quinta-feira, 31 de março de 2011

Por que alguns blogs são mais visitados que outros

Por quê? É o que tentarei responder...


Mecanismos de busca do Google

Imagine que é 7 de Setembro. Haverá milhares de estudantes pesquisando sobre o assunto na Internet. Se você publicou um post chamado 7 de Setembro, provavelmente uma boa parte desses alunos verá o título de seu post na Net ao pesquisar no Google. E fatalmente muitos deles clicarão no link que os levará ao blog. Desse modo, você terá conseguido muitos acessos. Isso, obviamente, não terá nada a ver com a qualidade do post. Explico:

Os alunos não sabem o que vão encontrar antes de clicarem no link que leva ao blog. Eles simplesmente ignoram o que há do outro lado do link, essa porta virtual que muitas vezes dá para mundos desconhecidos, oh! Eles simplesmente clicam para ver do que se trata. E aí é que está. Não importa se o aluno leu 100% ou 0,1% do post, se ele gostou ou não do post, o fato é que seu contador de acessos se moverá uma casa.

Não importa se o visitante ficou 1 segundo ou 1 hora no blog, o que importa é que o contador de acessos, num caso e outro, se moverá exatamente da mesma maneira, isto é, se moverá uma casa...

Obviamente, isso não acontece apenas a respeito de pesquisas escolares. Todos os posts, não importa de que assunto tratem, estão sujeitos a essa mesma lei dos títulos genéricos... Sim, sim; chamemo-la lei dos títulos genéricos.


Qualidade dos posts

Pode ser que o visitante tenha gostado do post, pode ser que tenha odiado. Mas cada visita faz com que as estatísticas do blog marquem uma visita a mais. Pode ser que o visitante tenha lido apenas o título ou a primeria linha do post, pode ser que ele tenha lido 100% do post, mas, para fins de estatísticas, você recebeu uma visita em ambos os casos.

Creio que a melhor maneira de saber se o post realmente agradou seja através dos comentários, do número de seguidores, isto é, de pessoas que demonstram o que sentiram ao ler o post ou que voltam ao blog com um mínimo de frequência. Os comentários e os seguidores, portanto, me parecem os melhores indicadores da qualidade do blog.

É claro que seu blog pode estar no início e ter poucos seguidores. É claro que o tema de seu blog pode estar dirigido a um público pequeno ou minúsculo. É claro que você pode ter escrito coisas excelentes sem que outras pessoas tenham tido a oportunidade de ler seus posts. Mas, uma vez que pelo menos algumas pessoas tenham lido o que você escreveu, você já terá uma ideia da opinião delas sobre seu blog.

Vejamos o que acontece com sites que publicam poemas. Você clica no poema do mês, o que teve mais acessos nos últimos 30 dias. E aí você descobre que ele tem 1.500 acessos e 1 comentário, ou nenhum. Enquanto isso, você lê poemas que tiveram 30 acessos e 15 comentários! Não é, no mínimo, curioso?

Se você visita esses sites de poesia, notará que os poemas mais visitados costumam ter aqueles títulos genéricos, isto é, eles obedecem à lei dos títulos genéricos. E, se há exceções, é só para confirmar a regra, é claro!

Não estou dizendo, entretanto, que o título genérico apaga a qualidade de um post de qualidade! O que estou dizendo é que título genérico dá visibilidade a qualquer post, tenha ele qualidade ou não.


Títulos dos posts 

Títulos genéricos como 7 de Setembro, etc., são muito procurados em sites de busca como o Google. Sendo assim, quanto mais genérico for o título da postagem, mais possíveis cliques ela receberá.

Imagine dois posts exatamente iguais, um xérox do outro, mas com títulos diferentes. O título mais genérico atrairá mais acessos de pessoas desconhecidas, que estejam pesquisando no Google. Sendo assim, se você escreveu um post sobre relacionamentos humanos chamado Amizade, ele terá muito mais acessos do que teria se o título fosse relações interpessoais.

Veja um exemplo meu. Quem diabos estará pesquisando "Fukushima é aqui, Fukushima não é aqui"? Provavelmente ninguém! Mas por que diabos eu publiquei um post com esse título? Opções: 1) Sou louco; 2) Só me preocupo com texto do post e, não, com o título; 3) Gosto de títulos originais; 4) Não me preocupo com as pesquisas do Google; 5) Me preocupo antes de tudo com os leitores que já acompanham o Mastigando Estrelas; 6) Escrevo o que quero, como quero e não desejo ser um genérico.

Você escolhe. Eu ainda estou escolhendo...


Cada blog é um mistério

Se você navega na Net, navegando por blogs nunca de antes navegados, você não terá tempo para ler os 112 milhões de blogs que há no mundo. Isso significa que você quer os melhores. Mas... quais sãos os melhores? A não ser que você visite/leia cada um dos 112 milhões de blogs que há mundo, e os compare, você nunca saberá.

Provavelmente você clicará no link que lhe parecer mais interessante, ou mais oportuno.

Tudo fica diferente, é claro, quando você visita um blog por indicação de amigos, ou quando retorna a um blog já conhecido; já visitado por você anteriormente.


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quarta-feira, 30 de março de 2011

Transtorno Bipolar e Livre-arbítrio

TEXTO DO BLOG DO WILL, O BIPOLAR BRASIL

Relato - Acho que ele é bipolar, mas não quer se tratar...

Podem me chamar de lindinha. Vou contar minha história...

(...)


COMENTÁRIO
(Leia o relato no blog do Will para que você possa entender o comentário.)

Li o relato da Lindinha e o comentário da Calita. Pois bem! Concordo com a Calita em gênero, número e grau. Também entendo o desespero da Lindinha.

Segundo o relato da Lindinha, não me parece ter havido um diagnóstico para TBH. (O TBH seria uma suspeita dela.) O diagnóstico dado por um profissional parece ter sido para depressão psicótica (estamos falando de depressão maior e de maiores probabilidades de suicídio). Pois, como disse a Lindinha, ele foi diagnosticado com depressão unipolar tem crise de psicose como se fossem 2 deles um amigo imaginário. Seja como for, imaginemos que o noivo dela padeça de um distúrbio mental qualquer, não necessariamente TBH. Agora, sim, podemos chegar aonde eu queria.

Se ele está em crise, ou melhor, se ele põe sua própria vida ou a de outrem em risco, isso significa que ele precisa de internação. Nesse caso, não cabe a ele decidir. Porque infelizmente, nesses casos, ele não pode exercer seu livre-arbítrio. Outra pessoa terá que decidir por ele em caráter de emergência.

Podemos concordar de antemão que uma pessoa é livre para fazer o quiser com a própria vida, desde que não se disponha a cometer suicídio, por exemplo. Explico:

Se ela toma a decisão de se suicidar quando não é capaz de exercer seu livre-arbítrio plenamente, isso significa que a decisão não será inteiramente dela. Atentar contra a própria vida pode acontecer durante uma crise depressiva. Pôr a própria existência em risco, sem medir as consequências, pode acontecer durante uma crise de mania. Em ambos os casos, se a pessoa chega a falecer, não haverá o momento seguinte, aquele em que a pessoa recobra 100% de seu livre-arbítrio para avaliar claramente o que fez.

Entretanto, desde que o noivo da Lindinha possa decidir livremente, ele não deve ser obrigado a se tratar, mesmo que o tratamento seja para o bem dele. Se uma pessoa é capaz de exercer seu livre-arbítrio, ainda que momentaneamente, ela deve exercê-lo.

Sendo assim, o que a Lindinha pode fazer por seu noivo se ela não pode obrigá-lo a se tratar? Muitas coisas...

Nos melhores momentos de seu noivo, ela pode lhe mostrar o que ele perde ou deixa de ganhar sem tratamento. Uma boa alternativa é contar histórias parecidas, de pessoas que se encontravam na mesma situação, revelando o que aconteceu com elas sem tratamento, com tratamento, etc.

