quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Como identificar alguém que sofre de TAB SOE?

Já falamos em postagens anteriores sobre bipolares do tipo I e II, isto é, já falamos sobre fases de depressão, mania, hipomania e fases mistas.

Mas nem sempre essas fases são especificadas, claras ou definidas. No "transtorno bipolar SOE", as fases não apresentam o número mínimo de sintomas exigidos ou, apresentando-os, não duram o tempo mínimo exigido.

Uma fase de mania pode durar menos de uma semana, de modo que não poderia ser classificada como um “episódio de mania”. Porque o tempo mínimo exigido, para tal episódio, é de uma semana. Como a única diferença entre mania e hipomania não é a duração, tampouco poderíamos dizer que houve um “episódio de hipomania”.

Na hipomania, por exemplo, não há delírio ou alucinação. Sendo assim, uma elevação do humor acentuada, com a presença de delírio ou alucinação, não poderia caracterizar a hipomania, mesmo que durasse 4 dias.

O mesmo acontece com as fases de depressão e as fases mistas.

O transtorno bipolar SOE é mais comum em adolescentes que em adultos. A maioria dos adolescentes se encontra dentro do espectro bipolar, isto é, sofre de transtorno bipolar SOE ou ciclotimia.

Tenha em mente, agora, que tudo o que foi dito nas 5 primeiras postagens desta série se refere especialmente a bipolares adultos. No transtorno bipolar na infância e adolescência (TAB-IA), tudo pode ser muito diferente. O que é típico em bipolares adultos costuma ser atípico em crianças e adolescentes.

No TAB-IA, sintomatologia mista e ciclos rápidos são típicos. Em crianças, entretanto, não observamos ciclos (fases longas, bem definidas, que se alternam). Em adolescentes, já podemos observar esses ciclos, ainda que geralmente não sejam bem definidos e costumem apresentar sintomatologia mista.

Os adolescentes bipolares que chegam à idade adulta costumam apresentar fases mais definidas ou claras, e a sintomatologia mista não raro dá lugar a fases definidas de depressão e de mania.




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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Como identificar um bipolar do tipo misto?

O transtorno bipolar do tipo misto, também classificado como tipo I, apresenta fases mistas, com sintomas de depressão que se mesclam ou se alternam rapidamente com os de euforia.

O que poucos sabem é que as fases mistas podem se manifestar de mais de um modo.  Na fase mista estável, os sintomas de euforia e de depressão aparecem ao mesmo tempo ou praticamente ao mesmo tempo, o que é muito curioso. Já na fase mista instável, os sintomas de euforia e de depressão se alteram rapidamente, o que tampouco deixa de chamar a atenção.

Mas o que significam “euforia e depressão ao mesmo tempo ou praticamente ao mesmo tempo”?

O bipolar, neste caso, pode apresentar a agitação motora e mental de uma fase de humor elevado e, ao mesmo, tempo expressar sentimentos de falta de esperança, de culpa ou de baixa autoestima, como numa fase de humor deprimido. Ele também pode estar eufórico agora e, literalmente 5 minutos depois, estar deprimido, chorando.

Agora, o que se significam “sintomas de depressão e de euforia que se alternam rapidamente”?

O bipolar, por exemplo, pode apresentar sentimentos de culpa, baixa autoestima, apatia, vontade de se isolar ou “desaparecer”, mas, horas depois, no mesmo dia, ele está eufórico, vai a uma festa e se diverte!  Dizemos, nesse caso, que os sintomas de depressão e de euforia se alternaram rapidamente, isto é, no mesmo dia ou num período de horas.

A fase mista deve durar pelo menos uma semana, acontecendo todos os dias ou quase todos os dias, na maior parte do tempo.

Um bipolar do tipo misto nem sempre teve ou terá, necessariamente, apenas fases mistas. Provavelmente um bipolar adulto do tipo misto já teve fases anteriores de depressão ou de mania.

O mais comum, em bipolares adultos, é que uma fase de mania evolua para uma mista, e que uma mista evolua para uma depressiva.


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sábado, 18 de fevereiro de 2012

Transtorno Bipolar: Como agir em público?

Há bipolares em número que suficiente para que eles mesmos derrubem qualquer mito sobre o TAB ou estigma.

