

Punks de Boutique, Cowboys de Apartamento e Bipolares de Fancaria

Sabemos que um Punk de verdade não se resume às roupas rasgadas ou surradas que ele usa. Ser Punk é um modo de ser, pensar e respirar. Dizem até que Punk de verdade não toma banho, o que eu duvido. Ao menos uma vez na semana ele deve se banhar...

Mas o que eu quero dizer é que ninguém é Punk porque vestiu uma calça de couro, subiu numa moto e arrepiou os cabelos com gel. Punk que é Punk tem as calças surradas porque as usou até a exaustão, porque senta-se no chão, em qualquer lugar, não tem cuidado. Quem compra uma calça já surrada na boutique, não é Punk, porque não teve a atitude de usá-la até estragá-la. Quem compra calça surrada para parecer Punk, não é Punk de verdade, ou melhor, é Punk de boutique...

A atitude de desgastar a calça com o uso, até que ela se rasgue ou fique surrada, é uma atitude que caracteriza o verdadeiro Punk. Mas há pessoas que podem usar uma  calça durante anos, que ela nunca vai se rasgar ou se estragar, simplesmente porque o estilo de vida dessa pessoa não permite isso. A calça não vai estragar se você só se senta em poltronas macias ou se você só a usa em ambientes aconchegantes.

De igual maneira, Cowboy de verdade é aquele que monta a cavalo ou, num rodeio, sobe num touro sem medo de cair, porque ele sabe que vai ser arremessado ao chão no fim das contas. É aquele que usa o chapéu para proteger o rosto do sol.

Quem usa um chapéu de Cowboy na cidade, dentro de um ambiente refrigerado ou numa noite sem sereno, por pura vaidade, não é Cowboy de verdade. O Cowboy vai à cidade de cahpéu porque saiu do campo de chapéu. O cowboy usa chapéu à noite porque já estava com ele na cabeça durante o dia. Se o Cowboy entra num ambiente refrigerado usando chapéu, é porque ele vem de um lugar ao ar livre e esqueceu o chapéu na cabeça. Ou não teve onde deixá-lo.

Cowboy de verdade não usa o chapéu por vaidade ou para fazer tipo, ainda que possa cuidar de seu chapéu com zelo e ter orgulho dele.

Quem se fantasia de Cowboy, não é Cowboy de verdade. A atitude faz o Cowboy; não a roupa.

Do mesmo modo, quem não passa por crises de depressão e de euforia, não é bipolar de verdade. Quem se diz bipolar porque é moda e não porque apresenta sintomas de TAB, é como o Punk de boutique ou o Cowboy de apartamento.

É curioso como muitas pessoas se autodenominam bipolares enquanto os bipolares de verdade estão buscando tratamento para anular os sintomas do TAB. É por causa dessas e outras atitudes, praticadas por pessoas normais, que podemos dizer que vivemos num mundo louco. Mas assim são as pessoas normais. Completamente loucas...

Mas, depois dos Punks de boutique e dos Cowboys de apartamento, os bipolares de fancaria já não me surpreendem. É a última moda. É a última loucura das pessoas normais. Aguardemos a próxima moda quando esta (a de ser bipolar) finalmente tiver passado...

Haveria um lado bom (aliás, um lado ótimo) se as pessoas se informassem a respeito do que elas afirmam ser. Mas quem é Punk de boutique não quer descobrir o que é ser Punk de verdade, tem até receio dos verdadeiros Punks, ou do contrário se aproximaria destes. Afinal, qual é o impedimento? Quem é Cowboy de apartamento geralmente odeia terra e sol na cara, e bebe leite de caixinha como qualquer pessoa da cidade, de modo que, para o Cowboy de apartamento, a vida do Cowboy de verdade é completamente ignorada. Ao menos na prática.

Se o Cowboy de verdade tivesse que se mudar para um apartamento na cidade, ele fugiria para o campo sempre que possível. De preferênica, a galope, montado num cavalo. Mas o Cowboy de mentira, o Cowboy de apartamento, só "foge" de casa para o clube social ou para o shopping. Nunca a cavalo.

