domingo, 14 de agosto de 2011

O Morro dos Ventos Uivantes e Freud


Esta aí um livro que bem valeria por metade dos livros deste mundo! Exagero? Talvez...

Pense, antes de tudo, em Heathcliff, Catherine e Edgar. Sei que a história tem muitos outros personagens, mas você entenderá toda a história basicamente através desses três. Se pensarmos em Freud, Heathcliff representa o id, Catherine o ego e Edgar, o superego.

Se o id fosse personificado, seria aquela pessoa que faz tudo o que quer, agindo segundo seus impulsos, ou melhor, segundo seus instintos. À semelhança dos animais...

Já o superego, se fosse personificado, seria aquela pessoa que age de maneira oposta, isto é, segundo as regras, o que é correto ou recomendável. Id e superego são dois opostos...

O ego às vezes fica que nem cego em tiroteio, perdido entre o id e o superego, porque sempre está tentando satisfazer ao id e, ao mesmo tempo, não desagradar ao superego! Se o ego fosse personificado, ele seria aquela pessoa que procura evitar conflitos, tentando adequadar-se às circunstâncias. Mas também acontece que o ego pode aproximar-se do id, dos instintos, afastando-se do superego... e vice-versa. Isso me lembra muito a Filosofia de Platão, mas aí já deixamos de falar em Psicanálise para falar de Filosofia! Continuemos com Freud...

Seja como for, imagine que Heathcliff é o id, Catherine o ego e Edgar, o superego. Veja que Catherine procura adaptar-se às circunstâncias, escolhendo o que é melhor para ela. Mas Heathcliff é um animal (no bom sentido, é claro! esse personagem é incrível...), veja que Heathcliff vai até o fim para satisfazer a seus desejos... Ele é tipo o Edmundo, só que do mundo da Literatura!

Já Edgar lembra bastante o superego, especialmente quando não reage a Heathcliff em determinado momento da trama, mesmo tendo motivos para reagir, e assim continua obediente ao superego.

Note que Catherine se move entre os outros dois, a única que realmente parece oscilar, a que menos bate de frente... a que mais se adapta. Heathcliff e Edgar não são personagens, mas sentimentos de Catherine que foram personificados em outros personagens, isto é, Catherine, Heathcliff e Edgar são um só indivíduo... Desse modo, agora voltando a lembrar que eles são personagens de uma trama, não há dúvidas de que Catherine é a protagonista, porque é ela quem vive conflitos... (Lembremos que Cathy é uma continuação de Catherine, e é justamente Cathy quem acaba conseguindo conciliar id e superego. Acabado o conflito entre id e superego, portanto, não é à toa que a história chega ao fim...)

Você já viu em desenho animado alguém em dúvida, até que aparece um diabinho para tentar e um anjo para aconselhar o que é certo? O diabinho (o id), o anjo (o superego) e a pessoa em dúvida/em conflito (o ego) são um só! Esses conflitos estão dentro de nós e, não, fora. Mostrá-los fora de nós é um modo, um recurso bastante primitivo (especialmente em Teatro) de revelá-los ao público. Mas, ainda que esse recurso seja primitivo, nada impede que ele continue sendo usado, desde que se queira esmiuçar ao máximo cada elemento/sentimento/vontade que constitui o conflito. Assim, tudo fica mais visível, literalmente mais palpável para quem acompanha a história...

Sobre o livro O Morro dos Ventos Uivantes (e não os filmes que existem), ele é do século XIX. Não tem aqueles recursos dos best-sellers modernos que tanto facilitam a leitura, mas ainda assim vale a pena arriscar uma leitura. Há vários adolescentes de nossos dias que leram este romance e gostaram bastante, mas bastante mesmo! Talvez seja o seu caso, mesmo que você, a esta altura, já não seja adolescente...

Ao ler a história, ainda falando de Freud, pergunte-se até onde Heathcliff pode ter laços de sangue com Catherine, já que ele fora trazido pelo pai dela... Dependendo de suas respostas, nós nos aproximaremos uma vez mais do conflito que pode haver entre id e superego, além de outras questões freudianas, é claro!

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