O que acontece é que muitos bipolares optam por não tornar público o seu diagnóstico e, por isso, nem sempre seguem publicamente blogs que abordam o tema. Obviamente, um bipolar tem muitos motivos para não alardear por aí o diagnóstico, como o medo de sofrer preconceito ou ser visto de maneira estereotipada. Mas este silêncio permite que pessoas desinformadas falem a respeito do TAB, difundindo informações tortas, criando uma imagem pública do bipolar que não corresponde à realidade. Muitas pessoas, ainda que o façam de bom coração, acabam divulgando falsas verdades, simplesmente porque tentam explicar a terceiros o que é ser bipolar, repassando adiante explicações ouvidas aqui e ali, mas que não são corretas...

Muitas pessoas, ingenuamente, creem que ser bipolar é estar triste num momento e alegre no outro, coisa que acontece com qualquer indivíduo que tenha sentimentos. Daí a impossibiliade da maioria da população em entender as fases de euforia e de depressão pelas quais o bipolar passa. Quase ninguém as vê como crises, de modo que quase ninguém compreende a gravidade delas. Poucas pessoas “aceitam” que depressão não é tristeza, mas uma enfermidade, e que euforia não é um simples sentimento de alegria, mas uma elevação do humor que pode ser perigosa e que também merece o devido tratamento...

Outra ideia ainda muito difundida é a de que bipolares são perigosos ou mais violentos que a média das pessoas. Há um excelente estudo de Oxford que desmente esse mito que nasceu da falta de informação ou do preconceito. As conclusões desse maravilhoso estudo, você as encontra AQUI, neste blog. Leia a postagem, alegre-se com ela, imprima-a e repasse-a a familiares e amigos. Ajude a diminuir a falta de informação sobre o TAB...

Se você é bipolar ou está apoiando alguém querido que o seja, não pense duas vezes. Divulgue as conclusões desse estudo como puder. Faça-as circular. Se há tanta gente divulgando informações tortas e propagando preconceitos sobre o TAB, por que justamente você não poderia divulgar informações corretas, vindas de fontes seguras? Se você é bipolar, não deixe que falem mal de você pelas suas costas. Se você está apoiando alguém querido, tampouco deixe que falem mal dele pelas costas... Tome você também a palavra. Não se cale se justamente você está mais informado que os outros. Acredite em mim, não é preciso saber muito para estar mais informado sobre o TAB que a maioria das pessoas!

Contra-ataque. Você é o único que pode reduzir o estigma. Não espere que as pessoas leigas tomem essa iniciativa. Siga páginas que abordem o tema de maneira séria, visite-as regularmente, espalhe informações corretas sobre o TAB, diminua o estigma.

Imagine que você pode fazer a diferença. Imagine que milhares e milhares de bipolares, familiares ou amigos de bipolares, podem ter pequeninas atitudes que, somadas, darão um grande resultado.

Mas o que exatamente você poderia fazer?

Primeiramente, não se sinta diminuído. Além do que eu disse acima, procure fazer parte de comunidades sérias sobre o assunto, em redes sociais, mostrando que há muita gente apoiando essa causa. Tampouco deixe de falar quando você puder esclarecer algo. Ficar calado é deixar que os outros falem por você. Não dê esse direito a outras pessoas se elas não sabem colocar-se bem quando o tema é o TAB.

Se você não é bipolar, mas está apoiando alguém que sofre de TAB, faça o mesmo; aclare as coisas sempre que surgir a oportunidade ou for conveniente. Você não precisa fazer nada excepcional. Basta dizer o que você sabe sobre o assunto, mesmo que seja pouco, desfazendo ideias tortas, derrubando mitos, mostrando que o estereótipo do bipolar não corresponde à realidade...

Você não precisa que todos lhe deem razão ou queiram escutá-lo. É suficiente que algumas pessoas lhe deem crédito ou o escutem. Se alguém realmente acredita em ideias falsas sobre o TAB, basta mostrar que há quem discorde. Não é preciso iniciar um bate-boca.  Simplesmente mostre que há quem discorde e procure desfazer qualquer mito sobre o TAB, sempre na medida do possível. Afinal, ninguém faz o que não pode. Mas não deixe de agir quando a oportunidade surgir. Certamente haverá oportunidades e você poderá agir.