Do mesmo modo, os bipolares de fancaria não procuram saber o que é TAB e ficam sendo uma coisa que eles mal sabem o que é... Isso diminuiu o preconceito? Ao que parece, não. Mostre a um bipolar de mentira um bipolar de verdade e ele não vai se reconhecer, não vai se identificar.

Em poucas palavras, você pode dizer que é bipolar, desde que não o seja de fato. Afinal, quando a próxima moda chegar e você tiver que deixar de ser bipolar para ser outra coisa, será preciso saber "curar-se" a tempo de estar em dia com o último grito, a última moda... Você não vai querer ficar para trás quando esse momento chegar, vai?


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quarta-feira, 21 de março de 2012

Mitos e Verdades Sobre o Transtorno Bipolar

Encontrei esta ótima postagem de José Luís, no Blog Hispano Trastorno Bipolar, e não pude deixar de traduzi-la para vocês. Leia o texto original espanhol clicando aqui.


Mitos e Verdades Sobre o Transtorno Bipolar

Enfrentemos antes de mais nada uma verdade incontestável: a grande maioria das pessoas desconhece por completo a enfermidade. O Transtorno Bipolar continua sendo um grande desconhecido e se usa injustamente para definir, às vezes, pessoas que se entediam, pessoas que estão deprimidas ou pessoas que por natureza não são muito dadas a se relacionar com os demais. Não é raro tampouco escutar alguém dizer que alguém é “bipolar” só porque mudou de opinião sobre algo ou porque não se encaixa em nenhuma outra categoria.

Infelizmente, também basta uma pesquisa rápida em qualquer site de buscas da Internet para ler em mil e um fóruns comentários de adolescentes que se alcunham a si mesmos de bipolares sem terem recebido nenhum diagnóstico médico. O Transtorno Bipolar NÃO é um estado de espírito ou uma forma de ser. É uma enfermidade que pode chegar a ser terrível e que às vezes leva quem dela padece ao limite de sua capacidade física e psicológica.

Felizmente, também se pode lutar contra ela e ganhar. O primeiro passo é separar os mitos das verdades...

Falso Mito 1: “Todos os bipolares oscilam constantemente e sem remédio entre a mania e a depressão.”

Falso, falso, falso! Bem, quase sempre. A verdade é que algumas pessoas sim alternam entre mania e depressão rapidamente (cicladores rápidos), mas a grande maioria sofre de depressão muito mais frequentemente que de episódios maníacos. De fato, a maia em muitos bipolares pode ser tão suave, que costuma passar despercebida.

Certamente, também há bipolares que passam dias, semanas e inclusive meses sem padecer de nenhum sintoma. Às vezes essa situação de “paz” emocional (chamada Eutimia) se deve a uma medicação correta, a um ambiente estável ou a um grupo de apoio eficiente... mas outras simplesmente acontecem, falando claro, de forma espontânea. Sim, a evolução de um Transtorno Bipolar ainda é um mistério às vezes, mas felizmente cada vez se estuda e se conhece mais. Não seria de estranhar que esta fosse a década em que se consiga dar um passo de gigante na luta.

Falso Mito 2: “O Transtorno Bipolar só afeta o estado de espírito.”

O quê? Como? Falso, falso e mais que falso! Mesmo que pareça mentira a esta altura do século XXI, muitas pessoas ainda consideram os bipolares “deprimidos”, “instáveis” ou inclusive os alcunham de “paranoicos”. Mas o Transtorno Bipolar não é estar sempre triste, nem tampouco é uma maneira diferente de se sentir, nem certamente é um mero ataque emocional. Os bipolares sofrem de uma enfermidade com consequências que, sem tratamento adequado, podem ser terríveis para o paciente e para as pessoas à sua volta.

O Transtorno Bipolar “brinca” com o estado de espírito e o humor, mas também afeta à nível de energia, pensamento crítico, memória, concentração, apetite e inclusive desejo sexual. Por quê? Porque é uma enfermidade originada no cérebro e que afeta as conexões entre neurônios. Essas conexões afetam TUDO o que fazemos, TUDO o que pensamos e TUDO o que em definitivo acreditamos que somos. Por isso, é importante atender de forma especial às “quedas” na autoestima dos pacientes, o que pode levá-los a estados de ansiedade ou inclusive a cair nas drogas ou no álcool.