A Lindinha também deve conversar com a família dele, com amigos, etc., de modo que esse esforço seja levado a cabo por todos aqueles que constituam o círculo social do rapaz. Seria muito prático que ela começasse a manter contato com a família de seu noivo, por carta, MSN, telefone, etc., se acaso já não tenha tomado essa iniciativa. 

Filmes e histórias de ficção a respeito do TBH também ajudarão bastante, especialmente se o noivo da Lindinha se identificar com o protagonista, desde que este padeça do mesmo distúrbio ou de distúrbio semelhante. Este último tipo de história costuma ser mais eficiente, porque é capaz de comover. Raramente alguém toma uma decisão 100% fria, sem que seja influenciado pela emoção. Muitas de nossas decisões racionais, no fundo, são emotivas! Não será diferente com o noivo da Lindinha, seja ele bipolar, seja ele esquizofrênico, seja ele depressivo...


A Atitude da Lindinha

Sobre a suspeita da Lindinha de que seu noivo seja bipolar, direi algumas coisas.

Obviamente, ela não precisa estar certa de que ele seja bipolar para que possa encaminhá-lo a um profissional. Não é função dela fazer o diagnóstico correto! Essa função cabe aos profissionais competentes.

A função da Lindinha, devo dizer, é exatamente o que ela está fazendo, isto é, procurando se informar sobre o assunto, buscando incentivar o noivo a se tratar, etc. E isso ela está fazendo muito bem!

Sobre a depressão de seu noivo, especialmente se esse diagnóstico é antigo, poderíamos nos perguntar se houve novos episódios, novas crises, e se esses episódios continuam sendo classificados como depressão.

Segundo podemos entender do relato da Lindinha, ao menos um episódio foi classificado como depressivo por um profissional. Mas o que dizer dos episódios seguintes, se acaso eles realmente tenham existido? (Provavelmente existiram ou vão existir, porque ele está sem tratamento!)

Há elementos suficientes no relato da Lindinha para falarmos num possível episódio de mania. Entretanto, estamos nos baseando no relato dela. Se um profissional pode se equivocar, um leigo, sozinho, também pode e mais facilmente ainda! Devemos lembrar que quem interpretou e selecionou os elementos que constituem o relato da Lindinha foi ela mesma. E, como me parece um relato curto, provavelmente ele foi publicado na íntegra pelo Will; porque ele já publicou relatos bem maiores. Se a Lindinha fosse uma profissional, portanto, já teria reunido elementos suficientes para um diagnóstico. Se ela está em dúvida e pede ajuda, provavelmente é leiga. Neste último caso, o papel dela, como eu disse, é suspeitar e incentivar o noivo a procurar ajuda profissional. E isso ela já está fazendo.

Um bom profissional ouviria a Lindinha perguntando-lhe muitos outros pormenores que não aparecem em seu relato, a duração desses prováveis episódios, etc. Seria necessário, obviamente, analisar o noivo dela. Mas o testemunho da Lindinha, certamente, seria de grande ajuda.


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Transtorno Bipolar

Fukushima é aqui, Fukushima não é aqui

O acidente em Fukushima evoluiu. Ele passou de 4 para 6 na escala que mede a gravidade dos acidentes nucleares.

O acidente com Chernobyl alcançou 7 pontos na escala, que vai até 7. Foi o pior acidente nuclear da História.

Mas fiquemos com Fukushima por enquanto. E façamos mais: tracemos um paralelo entre Fukushima e Angra I. Sendo assim, imaginemos que o mesmo acidente tenha acontecido em Angra. (Sei que até imaginar é horrível, como disse Vieira, mas imaginemos e comparemos... Os trechos em itálico são imaginados.)

A usina de Fukushima está a 60km do centro da cidade de Fukushima.
Angra I está a 15km* do centro de Angra.

A radiação da usina japonesa alcançou uma área de 30km de raio. O centro da cidade está a 30km da área contaminada.
A radiação de Angra I alcançou uma área de 30km de raio. O centro de Angra está dentro da área contaminada.

O governo americano entende que a área contaminada tem 80km de raio. A Inglaterra concorda com o governo dos EUA. Isso significa que a radiação chega até o centro da cidade de Fukushima.
O governo americano entende que a área contaminada tem 80km de raio. A Inglaterra concorda com o governo dos EUA. Isso significa que a radiação chega até o centro de Angra dos Reis e de Paraty. Turistas abandonam essas cidades, viagens de turismo são canceladas.

Há a notícia ou o boato de que a radiação chegou até Tóquio, a 220km de Fukushima. Pessoas abandonam a capital japonesa e rumam para o Sul.
Há a notícia ou o boato de que a radição chegou até São Paulo, a 244km* de Angra. Pessoas abandonam São Paulo. Habitantes do Rio de Janeiro, a 126km* de Angra, também fogem.

Turistas estrangeiros abandonam o Japão.
Turistas estrangeiros abandonam Rio de Janeiro e São Paulo.

Japoneses fazem fila para comprar comida. Não há notícia de saques.
Brasileiros fazem fila para comprar comida. Há notícia de saques (como já aconteceu em outras grandes tragédias brasileiras; usemos o passado para termos uma ideia de como seria o futuro).

Alimentos produzidos na região de Fukushima e a água estão contaminados.
Alimentos produzidos no Sul-Fluminense, leste do estado de São Paulo, regiões próximas e a água ficam impróprios para consumo.

O governo japonês distribui iodo e máscaras à população.
O governo brasileiro distribui iodo e máscaras à população.

E chega de comparações.

___________________
(*) Distância em linha reta. O radiação não viaja pela estrada, fazendo curvas.


Angra I e II: localização e defesa

No caso de evacuar a população dos arredores de Angra I e II, há certas desvantagens. O litoral sul-fluminense é muito recortado. Não se pode avançar em linha reta, senão fazendo inúmeras voltas pela estrada, o que torna a viagem por terra bastante lenta.

As vantagens da localização de Angra I e II são os morros que existem em abundância na região. Eles seriam um bom obstáculo à propagação do material radioativo.

Outra preocupação que os militares tiveram, na época, foi a segurança das usinas em caso de ataque aéreo. A serra, na região, dificultaria um ataque aéreo se este viesse pelo continente. É uma preocupação que não costumamos ter, mas que os militares tiveram. Na década de 70, essa possibilidade era muito maior que agora, se pensarmos na Argentina, que, na década de 80, não receou começar uma guerra com a Inglaterra, que até hoje é uma grande potência militar. Antes dessa guerra (a das Malvinas) o exército argentino era bem mais respeitado ou temido.

E, como eu disse em outro post, até certo tempo atrás o grosso do exército brasileiro estava na fronteira sul. Devo dizer que não era à toa.

Em poucas palavras, é um grande erro pensar nas usinas de Angra sem pensar nos militares ou na época em que elas foram construídas. As preocupações militares de defesa tiveram maior peso que a preocupação em evacuar a população, que, na época, era bem menor. A população total da cidade, na década de 70, era de uns 70 mil. Hoje, 168 mil.


Fukushima não é aqui

Seja como for, não podemos esperar que o Brasil seja uma xérox do Japão caso aconteça um acidente nuclear em Angra. Os demais elementos, que contribuiriam para o drama, são diferentes. Os atores e o cenário não seriam os mesmos...

Nossa Sociologia não é a mesma, isto é, não podemos esperar quer o povo daqui se comporte como o de lá. Nossa Geografia também é diferente, isto é, não podemos esperar tremores de terra tão fortes, nem grandes ondas como aquelas de 10 metros que vimos no Japão. Seria mais provável que enfrentássemos um incêndio nas usinas de Angra que um terremoto ou tsunami. E nossas maiores preocupações, na realidade, são com possíveis incêndios na área das usinas.

Há um quebra-mar à frente do complexo nuclear brasileiro para conter ondas de até 6 metros de altura, e nunca tivemos um tsunami à japonesa... Os quebra-mares que existem no Japão (especialmente aquele à frente da usina de Fukushima) foram projetados para enfrentar ondas de até 8 metros.