Creia. Você pode fazer muito através de pequenos gestos. Você não precisa, não deveria esperar que alguém faça algo quando você mesmo pode fazer alguma coisa. Mesmo que você decida manter segredo sobre o seu diagnóstico ou o de seus entes queridos, você ainda pode falar sobre o TAB a terceiros, esclarecendo falsas ideias que circulam por aí. Pense nisso. Se você é bipolar ou está apoiando um ente querido que sofre de TAB, faça a sua parte.


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Transtorno Bipolar e Razões Para o Otimismo, deJosé Luís
Pessoas próximas sabem que sou bipolar



 
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Texto revisado e republicado especialmente para o aniversário de 1 ano do Mastigando Estrelas.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Como identificar um ciclotímico?

Talvez você se pergunte por que falaríamos de ciclotimia se, a rigor, queremos identificar um bipolar. A resposta é simples. A ciclotimia, embora classificada como doença à parte, está dentro do espectro bipolar, ou seja, na prática é um tipo de transtorno bipolar mais leve.

Na postagem anterior, falamos sobre hipomania, que é uma espécie de mania mais branda, menos visível, geralmente percebida apenas por pessoas próximas, que já conheçam o humor normal do indivíduo.

Na ciclotimia, não chega a haver uma fase de hipomania como no transtorno bipolar do tipo II. As fases de hipomania e de depressão, na ciclotimia, tendem a durar 4 dias ou menos; não são tão prolongadas ou tão graves. Os períodos de vida normal são curtos; não duram mais que 2 meses aproximadamente. O humor varia mais, isto é, espere ver várias fases de hipomania e de depressão.

A depressão na ciclotimia é leve ou moderada; não chega a ser o tipo mais grave, chamado “depressão maior”.

No transtorno bipolar, os períodos de vida normal podem durar muito mais, meses ou até mesmo anos, ainda que nem sempre haja um período de vida normal entre as fases.

Entre o transtorno bipolar e a ciclotimia há uma linha tênue, especialmente se estamos falando de bipolares do tipo II.

Além do mais, não raro, o diagnóstico de ciclotimia pode mudar para o de transtorno bipolar, ou sintomas de transtorno bipolar podem vir antes que se possa confirmar o diagnóstico de ciclotimia. Não é raro que um ciclotímico tenha algum familiar com transtorno bipolar do tipo I. Daí, vemos melhor a relação entre ambos os transtornos.

Na ciclotimia, façamos esta ressalva, não há necessariamente hipomania e depressão, porque também pode haver hipomania e distimia, que é uma espécie de depressão mais leve. Também é possível que não haja mais que uma ou outra fase de hipomania. Seja como for, para que tenhamos o exemplo de ciclotimia mais notável possível, tenha em mente várias fases de “humor elevado” e de “humor deprimido”, que duram geralmente poucos dias ou não são graves, com períodos curtos de vida normal, verificadas ao longo de pelo menos dois anos.

Obviamente, você perceberá mais facilmente as fases de humor deprimido se elas forem de depressão em vez de distimia.


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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Como identificar um bipolar do tipo II?

Já falamos em outra postagem sobre como reconhecer um bipolar do tipo I. Hoje falaremos sobre como reconhecer um do tipo II, que deve apresentar, necessariamente, pelo menos uma fase de hipomania e uma de depressão.

Mas por que exatamente um bipolar do tipo II seria mais difícil de identificar? A resposta consiste, basicamente, em que as fases de hipomania são menos notáveis que as de mania.

A hipomania é um tipo de mania mais leve, menos notável. Uma pessoa que, geralmente, já seja bem-humorada e bem-disposta, ativa ou enérgica, faladora e impulsiva, poderia passar por uma crise de hipomania sem chamar muita atenção. Por outro lado, alguém que geralmente seja tímido ou retraído, pouco falante e apático, mudaria de comportamento de um modo mais perceptível aos demais numa fase de hipomania. De modo geral, quem percebe a hipomania são pessoas muito próximas, como amigos e familiares. Uma pessoa estranha provavelmente não notaria nada de excepcional, já que não teria um ponto de referência. É preciso comparar a hipomania com períodos de vida normal do paciente para que vejamos algo mais claramente.

E aqui chegamos a um ponto importante. É a fase de hipomania que confirma o diagnóstico de transtorno bipolar do tipo II. Daí que um bipolar do tipo II, de modo geral, é menos “visível” aos olhos de seus amigos e familiares e praticamente invisível aos olhos de estranhos. Além do mais, uma fase hipomaníaca deve durar pelo menos 4 dias, ainda que possa se estender por semanas ou meses.