Por último, também se demonstrou que os afetados por Transtorno Bipolar correm um maior risco de sofrer hipertensão, enxaqueca e inclusive diabetes.

Falso Mito 3: “Um bipolar diagnosticado não pode melhorar porque não se descobriu nenhuma cura confiável, nem ele pode levar uma vida normal.”

Se não fosse má educação, juro que eu começaria a rir. É uma mentira das grandes! É completamente falso! E o pior de tudo é que isto mesmo é o que costumam garantir as pessoas mais ignorantes do mundo sobre o assunto. Mas no fundo não é só culpa deles, mas também dos próprios bipolares que em não poucas ocasiões exteriorizam seu sentimento de estigma.

Seja como for – e apoiam minhas palavras milhares de histórias de sucesso e superação no mundo –, é falso que um bipolar não possa levar uma vida normal e inclusive sobressair-se. Muitos bipolares têm carreiras profissionais brilhantes, relações familiares e amorosas felizes.

Não é minha intenção enganar a ninguém. Viver e enfrentar o transtorno bipolar não é fácil, mas com o tratamento correto, as técnicas adequadas para controlar os sintomas e um sistema de apoio bem desenhado, pode-se alcançar uma vida plena e FELIZ. É um fato, uma realidade e uma esperança que ninguém jamais deveria tirar de um bipolar.

Falso Mito 4: “Além da medicação, não há nada no mundo que se possa fazer para controlar um Transtorno Bipolar.”

Até há uns poucos anos, esta era uma das grandes verdades científicas sobre a enfermidade. Mas atualmente nenhum especialista se atreve a questionar que é falso. Falso, falso, falso!

Sim, a medicação é o alicerce irrenunciável para o tratamento efetivo do Transtorno Bipolar, mas já se demonstrou que, sem aliados mais mundanos, seu índice de sucesso é muito menor. A terapia emocional e as técnicas de autoajuda têm um papel essencial para a vida de um bipolar.

Pode-se aprender a controlar o aparecimento de sintomas, a “vê-los vir” antes que aconteçam. Também se pode atenuar os efeitos do Transtorno Bipolar seguindo rotinas diárias específicas, monitorando os ciclos da enfermidade e criando um círculo próximo de “aliados” para lutar contra a enfermidade. Dormir bem, consumir alimentos saudáveis e evitar o estresse são só três hábitos que por si sós podem fazer a diferença entre um bipolar estável e um que sofre.

A todos os amigos que fiz ao longo dos anos, faço a mesma pergunta: Vale a pena não tentar?

Tome hoje, por fim, as rédeas de sua vida.

José L. González
http://www.TrastornoBipolarWeb.com


Leia mais
O que os leigos deveriam saber sobre bipolares

quarta-feira, 14 de março de 2012

Como identificar um adolescente bipolar?

Nas postagens anteriores, tivemos uma ideia de como é, tipicamente, o transtorno bipolar em adultos (TAB I e II) e em crianças.

No transtorno bipolar na adolescência, costumamos ver um meio-termo entre TAB adulto e TAB na infância. As fases de um adolescente, de modo geral, são mais definidas ou delimitadas que as de uma criança, ainda que geralmente mais curtas que as de um adulto, e a sintomatologia mista ainda é presente ou não “desapareceu” completamente.

Um adolescente bipolar, entretanto, também pode apresentar fases definidas de mania e depressão, por exemplo, de modo que ele seja diagnostico ainda na adolescência como bipolar do tipo I ou II. Nada impede que seja assim, e isso realmente acontece. Mas nesta postagem, antes de tudo, quero falar do que é típico ou generalizado.

A maioria das crianças e adolescentes, como dissemos em outra postagem, fica dentro do espectro bipolar, isto é, sofrem de TAB SOE ou ciclotimia.

O diagnóstico de ciclotimia, não raro, dá lugar ao de transtorno bipolar.

O TAB SOE, por sua vez, é uma espécie de diagnóstico de espera, ou seja, é usado enquanto não podem ser observadas fases definidas ou claras de depressão, mania, etc. Mas também há adultos que sofrem de TAB SOE, ressaltemos.