O que poderíamos esperar é que um acidente de gravidade 6 acontecesse aqui, como aconteceu lá, e nos preparar para esse possível acidente. Esperar mais que isso, ou melhor, esperar uma xérox nacional do acidente de Fukushima, é ignorar as diferenças que existem entre Japão e Brasil.

Sempre que acontece um acidente nuclear, todos se lembram de Chernobyl. Aconteceu o mesmo com o aciente japonês. Certamente, podemos esperar novos acidentes nucleares em qualquer parte do mundo, mas a pergunta é: Deveríamos esperar o eterno retorno do acidente de Chernobyl?


Nosso Plano de Emergência

Sobre o plano de emergência de Angra, ele funciona desta maneira:

Havendo um acidente, a população que vive numa área de 3km de raio será retirada para uma distância de 5km das usinas. Se necessário, ela será retirada para uma distância de 10km. Se ainda for necessário, será retirada para uma distância de 15km.

A área a desocupar em caso de acidente, depende, obviamente, da gravidade desse acidente. Mas, sempre que ouço falar em desocupação, nunca escuto as autoridades mencionarem uma área superior a 15km de raio. Por quê? A resposta é simples, mas os motivos são complexos:

Uma área superior a 15km significaria a retirada de toda a população do centro e outros bairros populosos de Angra. Seria uma grande retirada! Obviamente, essa grande retirada exigiria meios igualmente grandes...E talvez esse remédio (essa retirada de um grande contingente) fizesse mais mal que bem, gerando o caos...

Podemos esperar que a população do centro de Angra continue sendo orientada a ficar abrigada em casa, fechando portas e adotando outros cuidados, ainda que tenhamos um acidente de gravidade 6, como o de Fukushima, ou 7, como o de Chernobyl.

Aliás, em Fukushima, a área realmente evacuada abrangeu 20km de raio e, não, 30km. Explico: Os habitantes que se encontravam nesses primeiros 20km de raio, foram evacuados. Os que moravam nesta última faixa de 10km, foram orientados a permanecer em casa, abrigados. Só recentemente as autoridades japonesas estão oferecendo ajuda aos moradores que decidam retirar-se desta última faixa de 10km.

Poderíamos esperar o mesmo para o centro de Angra. E é isso o que podemos entender das explicações das autoridades brasileiras ao falar sobre o Plano de Emergência.

Certamente, não podemos esperar que todos obedeçam a essas recomendações em caso de acidente. Muitos agiriam por conta própria, isto é, abandonariam suas casas em vez de permanecerem nelas, e deixariam a cidade. Seria uma espécie de minicaos.

Além do mais, os simulados com as sirenes das usinas de Angra não acontecem no centro da cidade, mas em bairros próximos às usinas. Daí também podemos concluir que os moradores do centro não fazem parte de um plano de retirada. Mas a pergunta é: não fazem parte de tal plano de retirada em hipótese nenhuma?

No centro da cidade, o Plano de Emergência orienta a população a acompanhar instruções pelas rádios locais e pela TV.

Mas, em acidentes como o que houve no Japão, os especialistas recomendam que a área a desocupar deva ser de 75km. Essa área lembra bastante aquela de 80km sugerida pelos EUA a seus cidadãos no Japão. Sendo assim, o que dizer daqueles 20 ou 30km de Fukushima? E o que dizer dos nossos 15km em Angra dos Reis?

Obviamente, evacuar a população do centro de Angra é apenas uma questão e, não, a única. Outras questões, que influem sobre essa, seriam: 1) é possível retirar dezenas de milhares de pessoas da região em tempo hábil? 2) de que meios disporíamos? 3) a BR 101 estará transitável no momento do acidente? não haverá deslizamentos de terra como há às vezes? 4) poderíamos deslocar navios para retirar a população através do porto da cidade, no centro, ou através do terminal da Petrobras, na Ponta Leste? quantos dias ou semanas essa retirada levaria através do mar, por exemplo?

Navios de carga devem esvaziar seus porões antes de receber gente em seu interior, o que significa que atracariam em outro porto antes. De modo geral, navios de carga vão cheios e voltam cheios, nunca ou quase nunca eles vão vazios buscar uma carga. Porque assim, financeiramente, é mais lucrativo. E a operação de descarga (isso mesmo, descarga, descarregamento, download) pode levar dias ou semanas.

Navios de passageiros que estejam perto, igualmente, já estarão levando passageiros. Provavelmente turistas estrangeiros, se estamos falando dos transatlânticos.

Os navios, como sabemos, se deslocam a uma velocidade muito baixa, levam dias ou semanas até que venham de outros portos, em outras cidades ou estados. Portos próximos são os de Santos/SP e Sepetiba/RJ.

Sobre navios da Marinha, não me lembro de nenhum episódio da História do Brasil em que eles tenham transportado 50, 100 mil pessoas durante um período de poucas horas. (Provavelmente ninguém se lembra!) Ainda assim, seriam as embarcações mais aptas a ajudar, especialmente se pensamos nos navios Desembarque-Doca. A base naval mais próxima é a de Mocanguê, junto à ponte RioNiterói. (Há algum militar lendo este post?)

Enfim, retirar dezenas de milhares de pessoas do centro de Angra e arredores, através de navios, é praticamente inviável se levamos em conta o fator tempo. A BR 101 pode estar intransitável devido a um deslizamento de terra, o que não acontece sempre, mas às vezes. No Japão, por exemplo, foi a neve que obstruiu estradas no norte do país. A maior preocupação com a BR 101 não deveria ser o seu estado de conservação, porque ela não será transformada em pista de corrida em caso de acidente nuclear, pelo contrário, o trânsito provavelmente ficaria lento em caso de evacuação da cidade. A grande preocupação deveria ser o livre trânsito da BR 101 em tempo integral.

Há a estrada que leva até Barra Mansa, mas, ainda assim, como transportar tanta gente?

Os habitantes do centro de Angra, obviamente, não poderiam se afastar das usinas indo para oeste, em direção de Paraty pela BR 101, ou estariam rumando para as usinas...


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Angra I, II, III, IV...

sábado, 26 de março de 2011

Meu querido mundo virtual

TEXTO DA JÉSSICA

Meu querido mundo virtual

(...) Me envolvi tanto nesse mundo que o mundo real se tornou um mero detalhe. Eu CRIEI esse mundo, dei grande importância a ele e agora é tarde para tentar reverter. Porém, se eu pudesse voltar atrás, talvez eu fizesse tudo de novo. Sabe por que? Porque mesmo não sendo real é esse o mundo que eu queria pra mim. É como um sonho bom, no qual eu viveria pra sempre se pudesse. (...)


COMENTÁRIO

Um sujeito já disse que as mulheres imaginadas eram melhores que as reais, porque as imaginadas sempre eram como ele queria, mas as reais, às vezes, o decepcionavam.

É claro que o pensamento acima é masculino, mas existem variantes. A variante feminina-adolescente-ser-humano da Jéssica por exemplo. Às vezes as pessoas imaginam que se tornam mais populares através de um blog, que assim os outros riem mais de suas piadas, etc. Na verdade, não nos tornamos mais engraçados. O que acontece é que encontramos mais gente que ri de nossas piadas. Exemplo:

Se você tem 100 amigos e se apenas 1% deles te acha engraçado, provavelmente você se considera uma pessoa sem graça. Porque, de 100 amigos, apenas 1 ri de suas piadas. Definitivamente, você não se sente o Jô Soares. Mas chega o dia em que você começa a publicar um blog e a postar suas piadas "sem graça" nele. As visitas começam a aumentar, seu número de seguidores começa a crescer... até que um dia você tem 1000 seguidores que riem de suas piadas "sem graça". O que aconteceu? Explico:

Na Internet, não estamos limitados a um pequeno grupo de amigos. Há milhões de pessoas no mundo inteiro que têm blogs. São pessoas que riem de suas piadas "sem graça", mas que nunca te conheceriam se você jamais tivesse começado com um blog. Então façamos as contas. Cem mil pessoas passaram por seu blog e apenas 1% delas achou graça em suas piadas e se tornaram seguidores do blog. Tudo mudou? Não! Absolutamente nada mudou. Apenas 1% das pessoas, como antes, acha graça no que você diz. O que acontece é que 1% de 100 é 1. E 1% de 100.000 são 1000!