Se um amigo ou familiar parece estar passando por um período de humor elevado, procure anotar numa caderneta os dias em que você percebe alguma elevação do humor e procure anotar resumidamente o que ele faz de atípico durante esse período, isto é, o que ele não costumava fazer ou nunca havia feito. Procure assinalar os horários também. Não se preocupe se você, no momento, não puder refletir sobre o que você observa. O importante é que, guardada essa caderneta com essas anotações, você tenha material para refletir mais tarde, quando adquirir mais conhecimento sobre o tema. Também é um modo de se lembrar desses fatos depois, se você tiver que relatá-los a um profissional da área. Lembre-se, entretanto, de anotar antes de tudo os fatos e, não, suas impressões dos fatos! Isso fará uma grande diferença. Um profissional da área desejará, antes de tudo, fatos para analisar.

Mas o que seria atípico? Irritação ou bom-humor excessivo, falar demais, mudar de um assunto para outro numa conversa sem concluir o anterior ou não se fixar em nenhum, libido alta, distrair-se facilmente com o que está ao redor, etc. são comportamentos observáveis num humor elevado, seja mania, seja hipomania.

Mas, na prática, qual é a diferença entre mania e hipomania? Antigamente, poderíamos dizer que a presença de delírio e alucinação era o que fazia uma boa diferença entre elas. Mas hoje, porque podemos falar em “mania com psicose” e em “mania sem psicose”, esse já não é um bom “critério de desempate”. Grosso modo, hoje podemos dizer que a hipomania é mais leve, menos intensa ou menos perceptível e não apresenta delírio ou alucinação.

Seja como for, sua primeira dúvida deve ser a presença ou não de “humor elevado”. O simples fato de você ser o primeiro a perceber os sintomas de um transtorno bipolar já será uma façanha!

Cuidado, entretanto, para não atribuir o humor elevado ao uso de álcool ou drogas, por exemplo. Ninguém fica bêbado ou drogado tanto tempo assim, na maior parte do tempo, durante dias, semanas ou meses.

O que poderia excluir a possibilidade de o humor elevado ou deprimido ter sido causado por transtorno bipolar seria o uso de algum remédio, substância ou a presença de alguma lesão física que causasse efeitos iguais, certas enfermidades semelhantes que excluem o diagnóstico de TAB, etc.

Um bipolar do tipo II, obviamente, pode vir a ser um bipolar do tipo I se vier a apresentar fases de mania, por exemplo.

Um bipolar do tipo II, porque a hipomania é menos perceptível que a mania, pode receber mais facilmente o diagnóstico de "transtorno depressivo" se apenas as fases de depressão forem "vistas". Além do mais, a hipomania nem sempre é relatada ou vista como algo errado pelo paciente ou por pessoas próximas, já que nela o paciente costuma se sentir bem. Muitos depressivos, na verdade, são bipolares.

Por fim, vale lembrar, também há aqueles bipolares que só passam por fases de hipomania. Mas neste último caso, mais facilmente, o transtorno bipolar pode ser confundido com personalidade querelante ou hipertimia.


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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Como identificar um bipolar?

Comecemos com um bipolar do tipo I, mas aquele que passa necessariamente por fases de mania e de depressão e períodos de vida normal.

Imagine que alguém experimente: 1) uma fase de humor elevado que dure pelo menos uma semana, podendo durar meses; 2) uma fase de humor deprimido que dure ao menos duas semanas, podendo durar vários meses; e 3) um período de vida normal entre essas fases, isto é, um período em que o humor não esteja elevado ou deprimido.

Basta que 1 e 2 aconteçam uma única vez, mesmo que entre 1 e 2 haja um período de vida normal de muitos anos, para caracterizar um transtorno bipolar. Mas quem notaria essas fases? Quem, percebendo-as, não buscaria justificativas para elas, como o fim de um casamento ou uma promoção no emprego? Quem ligaria uma à outra, especialmente se houvesse um bom intervalo de meses ou anos entre elas?

Além do mais, o humor elevado ou deprimido precisa de uma referência para que seja melhor apreciado. Os períodos de vida normal entre uma fase e outra são uma boa referência. O período de vida anterior ao aparecimento dos primeiros sintomas é ainda melhor, porque entre uma fase e outra pode haver alguns sintomas leves ou flutuantes.