Seja como for, chegando à vida adulta, as fases menos claras do adolescente costumam dar lugar a fases mais definidas, e a sintomatologia mista costuma “abrir-se” em fases de mania e de depressão, por exemplo. Mas ainda não há estudos longos, de muitos anos, acompanhado bipolares adolescentes. Não se sabe ao certo, sequer, se é a mesma enfermidade em adultos e em crianças e adolescentes.

Geralmente o transtorno bipolar, na adolescência, começa entre 13 e 17 anos. A primeira fase de mania costuma vir entre 18 e 25, mas pode vir antes.

De modo geral, também em adultos, o transtorno bipolar começa com uma fase de depressão ou há algum evento traumático que o antecede, como o fim de um casamento ou um acidente grave. Mas lembre-se de que nem todas as pessoas se traumatizam com os mesmos eventos.


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quarta-feira, 7 de março de 2012

Como identificar uma criança bipolar?

Nas últimas 5 postagens da série, falamos, sobretudo, de bipolares adultos. Você já sabe que aquilo que é típico em adultos, é atípico em crianças e a adolescentes.

Mas também há diferenças entre crianças e adolescentes bipolares.

De modo geral, em adultos, vemos fases definidas ou claras, que fazem contraste com os períodos de vida normal. As fases em adultos, geralmente, apresentam um número mínimo de sintomas exigidos pelo CID-10 e duram, também, o tempo mínimo exigido. Estamos falando das fases de depressão, mania e hipomania que caracterizam o transtorno bipolar do tipo I ou II.

Embora as fases mistas também caracterizem um transtorno bipolar do tipo I, elas são atípicas em adultos e estão associadas a um a agravamento da enfermidade, geralmente depois de um bom período em que os sintomas se manifestaram sem que fossem tratados. Ainda assim, as fases mistas podem ser as primeiras a aparecer em adultos.

Numa criança, é típica a sintomatologia mista, isto é, sintomas de depressão e de mania que acontecem ao mesmo tempo ou que se alternam rapidamente. (Lembre-se do que você já leu sobre fases mistas estáveis e instáveis.) Mas uma criança também pode ter um “episódio maníaco”, por exemplo. As fases mistas, não sendo vistas como ciclagem ultradiana, podem durar anos.

Embora não haja uma boa diferença entre ciclagem ultradiana e fases mistas instáveis, a ciclagem ultradiana também é típica de crianças. Nela, há fases de depressão que duram poucas horas e fases de euforia que também duram poucas horas, e elas se alternam várias vezes ao longo dia, pelo menos 4 vezes. Na ciclagem ultradiana, note bem, as variações de humor constituem fases distintas e, não, uma única fase mista.

Numa criança, é mais comum o humor irritado que o humor eufórico.

Para sermos mais práticos, uma criança bipolar típica apresenta sintomas de depressão e de euforia na maior parte do tempo, e esses sintomas, salvo pelo que foi dito acima, se manifestam de modo igual ou semelhante àqueles que vemos nas fases mistas estáveis ou instáveis já descritas quando falamos de bipolares mistos. Há antes irritação que euforia nos períodos de humor elevado ou humor misto. E os sintomas geralmente se manifestam sem que possamos definir ou delimitar o início ou fim das fases claramente. Não há ou não chega a haver aquela ideia de ciclos mais longos e mais definidos, que é típica de bipolares adultos.

Pode haver hipomania em vez de mania.

Crianças constantemente mal-humoradas ou irritadiças deveriam ser melhor observadas.


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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Como identificar alguém que sofre de TAB SOE?

Já falamos em postagens anteriores sobre bipolares do tipo I e II, isto é, já falamos sobre fases de depressão, mania, hipomania e fases mistas.

Mas nem sempre essas fases são especificadas, claras ou definidas. No "transtorno bipolar SOE", as fases não apresentam o número mínimo de sintomas exigidos ou, apresentando-os, não duram o tempo mínimo exigido.

Uma fase de mania pode durar menos de uma semana, de modo que não poderia ser classificada como um “episódio de mania”. Porque o tempo mínimo exigido, para tal episódio, é de uma semana. Como a única diferença entre mania e hipomania não é a duração, tampouco poderíamos dizer que houve um “episódio de hipomania”.