Ao menos em números relativos, portanto, nada mudou. E suas piadas também não mudaram; são as mesmas. Você inclusive é o mesmo "sem graça" de sempre.

Mas por que isso acontece? Explico:

Se você vive numa cidadezinha do interior (com 10 mil habitantes, por exemplo) e se você tenta discutir Filosofia com todo o mundo, então provavelmente você é o chato da cidade, mesmo que tenha excelentes comentários a fazer, excelentes ideias ou informações sobre o assunto. Porque simplesmente ninguém ou quase ninguém em sua cidadezinha se interessa pelo assunto. Mas ampliemos o seu mundo; alarguemo-lo para 100.000 habitantes. Como isso é possível? Também explico:

Se você escreve um blog, ele não ficará restrito à sua cidadezinha-caixa-de-fósforos. Seu blog poderá ser visto por milhões de pessoas no mundo inteiro. (Obviamente, se você escreve em português, já não poderá contar com a visita de todos os demais blogueiros do mundo. Mas, mesmo assim, você ainda poderá contar com muitos visitantes. Os que falam português, é claro!)

Continuemos refletindo. O assunto de seu blog é de pouco interesse, você fala sobre a vida secreta das baratas, por exemplo. Não importa. Haverá sempre outras pessoas como você, com os mesmos interesses. O que acontece é que elas estão espalhadas por aí, mundo afora, em vez de estarem todas reunidas em sua cidadezinha, discutindo sobre a vida secreta das baratas...

Sendo assim, não somos nós que nos tornamos mais interessantes. Nós já o éramos. (Que fique bem claro: nós já éramos interessantes, engraçados, cativantes, etc.)

O que podemos dizer é que nós nos tornamos mais populares, porque mais pessoas passam a nos ouvir e, o que é melhor, passam a nos escutar com interesse. Talvez elas mesmas, essas outras pessoas, já tenham se sentido também o chato municipal uma vez, porque se interessam por assuntos que pouca gente quer ouvir e porque também vivem isoladas em pequenas cidades.

Eu, por exemplo, não falo o que quero. Falo apenas o que os outros querem ouvir ou me calo. Não posso ter uma conversa agradável sobre Literatura com uma pessoa que não se interessa pelo assunto. Ou me calo ou falamos sobre um tema que seja do interesse dessa outra pessoa.

Um dos temas mais populares do mundo, certamente, é o futebol. Mas, por algum motivo misterioso, não há muitos blogs sobre o assunto por aí... Há exceções, é claro. E boas exceções, graças a Deus.

Mas, quando se trata de um blog, não sou eu quem se adapta. Eu simplesmente digo o que quero e as pessoas (se elas assim o querem) é que se aproximam. Obviamente, se falamos apenas o que queremos, rechaçamos muitas pessoas que não querem nos ouvir. Mas vejamos o lado bom: Só as pessoas que realmente querem nos escutar (ou melhor, nos ler) se aproximam de nós, ou seja, de nosso blog.

E assim separamos o joio do trigo: As pessoas que não se interessam pelo que dizemos, se afastam (o que é desejável) e as que se interessam, se aproximam (o que é igualmente desejável). Obviamente, não podemos agir assim no mundo real, isto é, numa cidade ou em nosso pequeno grupo de amigos. Novamente, explico:

Voltemos àquele exemplo. Se você tem 100 amigos e se apenas 1% deles se interessa realmente pelas coisas que você diz, então você só será capaz de conversar com um único amigo se você só fala o que quer o tempo todo. Quanto aos outros seus 99 amigos, provavelmente você não poderia tê-los. Porque nunca vi ninguém manter amigos se nunca conversa com eles.

Sendo assim, se estamos falando de um mundo real, temos que nos adaptar a ele em maior ou menor grau. Mas, se estamos falando de um mundo imaginário ou virtual, então esse mundo é que se adapta a nós em maior ou menor grau.

Ainda assim, eu diria que há uma diferença entre mundo virtual e imaginário.

Mundo virtual não significa um mundo que não existe. Eu, por exemplo, sou virtual para você que me lê, mas nem por isso deixo de existir. Da minha parte, posso dizer que sou bem real.

Sobre um mundo realmente imaginário, esse sim é 100% à nossa maneira. As pessoas que vivem nele, ou foram inventadas por nós ou são pessoas reais que se comportam como queremos.

A Jéssica também escreveu: "Nesse 'imaginário mundo virtual' eu criei amigos, me tornei popular [engraçada & cativante] (...)". Como eu disse acima, ela já era engraçada e cativante antes de criar seu imaginário mundo virtual. Tornar-se popular veio depois, porque através do blog ela deixou uma pequena comunidade para ganhar o mundo, literalmente.

Em poucas palavras, ela não se tornou popular ao mesmo tempo em que se tornou engraçada e cativante. Estes dois últimos adjetivos ela já possuía. E, por possuir estes dois últimos adjetivos, ela se tornou popular quando começou com o blog. Daí também podemos dizer que, em seu círculo de amigos, colegas, parentes, etc., ela não recebia o devido valor. Às vezes, Deus não nos põe nos melhores lugares e temos que ir para outra parte. Jesus é um bom exemplo, tendo deixado sua cidade no sul, indo para a capital mais ao norte, amaldiçoando um ou outro lugar no caminho (Cafarnaum que o diga!), porque se sentia atirando pérolas aos porcos...

Talvez alguém diga que a Jéssica vive em São Paulo, uma das maiores cidades do mundo. Mas, se São Paulo tem 1000 vezes mais habitantes que uma cidadezinha do interior, isso não significa que os habitantes de Sampa tenham, necessariamente, 1000 vezes mais amigos. Isso tampouco significa que um estudante de Sampa tenha 1000 vezes mais colegas de turma em sua escola paulistana!

É claro que é mais fácil encontrar semelhantes em uma cidade grande e reunir-se com eles lá, mas creio que todos tenham entendido o que procurei dizer com o parágrafo anterior. (Se não entenderam, continuem refletindo...)

Por fim (isto aqui tem que ter um fim, porque já está ficando grande), por fim eu diria que a Jéssica poderia pôr os pés para fora de seu querido mundo virtual, mas vendo bem onde põe os pés. Porque, como todos sabemos, este mundo real tem sua parte boa e sua parte má. E a parte boa, além do mais, nem sempre dura para sempre, mesmo que possa durar bastante ou muito. É como saltar de um barco: primeiro veja se há terra firme onde pôr os pés, senão não salte; espere um pouco mais...


Moral da história: Não atire pérolas aos porcos. Escreva um blog e veja no que dá!


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sexta-feira, 25 de março de 2011

Dois olhos de fotografia

Dois olhos de fotografia
Me olham eternamente
Enquanto mantenho
Diante de mim a moldura.
E chega o tempo
Em que é preciso não olhar.

Há um quê de alma na foto,
Algo que me olha também,
Como se fosse a própria pessoa
Em vez de uma imagem.

Diante de minhas retinas,
Repousam dois olhos claros
Numa face alva,
Tão bela e jovem.
E eu a olhar
O que me olha e não me vê.

E chega o momento
Em que eu não posso mais olhar,
Porque já me vence a foto
Na arte de encarar.

Derrotado,
Procuro guardá-la,
Mantê-la em segredo
Nalgum lugar seguro
Só para outro dia
Ser vencido mais uma vez.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Literatura e Análise Psicológica

TEXTO DO BLOG DA ANA

Psiu!

(...) O mundo está cheio de mortos-vivos, de gente que funciona no modo automático sem ouvir as coisas que pensa, sem levar em conta as suas próprias questões. (...)