Mas o que significa “humor elevado”? Vejamos um bom exemplo prático. Imagine uma garota tímida, medrosa ou que nunca se excede com homens ou bebida. Não seria estranho se ela começasse a ser muito desinibida, “corajosa” ou atrevida em situações em que, antes, não agia assim? Tampouco não seria estranho se este comportamento durasse uma semana ou mais, acabando depois? Provavelmente você encontraria justificativas corriqueiras para esse comportamento dela, mas realmente haveria essas justificativas? Como eu disse, ao “avaliar” alguém procure se lembrar de seus períodos de “humor elevado”, que talvez estejam afastados, no tempo, de seus períodos de “humor deprimido”.

Tenha em mente, além do mais, que “humor elevado” pode envolver não só bom-humor exagerado e excesso de energia, mas também irritação, dificuldade de concentração, distração fácil com o que acontece em volta, etc.

Mas como identificar o “humor deprimido” nessa garota tímida, medrosa, que nunca se excede? Como eu disse, leve em conta períodos de “vida normal” para que você tenha um ponto de referência. Ser tímida, para uma garota tímida, é normal. Fugir disso para muito mais ou para muito menos, durante um período considerável de tempo e depois voltar “ao normal”, já seria digno de nota. Por que o humor elevado ou deprimido duraria semanas ou meses, manifestando-se todos os dias ou quase, na maior parte do tempo, sumindo depois?

No humor deprimido, não procure apenas tristeza, mas também isolamento social; ideias relacionadas à morte, não necessariamente suicídio; ansiedade; sintomas físicos, como dores ou doenças, dos quais a pessoa observada não se queixava antes; etc.

Tanto no humor elevado como no deprimido, procure observar alterações no apetite, no sono. Pergunte-se o que muda na vida afetiva, social e sexual dessa pessoa quando você nota o humor elevado e o humor deprimido. A autoestima aumenta? Diminui?

Se identificarmos esses três períodos (de “humor elevado”, de “humor deprimido” e de “vida normal”), poderíamos nos perguntar sobre um diagnóstico de transtorno bipolar. Mesmo assim, ainda haveria muito para levar em conta. Duração e intensidade das fases, consequências na vida do paciente, ausência de certas outras enfermidades, etc. são pontos chave para dizermos se essas alterações de humor podem ser transtorno bipolar ou não. Porque nem toda variação de humor é enfermidade, e nem toda enfermidade caracterizada por variações de humor é transtorno bipolar.

Ainda assim, entre uma fase e outra, não há necessariamente períodos de vida normal. Para não falar de bipolares do tipo I que só experimentam fases de euforia. Neste último caso, já não veríamos períodos de humor deprimido. Nem todos os bipolares passam por crises de depressão.

Para terminar, devo ressaltar que neste exemplo estivemos falando de “humor elevado” ou “euforia” como sendo, necessariamente, uma fase de mania, para que este exemplo de bipolar fosse o mais fácil possível de identificar.

Ainda assim, mesmo escolhendo um exemplo mais “fácil”, devemos lembrar que as comorbidades não são nenhuma raridade no transtorno bipolar, e a realidade costuma ser bem mais complexa que este exemplo simples.

As comorbidades, para entendermos isto melhor, são doenças que aparecem ao mesmo tempo que outras, sem que um diagnóstico exclua o outro. Daí que, se um bipolar também sofre de TDAH, sobram poucos sintomas que só dizem respeito ao transtorno bipolar propriamente. Porque muitos sintomas de ambas as doenças são iguais. Em outras palavras, não seria impossível “enxergarmos” só o TDAH ao olharmos “distraidamente” para um bipolar que tivesse o TDAH como comorbidade.

No caso de bipolares do tipo II (agora estamos falando de fases de hipomania e de depressão), os períodos de “humor elevado” seriam menos notáveis, menos “visíveis”. E nem começamos a falar de TAB SOE, aquele em que os episódios são inespecificados, isto é, não se manifestam tão claramente, seja com respeito à duração, seja com respeito à presença de todos os sintomas.

Ainda que nem todas as variações de humor caracterizem uma doença, há variações de humor sutis capazes de caracterizar o transtorno bipolar ou outra enfermidade.

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