Na hipomania, por exemplo, não há delírio ou alucinação. Sendo assim, uma elevação do humor acentuada, com a presença de delírio ou alucinação, não poderia caracterizar a hipomania, mesmo que durasse 4 dias.

O mesmo acontece com as fases de depressão e as fases mistas.

O transtorno bipolar SOE é mais comum em adolescentes que em adultos. A maioria dos adolescentes se encontra dentro do espectro bipolar, isto é, sofre de transtorno bipolar SOE ou ciclotimia.

Tenha em mente, agora, que tudo o que foi dito nas 5 primeiras postagens desta série se refere especialmente a bipolares adultos. No transtorno bipolar na infância e adolescência (TAB-IA), tudo pode ser muito diferente. O que é típico em bipolares adultos costuma ser atípico em crianças e adolescentes.

No TAB-IA, sintomatologia mista e ciclos rápidos são típicos. Em crianças, entretanto, não observamos ciclos (fases longas, bem definidas, que se alternam). Em adolescentes, já podemos observar esses ciclos, ainda que geralmente não sejam bem definidos e costumem apresentar sintomatologia mista.

Os adolescentes bipolares que chegam à idade adulta costumam apresentar fases mais definidas ou claras, e a sintomatologia mista não raro dá lugar a fases definidas de depressão e de mania.




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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Como identificar um bipolar do tipo misto?

O transtorno bipolar do tipo misto, também classificado como tipo I, apresenta fases mistas, com sintomas de depressão que se mesclam ou se alternam rapidamente com os de euforia.

O que poucos sabem é que as fases mistas podem se manifestar de mais de um modo.  Na fase mista estável, os sintomas de euforia e de depressão aparecem ao mesmo tempo ou praticamente ao mesmo tempo, o que é muito curioso. Já na fase mista instável, os sintomas de euforia e de depressão se alteram rapidamente, o que tampouco deixa de chamar a atenção.

Mas o que significam “euforia e depressão ao mesmo tempo ou praticamente ao mesmo tempo”?

O bipolar, neste caso, pode apresentar a agitação motora e mental de uma fase de humor elevado e, ao mesmo, tempo expressar sentimentos de falta de esperança, de culpa ou de baixa autoestima, como numa fase de humor deprimido. Ele também pode estar eufórico agora e, literalmente 5 minutos depois, estar deprimido, chorando.

Agora, o que se significam “sintomas de depressão e de euforia que se alternam rapidamente”?

O bipolar, por exemplo, pode apresentar sentimentos de culpa, baixa autoestima, apatia, vontade de se isolar ou “desaparecer”, mas, horas depois, no mesmo dia, ele está eufórico, vai a uma festa e se diverte!  Dizemos, nesse caso, que os sintomas de depressão e de euforia se alternaram rapidamente, isto é, no mesmo dia ou num período de horas.

A fase mista deve durar pelo menos uma semana, acontecendo todos os dias ou quase todos os dias, na maior parte do tempo.

Um bipolar do tipo misto nem sempre teve ou terá, necessariamente, apenas fases mistas. Provavelmente um bipolar adulto do tipo misto já teve fases anteriores de depressão ou de mania.

O mais comum, em bipolares adultos, é que uma fase de mania evolua para uma mista, e que uma mista evolua para uma depressiva.


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sábado, 18 de fevereiro de 2012

Transtorno Bipolar: Como agir em público?

Há bipolares em número que suficiente para que eles mesmos derrubem qualquer mito sobre o TAB ou estigma.

O que acontece é que muitos bipolares optam por não tornar público o seu diagnóstico e, por isso, nem sempre seguem publicamente blogs que abordam o tema. Obviamente, um bipolar tem muitos motivos para não alardear por aí o diagnóstico, como o medo de sofrer preconceito ou ser visto de maneira estereotipada. Mas este silêncio permite que pessoas desinformadas falem a respeito do TAB, difundindo informações tortas, criando uma imagem pública do bipolar que não corresponde à realidade. Muitas pessoas, ainda que o façam de bom coração, acabam divulgando falsas verdades, simplesmente porque tentam explicar a terceiros o que é ser bipolar, repassando adiante explicações ouvidas aqui e ali, mas que não são corretas...