COMENTÁRIO

Pois é! Isso é tão comum, e às vezes tão grave, que há pessoas que se desesperam quando têm de ficar sozinhas com seus próprios pensamentos ao menos por um minuto. Para elas, é uma ideia insuportável.

Em poucas palavras, elas se atormentam quando têm de ficar na companhia de si mesmas. Então procuram conversar o tempo todo, falar demais, ligar a TV, ouvir música tão alta quanto possível, deixar-se absorver por alguma atividade, etc. Mas, diferentemente de outras pessoas, elas não fazem isso para buscar entretenimento ou prazer; elas o fazem porque, de outro modo, se afligem, se desesperam, não suportam o silêncio... Mas, por silêncio, entenda-se elas mesmas. Elas mesmas e seus próprios pensamentos, nada mais, ninguém mais...

Essas pessoas simplesmente não podem ouvir os próprios pensamentos ou ver-se diante de alguma pergunta que a mente delas fez e não pôde responder, ou que outra pessoa lhes fez e parece complexa demais...

Geralmente, são pessoas que não conseguem refletir ou desenvolver um pensamento de maneira aprofundada. Suas respostas são simples, geralmente se resumem a uma frase. E uma frase ingênua, se empregamos o adjetivo ingênuo como antônimo de crítico. Causas complexas não existem para essas pessoas. Questões complexas, para essas pessoas, não existem. Quem se atém a questões complexas são os loucos. (Os médicos, os psicólogos, os psicanalistas, todos estes, para aquelas pessoas, são loucos, simplesmente porque refletem e pensam muito sobre um assunto. O curioso é que elas recorrem a esses profissionais ao menos de vez em quando...)

Essas pessoas são quase loucas, porque se privam da realidade ou do entendimento das coisas ao menos parcialmente. Os loucos fazem coisa parecida, mas em maior grau. Porém os loucos (pelo menos os loucos) não podem evitar isso...

Essas pessoas não têm os olhos para dentro; elas procuram se esvaziar internamente, imaterialmente. E como todo corpo precisa de uma alma, de um enchimento, essas pessoas buscam esse preenchimento de algum modo, isto é, buscam uma substituição.

Seja como for, não as condeno. Se elas fogem de si mesmas, deve haver um motivo para isso. Porque a verdade é que ninguém foge de algo que lhe parece bom ou agradável. E ninguém esvazia algo para enchê-lo com outra coisa de valor considerado inferior.

Quem tem vida interior, nunca está sozinho. Mas algumas pessoas, quando se voltam para si mesmas, quando fazem silêncio, parecem lançadas diante de algum deserto ou de alguma visão tão horrível, que elas recuam, fogem ou se desesperam.

O bebedor comum, bebe porque tem prazer com a bebida. O bebedor alcoólatra, bebe porque não tem prazer ou sossego sem a bebida. E aí está toda a diferença.

Quem se ocupa com alguma atividade porque sente prazer com isso, é alguém que se diverte. Mas, quem se ocupa porque de outro modo se desesperaria, é alguém que tem um vício ou não tem outra opção... E fugir de si mesmo é a pior das fugas, porque não leva a lugar nenhum.


Poesia, Literatura em Geral

Mas vamos lá! A Ana falava, antes de tudo, de poesia; não fujamos ao tema.

Poetas psicológicos, que se voltavam para si mesmos, para o seu interior, produziram excelentes poemas. Podemos meniconar Petrarca, Camões, Sá de Miranda... E na Literatura, quanto mais profundo é um texto, mais valor ele tem. A Poesia não foge a essa regra, não pode fugir, e ai dela se fugisse! Porque, do contrário, deixaria de ser Literatura também.

Os poemas que exploram conflitos psicológicos estão no topo da evolução da Poesia.

Textos que se baseiam unicamente em ações externas, têm pouco ou nenhum valor em Literatura. É o que geralmente se chama lixo ou subliteratura. E não, não sou eu quem o diz; é a Crítica Literária, coisa que, no Brasil, praticamente não existe. (Eis aí outra afirmação que não é minha.)

Os textos mais valorizados são aqueles em que há profundida psicológica. Mas, para que haja tal qualidade admirada pela Crítica, as cenas externas (isto é, as ações) devem ceder espaço; e o ritmo também se torna mais lento. É o que acontece em Dom Casmurro, em São Bernardo, por exemplo. Dois romances psicológicos nacionais da melhor espécie. São ricos como as pessoas que têm profundidade psicológica, profundeza de alma, por assim dizer.


Psicanálise versus Psicologia
(Leia o comentário da Ana no post Psiu!, e você vai entender.)

Sobre Psicanálise e Psicologia, eu diria que:

O Psicanalista é como o camponês que olha para um pé de oliva, sacudindo essa árvore até que o maior número possível de azeitonas caia sobre a lona estendida abaixo; e então o psicanalista recolhe aquelas azeitonas que lhe servem, descarta as imprestáveis e faz disso a sua ciência.

O Psicólogo é como o camponês que sobe na escada, para ficar junto aos ramos do pé de oliva; olha, escolhe, e a cada olhada vai seguindo este ou aquele ramo que lhe pareça mais proveitoso, e faz disso a sua ciência.

No primero caso, é a árvore que solta seus frutos; e então o Psicanalista os recolhe e seleciona.

No segundo caso, é o Psicólogo que os seleciona e recolhe ao mesmo tempo.

PS- Você vai lembrar disso toda vez que beber azeite ou comer azeitonas.... E, para que não deixemos de falar de Poesia, esses dois exemplos acima não deixam de ter lá a sua poesia. São quase poéticos, modéstia à parte.

Mudam-se os tempos, de Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Transtorno Bipolar

TEXTO DO BLOG DA ANA

Mais da metade dos bipolares não recebe tratamento

Mapeamento mundial sobre transtorno bipolar mostra que menos da metade dos doentes recebe tratamento.

(...)


COMENTÁRIO

O que é mais impressionante? O bipolar que não sabe que tem o transtorno e por isso não se trata, ou o bipolar que é diagnosticado e decide não se tratar? Antes de opinar, devemos tentar entender o que acontece, penetrar a causa secreta das coisas...

Agora que existe esse excelente estudo para pôr em números quantos bipolares diagnosticados não se tratam, as perguntas a serem respondidas são: 1) por que eles não se tratam quando têm acesso ao tratamento? 2) por que abandonam o tratamento quando podem prosseguir com ele? 3) como fazer com que os bipolares diagnosticados continuem com o tratamento mesmo quando decidem abandoná-lo?

A curto prazo, um bipolar pode se sentir muito bem sem o tratamento, porque não está em crise, mas a longo prazo ele sofrerá bastante porque cedo ou tarde virá uma crise... Do contrário, ou ele não era bipolar e tinha recebido um diagnóstico errado (o que não é impossível nem raro), ou ele curou-se espontaneamente (o que é improvável ou é milagre; mas continuemos falando de Medicina; deixemos os temas religiosos para outro post... Pois bem!).

Sem tratamento, é de esperar que as crises comecem a vir com intervalos cada vez menores entre si, que venham mais fortes, etc. Enfim, que o transtorno "evolua" se um bipolar passa a ter clicagem rápida, se um paciente tipo II recebe o diagnóstico de tipo I, etc.

A grande questão é que não se interna um bipolar a não ser que ele esteja numa crise de mania, por exemplo. A internação é uma medida extrema, mas fundamental para salvar a vida do paciente em certos casos. Todavia, entre uma crise e outra, não se pode nem se deve obrigar o bipolar a se tratar. A decisão deve ser dele. Inteiramente dele. Nesse caso, resta informá-lo e, mais eficiente que informar, "emocioná-lo" com histórias comoventes de pacientes que decidiram não se tratar. Ao final de tudo, a decisão ainda será dele.

Das opções possíveis, "emocionar" é psicologicamente mais eficiente que "informar". Exemplos, na campanha eleitoral política, não faltam. Os políticos, nessa área, têm grande experiência!

Por incrível que pareça, a maioria das pessoas (incluindo não-bipolares) age desta maneira: toma uma decisão emotiva e, só depois, pensa de maneira racional a fim de encontrar uma justificativa para as decisões tomadas de maneira emotiva!

Como mania e depressão são modos de escapar da realidade (por dois caminhos bem diversos, é claro!) um bipolar não pode decidir durante suas crises; mas isso não é tudo. Mesmo não estando em crise, há "sintomas leves", resquícios ou restos que ficam "pairando" entre uma crise e outra. Isso costuma acontecer em 50% do tempo. Sendo assim, mesmo fora das crises, o bipolar pode não estar inteiramente apto a decidir, a não ser que esses resquícios não existam. É complicado? Nem tanto. Se nos lembrarmos que o TAB também já foi chamado de insanidade cíclica, então podemos dizer que ao menos em parte do tempo o bipolar pode decidir o que fazer. E, se ele pode decidir nesses "bons momentos", então ele também pode amenizar ou até evitar aqueles "maus momentos", porque estes costumam nascer daqueles, ou são melhor enfrentados quando o bipolar se prepara de antemão.

Sei que há uma parte do trasntorno que é inevitável, imprevisível, implacável... Mas sei também que há uma parte que só depende do bipolar. Do mesmo modo que as formigas se preparam para o inverno quando a época do ano ainda o permite, os bipolares podem se preparar para as crises quando estão naqueles bons momentos de que falei. A crise pode ser tão implacável ou inevitável para o bipolar como a neve é para uma colônia de formigas durante o inverno, mas tudo o que foi feito durante o tempo bom ajudará a amenizar ou a enfrentar o que vem durante o tempo mau...

Outro bom exemplo é o dos pescadores. Em alto-mar, eles podem ser surpreendidos por grandes ondas caso surja uma tempestade de repente (a previsão do tempo nem sempre acerta!). As ondas podem chegar a vários metros de altura e é impossível fugir delas em alto-mar. É claro que os pescadores não controlam as forças da Natureza, nem podem evitar tais ondas; mas eles passam por esse perigo da melhor maneira possível porque, antes de saírem para o mar, preparam-se em terra, quando geralmente o sol ainda brilha acima deles.


Leia mais
Diário bipolar
O futuro da palavra bipolar
Bipolares não-diagnosticados
12 de junho bipolar
Revelar a bipolaridade ou não revelar. Eis a questão
Qual é a diferença entre bipolar e borderline?

Ela gosta de montar a cavalo

Ela gosta de montar a cavalo
E não se preocupa com certas coisas,
Não se atém ao que será.

Se ela sofre,
É por conta do presente
Muito mais que por conta do futuro.
Ela não faz planos,
Deseja ser feliz agora,
Menos entristecida um pouco.
Não há esperanças de longo prazo.
Não há paciência para esperar
O que promete vir e nem sempre vem.

Ela se casaria com um homem de sessenta
Embora tenha dezoito.
Não há por que pensar demais.
É preciso tentar também,
Tatear a vida e não só imaginar.

Ela está triste agora
E não sabe bem por quê.
Ela tem um nome, uma vida,
Mas há algo que lhe falta.
Talvez esteja aqui ou ali,
Mas ela vai sozinha no escuro,
Tateando o que pode ou não acontecer.

Há várias possibilidades
E ela se preocupa apenas
Com o que é mais provável.

Talvez chova de tarde,
Mas ela não traz ao meio-dia
Nenhum guarda-chuva.

Ela é bonita,
Tem um olhar triste.
O que lhe falta é um pouco de felicidade
Quando não está cavalgando.
Se o mundo fosse um cavalo apenas,
Ela seria mais feliz.

terça-feira, 22 de março de 2011

Testando...

Vamos ver se isto funciona. Deixei três postagens programadas para esta semana. Sãos três poemas, dois meus e outro de um poeta melhor, que é para compensar os meus!

Isso não significa que eu não possa me conectar a qualquer momento e postar algo. Afinal, a mão que programa é a mesma que posta...

Moral da história? Fica aí a dica para quem só se conecta uma vez por semana, escreve várias postagens num só dia e quer que elas sejam publicadas pouco a pouco.

A dica também serve para quem toma porres medonhos e fica fora do ar por vários dias, para quem vai lutar na Líbia como voluntário ou, para os menos aventureiros e mais religiosos, para quem vai jejuar no deserto 40 dias...

Mas nenhum desses é meu caso. Não vou para a Líbia, não tomo porres medonhos, não conheço o caminho para o deserto mais próximo e provavelmente eu morreria de fome depois de 40 dias de jejum, sob sol forte.

Como diz o título deste post, só estou testando a coisa... Afinal, nunca diga Deste recurso do Blogger não usarei...

PS- Acabo de escrever um post comentando o texto Meu querido mundo virtual, da Jéssica, do blog Unicórnio de Pano. Mas esse meu post-comentário fica programado para o sábado. Não é que eu seja judeu e não possa postar no sábado, mas já há três poemas na fila de espera, aguardando publicação. E todos eles têm senha...

segunda-feira, 21 de março de 2011

Laura Pausini - Gente




TRADUÇÃO DO BLOG
Gente
Gente

Erra-se, você sabe, quase continuamente,
esperando não se fazer nunca tanto mal.
Mas quantas vezes se falha!

A vida, você sabe, é como um fio em equilíbrio
e tarde ou cedo nos reencontramos distantes
diante de um dilema.

E cada dia junto para avançar só um metro a mais.
Isso exige todo o bem que conseguiremos encontrar em cada um de nós.

Mas às vezes, depois, basta um sorriso apenas
para derreter em nós até um inverno de gelo
e partir novamente do zero.

Porque não há um limite para ninguém
que dentro de si tenha um amor sincero,
só um respiro.

Não somos anjos em voo* vindos do Céu,
mas gente comum que ama de verdade,
gente que quer um mundo mais verdadeiro,
a gente que você encontra pelas ruas na cidade.

Experimente e você verá: há sempre um modo
dentro de nós para depois retomar o voo
em direção do azul.

Não somos anjos em voo vindos do Céu,
mas gente comum que ama de verdade,
gente que quer um mundo mais verdadeiro,
a gente que, junto, o mudará.

Gente que quer um mundo mais verdadeiro,
a gente que, junto, o mudará.

Junto o mudará, experimentará...
Gente que experimentará,
Junto lá experimentará, conseguirá...
Gente que conseguirá,
Junto lá conseguirá, mudará...
Gente que mudará...

______________
(*) Não estranhe; o acento de “vôo” voou. É a nova ortografia.

domingo, 20 de março de 2011

Los Amantes, de Cortázar

Encontrei um texto do Cortázar no blog da Mayara Constantino e decidi traduzi-lo especialmente para os leitores do Mastigando Estrelas.


Os Amantes

Quem os vê andar pela cidade se todos estão cegos?

Eles pegam na mão um do outro: algo fala entre seus dedos, línguas doces lambem a úmida palma, correm pelas falanges, e acima está a noite cheia de olhos.

São os amantes, sua ilha flutua à deriva em direção de mortes de grama, na direção de portos que se abrem entre lençóis.

Tudo se desordena através deles, tudo encontra sua cifra escamoteada; porém eles nem sequer sabem que enquanto rodam em sua amarga arena* há uma pausa na peça de teatro do nada, o tigre é um jardim que brinca.

Amanhece nas carroças de lixo, começam a sair os cegos, o ministério abre suas portas. Os amantes rendidos se olham e se tocam uma vez mais antes de cheirar o dia.


Já estão vestidos, já andam pelas ruas. E é só então quando estão mortos, quando estão vestidos, que a cidade os recupera hipócrita e lhes impõe os deveres cotidianos.


Los Amantes

¿Quién los ve andar por la ciudad si todos están ciegos ?


Ellos se toman de la mano: algo habla entre sus dedos, lenguas dulces lamen la húmeda palma, corren por las falanges, y arriba está la noche llena de ojos.