Muitas pessoas, ingenuamente, creem que ser bipolar é estar triste num momento e alegre no outro, coisa que acontece com qualquer indivíduo que tenha sentimentos. Daí a impossibiliade da maioria da população em entender as fases de euforia e de depressão pelas quais o bipolar passa. Quase ninguém as vê como crises, de modo que quase ninguém compreende a gravidade delas. Poucas pessoas “aceitam” que depressão não é tristeza, mas uma enfermidade, e que euforia não é um simples sentimento de alegria, mas uma elevação do humor que pode ser perigosa e que também merece o devido tratamento...

Outra ideia ainda muito difundida é a de que bipolares são perigosos ou mais violentos que a média das pessoas. Há um excelente estudo de Oxford que desmente esse mito que nasceu da falta de informação ou do preconceito. As conclusões desse maravilhoso estudo, você as encontra AQUI, neste blog. Leia a postagem, alegre-se com ela, imprima-a e repasse-a a familiares e amigos. Ajude a diminuir a falta de informação sobre o TAB...

Se você é bipolar ou está apoiando alguém querido que o seja, não pense duas vezes. Divulgue as conclusões desse estudo como puder. Faça-as circular. Se há tanta gente divulgando informações tortas e propagando preconceitos sobre o TAB, por que justamente você não poderia divulgar informações corretas, vindas de fontes seguras? Se você é bipolar, não deixe que falem mal de você pelas suas costas. Se você está apoiando alguém querido, tampouco deixe que falem mal dele pelas costas... Tome você também a palavra. Não se cale se justamente você está mais informado que os outros. Acredite em mim, não é preciso saber muito para estar mais informado sobre o TAB que a maioria das pessoas!

Contra-ataque. Você é o único que pode reduzir o estigma. Não espere que as pessoas leigas tomem essa iniciativa. Siga páginas que abordem o tema de maneira séria, visite-as regularmente, espalhe informações corretas sobre o TAB, diminua o estigma.

Imagine que você pode fazer a diferença. Imagine que milhares e milhares de bipolares, familiares ou amigos de bipolares, podem ter pequeninas atitudes que, somadas, darão um grande resultado.

Mas o que exatamente você poderia fazer?

Primeiramente, não se sinta diminuído. Além do que eu disse acima, procure fazer parte de comunidades sérias sobre o assunto, em redes sociais, mostrando que há muita gente apoiando essa causa. Tampouco deixe de falar quando você puder esclarecer algo. Ficar calado é deixar que os outros falem por você. Não dê esse direito a outras pessoas se elas não sabem colocar-se bem quando o tema é o TAB.

Se você não é bipolar, mas está apoiando alguém que sofre de TAB, faça o mesmo; aclare as coisas sempre que surgir a oportunidade ou for conveniente. Você não precisa fazer nada excepcional. Basta dizer o que você sabe sobre o assunto, mesmo que seja pouco, desfazendo ideias tortas, derrubando mitos, mostrando que o estereótipo do bipolar não corresponde à realidade...

Você não precisa que todos lhe deem razão ou queiram escutá-lo. É suficiente que algumas pessoas lhe deem crédito ou o escutem. Se alguém realmente acredita em ideias falsas sobre o TAB, basta mostrar que há quem discorde. Não é preciso iniciar um bate-boca.  Simplesmente mostre que há quem discorde e procure desfazer qualquer mito sobre o TAB, sempre na medida do possível. Afinal, ninguém faz o que não pode. Mas não deixe de agir quando a oportunidade surgir. Certamente haverá oportunidades e você poderá agir.

Creia. Você pode fazer muito através de pequenos gestos. Você não precisa, não deveria esperar que alguém faça algo quando você mesmo pode fazer alguma coisa. Mesmo que você decida manter segredo sobre o seu diagnóstico ou o de seus entes queridos, você ainda pode falar sobre o TAB a terceiros, esclarecendo falsas ideias que circulam por aí. Pense nisso. Se você é bipolar ou está apoiando um ente querido que sofre de TAB, faça a sua parte.


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Transtorno Bipolar e Razões Para o Otimismo, deJosé Luís
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Texto revisado e republicado especialmente para o aniversário de 1 ano do Mastigando Estrelas.