Son los amantes, su isla flota a la deriva hacia muertes de césped, hacia puertos que se abren entre sábanas.


Todo se desordena a través de ellos, todo encuentra su cifra escamoteada; pero ellos ni siquiera saben que mientras ruedan en su amarga arena* hay una pausa en la obra de la nada, el tigre es un jardín que juega.

Amanece en los carros de basura, empiezan a salir los ciegos, el ministerio abre sus puertas. Los amantes rendidos se miran y se tocan una vez más antes de oler el día.

Ya están vestidos, ya se van por la calle. Y es sólo entonces cuando están muertos, cuando están vestidos, que la ciudad los recupera hipócrita y les impone los deberes cotidianos.


____________________________

(*) Me lembra a arena da praça de touros. Ruedo, rodar, arena, etc.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Mastigando Estrelas FM

Pois é! Isto não é um blog, é uma rádio FM!

Atualizei o post anterior. Agora, debaixo do vídeo, aparece aquela tradução mais literal que eu havia prometido fazer. É ver e comparar com aquela versão artística cantada pelo Gilberto Gil. Quanta diferença!

Daqui por diante, na nossa programação musical, procurarei postar os vídeos e as traduções ao mesmo tempo. Assim os leitores do Mastigando Estrelas não terão que esperar por uma atualização do post, quando a tradução costuma ser acrescentada.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Laura Pausini e Gilberto Gil - Seamisai / Sei que me amavas

Se este post tiver muitos acessos como o outro, farei uma tradução mais literal, mais ao pé da letra, para que os leitores do Mastigando Estrelas possam compará-la com a versão artística cantada pelo Gilberto Gil. Vocês verão como a diferença será grande. Obviamente, uma tradução mais literal não tem que obedecer a uma métrica nem a ritmo, para que possa ser cantada. Essa minha tradução será apenas para que cheguemos bem perto do que a letra em italiano diz. Não se espantem!




TRADUÇÃO DO BLOG
Se amas, sabes
Seamisai

Não digas não,
que te conheço e sei o que pensas.
Não me digas não.
Já faz um tempo que não te ouço
falar de amor,
usar o tempo no futuro para nós.
E já não adianta repetir que tu me queres,
porque agora não há mais aquele teu
sorriso de manhã para mim,
porque não me dás mais nada de ti.

Se amas, sabes quando tudo termina.
Se amas, sabes como um calafrio triste,
como as cenas já vistas de um filme
que acabou, oh não!
Sabes sempre quando uma história se encerrou,
e não se pode inventar uma desculpa.
Se amas, toma as minhas mãos,
porque, antes de amanhã,
[nossa história] terminará.

E não se pode
fechar os olhos e dissimular nada
como fazes tu quando estás comigo
e não encontras a coragem de dizer-me o que há.
Dentro de mim, será como uma noite
de inverno porque
[minha vida] de hoje em diante será sem ti.

Se amas, sabes quando tudo termina.
Se amas, sabes como um calafrio triste,
como as cenas já vistas de um filme
que acabou, oh não!
Sabes bem quando inicia a dor
e chega o fim de uma história de amor.
Mas, se amas, toma as minhas mãos,
porque antes de amanhã
irás embora, não estarás
aqui comigo...

terça-feira, 15 de março de 2011

Angra I, II, III, IV...

Ouço tantas bobagens a respeito de Angra I e II depois que houve o acidente com a usina japonesa, que também me sinto no direito de dizer algumas besteiras. Vamos lá!

Acidente nuclear é tudo igual? Não, não é. Há uma escala que vai de 0 a 7, usada para medir a gravidade dos acidentes nucleares. O acidente na usina japonesa de Fukushima alcançou a classificação 4 nessa escala e eles evacuaram uma área de 20km em torno da usina. As 80 mil pessoas que viviam nessa área tiveram que deixar suas casas.

Agora, pensemos naquelas pessoas que, vivendo em Angra, dizem que matariam, que roubariam barcos, etc., tudo para que sejam os primeiros a fugir caso haja um acidente. Eles fariam isso até mesmo se tivéssemos um acidente de gravidade 0 ou 1 na escala? Seria, no mínimo, patético.

Daí podemos chegar a esta triste conclusão: Se no Japão houve um acidente de classificação 4, sem que houvesse pânico, assassinatos ou roubos de embarcações para escapar, o que haveria em Angra caso houvesse ali um acidente igual, de número 4 na escala? Provavelmente muito barulho, como não houve no Japão, porque aqui parece haver a ideia generalizada de fuga a todo custo, tanto maior na medida em que as pessoas são desinformadas.

Como disse Goethe (vejamos se ainda me lembro bem da frase), nada mais horrendo que a ignorância em ação.

As usinas de Angra não são como aquela de Fukushima. As daqui são um modelo alemão da década de 70. Sendo assim, deveríamos observar mais atentamente o que acontece com as usinas da Alemanha, onde deve  haver modelos até mais antigos que esse que temos no Brasil, porque nossa entrada na era nuclear se deu mais tardiamente que em outros países.

Ainda assim, suponhamos que houvesse um acidente de classificação 4 em alguma das usinas de Angra. Ora! As usinas não são iguais. As daqui, comparadas com as de Fukushima, são até mais seguras. Mas suponhamos que as nossas fossem iguais. Ainda assim, o terreno em que as nossas se localizam não é o mesmo, isto é, Angra I e II se localizam em Itaorna, que é uma enseada cercada pela serra. As pequenas montanhas ou morros que cercam as usinas funcionam como uma espécie de barreira ou muralha que ajudaria a conter o material radioativo em caso de vazamento. E a enseada à frente faz com que as usinas estejam "encravadas" no litoral, ou seja, as estremidades da enseada são como muros que contornam as usinas pelos lados. À frente, há o quebra-mar e o mar...

Quem já viu imagens da usina de Fukushima na TV, pode notar que a área em que ela se localiza é relativamente plana, ainda que vejamos montanhas ao longe, ao fundo.

Outro detalhe é que Angra, de modo geral, não é tão densamente povoada, ainda que o centro da cidade seja mais populoso que qualquer bairro próximo das usinas. Provavelmente a população total num raio de 20km em torno das usinas brasileiras não chegue a 80 mil como em Fukushima. Seja como for, 60 ou 70 mil já seria um número grande. Sob esse ponto de vista, os habitantes de Fukushima levam vantagem. O centro da cidade deles fica a 60km da usina...

O centro de Angra fica mais perto,  a 14,5  ou 15km das usinas. Essa distância é medida em linha reta, porque a radiação, viajando pelo ar, não obedece às curvas de uma estrada de asfalto. Isso significa que o centro de Angra estaria dentro daquela área japonesa de 20km de raio se Fukushima fosse aqui...

Pela estrada, entretanto, leva-se aproxidamente 70 minutos entre o centro e Itaorna. Porque, pela estrada, a distância percorrida é de 45 ou 50 km, devido ao fato de a estrada acompanhar o contorno do litoral, que é muito sinuoso. Essa é uma desvantagem se pensamos em evacuar a população por terra. Outra desvantagem é o estado de conservação da BR 101 ou os deslizamentos que, às vezes, acontecem nas margens da rodovia, impedindo o trânsito. Obviamente, as estradas japonesas costumam estar mais bem conservadas, ainda que também possam ser obstruídas pela neve durante o inverno no norte do Japão. Seja como for, pode-se chegar ao Rio ou a Minas por outra rota, se a viagem começar por uma estrada que liga Angra a Barra Mansa, caso trechos da BR 101 localizados próximos a Angra estejam obstruídos ou com trânsito lento.

O mar, obviamente, não deixa de ser uma grande estrada sem curvas se pensamos no litoral, no porto da cidade e na ajuda da Marinha... Não, não estou falando de uma retirada de Dunquerque, de uma corrida dramática contra o tempo, a não ser que todas as estradas ou vias terrestres estejam realmente obstruídas no momento do acidente...

Mas continuemos imaginando e comparando Angra a Fukushima sem maiores devaneios. Suponhamos que o modelo das usinas fosse o mesmo, o terreno igual, a quantidade de habitantes a mesma, a gravidade do acidente idem, etc. Mesmo assim, se uma área de 20km em torno das usinas tivesse que ser evacuada à japonesa, ao menos a parte leste da cidade ainda estaria além dos limites dessa área. Na parte leste, encontramos o Estaleiro, o terminal da Petrobras, etc.

É claro que as condições do tempo no momento do acidente influenciam ou até determinam a propagação do material radioativo. Ventos fortes podem levar o material radiotivo em qualquer direção: Mangaratiba a leste, Paraty a oeste, oceano Atlântico ao sul ou Cunha/SP ao norte.

É claro que todas essas cidades acima não estão livres de ser atingidas, mas aí teríamos que imaginar toda uma situação diferente, o que não farei neste post, talvez em nenhum. Provavelmente assim que o Japão sair das manchetes dos jornais, este assunto será esquecido. Você duvida? Vejamos abaixo outros exemplos....

Alguém ainda está falando dos deslizamentos na serra do Rio? Do terremoto do Haiti que matou mais de 100 mil pessoas? Do vulcão da Islândia cujas cinzas impediram o tráfego aéreo na Europa? Todos esses assuntos são relativamente recentes, mas já não andam na mídia nem nas rodas de bate-papo. Pois é! Parece que a medida de nossa memória é a mídia. Também parece que só ela determina a matéria de nossas conversas, salvo, é claro, o que acontece na vizinhança... as fofocas de bairro.

Já notou como os temas das redações escolares costumam acompanhar os assuntos da novela das oito? Não? Pois veja. É incrível como as crianças pesquisaram sobre leucemia quando uma novela das oito (que começa às 9!) abordou o tema. Há muitos outros casos assim. Não digo que esses temas não devam ser pesquisados, porque devem, mas daí a deixar que a TV determine o que as crianças devem pesquisar...

A verdade é que os alunos mal têm tempo para estudar todos os assuntos fundamentais, básicos, que cairão no Vestibular. E eles ainda pesquisam sobre assuntos que sequer são a base do currículo escolar. Talvez o motivo para esse fato tão curioso (salvo as explicações sociológicas, é claro!) tenha a ver com aquela frase de Oscar Wilde: Que Deus me dê o supérfluo [para viver], porque o básico todo o mundo tem. Consertando a frase ou levando-a para outro contexto: Que Deus me dê o supérfluo [para pesquisar], porque o básico todo o mundo tem [que pesquisar e não pesquisa].

Seja como for, não acredito que o MEC tenha alguma relação secreta com a Rede Globo... Também excluo os bons professores dessa papagaiada acima.

Mas não, não vou falar de Chernobyl. Deus me livre falar desse caso. Mas, se digo Deus me livre, não estou me referindo à gravidade do acidente, mas ao lugar-comum que ele se tornou. Todos falam. E pior: todos falam a mesma coisa. A única novidade sobre o acidente foi a nova pronúncia para o nome da usina. Quem viu o Jornal Nacional ontem, sabe do que estou falando. Pelo menos alguém inovou alguma coisa ao falar de Chernobyl, ou melhor, de Chernóbyl, como dizem os ucranianos com sua pronúncia.

Chernóbyl é a primeira palavra que aprendo a falar em Ucraniano. E provavelmente será a última. Mas vá lá. Já posso dizer que sei falar uma palavra ou outra nesse idioma. Literalmente.

A nova pronúncia me causou mais interesse que as velhas notícias sobre... Chernobyl ou Chernóbyl? Bem... agora tenho que decidir.

Decido depois.


Outras besteiras minhas...

Se ainda posso continuar dizendo bobagens, quero dizer mais esta:

Muitas pessoas, ingenuamente, criticam o fato de termos usinas nucleares. A justificativa que eles apresentam é que as nossas usinas só respondem por 2,5% (alguns dizem 3,3%) do total da energia elétrica produzida no País. Ora! Quem acredita que temos usinas unicamente para a produção de energia elétrica é ingênuo ou não conhece História do Brasil...

As usinas fazem parte de um projeto maior que inclui a produção de armas atômicas. A ONU tem uma lista de paises suspeitos de ter a bomba atômica, mas que não admitem possuí-la. O Brasil faz parte dessa lista.

Como se vê, nossos objetivos não eram, essencialmente, produzir energia elétrica.

Ao todo seriam construídas cerca de 10 usinas nuclerares, mas aí veio a crise do petróleo de 79, a década perdida (a de 80), 15 anos de recessão e outras desgraças nacionais... E os militares mal puderam se manter no poder. No meio de tudo isso, o projeto nuclear brasileiro minguou ou adormeceu. Só nos últimos 17 anos o Brasil voltou a se recuparar daqueles 15 anos de estagnação. E só ultimamente se tem falado novamente em Angra III...

Não falarei sobre a necessidade de um país ter armas nucleares, porque procuro não falar o óbvio. Basta dizer que a Argentina também faz parte daquela lista da ONU, e que o projeto argentino, na década de 70, estava até mais adiantado que o brasileiro. Até pouco tempo atrás, nossas maiores preocupações militares estavam na fronteira sul. É onde o grosso do exercito brasileiro se mantinha posicionado. Agora nossas maiores preocupações estão na fronteira norte...

Mas não, meu caro leitor, não dê demasiada atenção às bobagens que digo. Tudo isto é uma bobagem tão grande, que mal costuma ser assunto para as pesquisas escolares. Há, certamente, outros temas mais fundamentais, necessários ou importantes do que as bobagenzinhas que eu disse acima. Só as digo por falta de assunto.  


PS - Este post não foi financiado pela Eletronuclear nem pelos militares. O único subsídio com o qual este post procurou ser escrito foi a verdade, nada mais que a verdade, este artigo de luxo quando falamos sobre certos assuntos...


Leia mais
Fukushima é aqui, Fukushima não é aqui

segunda-feira, 14 de março de 2011

SPC das Promessas Não-Cumpridas

Não, meu caro leitor, meu nome não aparecerá no "SPC das Promessas Não-Cumpridas". Porque, como sabemos, promessa é dívida; e os maus pagadores sempre têm seus nomes em alguma lista negra... O que prometi, isto é, o que eu devia, já paguei.

Atualizei o post anterior, substituindo "a promessa" pela "coisa prometida". Agora, debaixo do vídeo, aparece a tradução de Jenny que eu fiz especialmente para os leitores do Mastigando Estrelas.

Como dizem, promessa é dívida.

domingo, 13 de março de 2011

Jenny (Italiano) Laura Pausini - Tra Te E Il Mare




TRADUÇÃO DO BLOG 
Jenny
Jenny

Jenny tem 16 anos e os olhos azuis.
Com os seus cabelos como o trigo, vai
com os pés nus em direção de uma cidade,
buscando  o rosto de um rapaz que não sonha mais.
Aperta na mão a fotografia,
mas onde pode encontrá-lo, Jenny não sabe.
Impulsionada por uma cósmica energia,
vê um corpo sufocado por esta árida realidade.
Reconhece que é ele
porque não ri nunca.

Jenny é uma ilha,
a Ave Maria
dos náufragos,
um vaga-lume
que brilhará
nos momentos mais escuros
para ele.

Jenny o acompanha à casa sua,
ouve os seus pensamentos e a melancolia
que o afoga como uma maré,
e lhe salva o coração da dor de sua loucura
enquanto o mundo prossegue
sem ter piedade.

Jenny é uma âncora,
a terra diante 
dos fracos,
é uma nuvem
que choverá
confetes...
é uma fábula e está
dentro desta realidade
por causa dele.

Jenny é a África,
a nostalgia
dos calafrios,
é uma migalha
que preencherá
a solidão.

Jenny é um céu azul,
é um milagre,
um instante
que se acende para ele
nos momentos mais escuros.

Jenny tem 16 anos e vai embora dali
caminhando com os pés nus e não sabe
que é um anjo...