quinta-feira, 24 de março de 2011

Literatura e Análise Psicológica

TEXTO DO BLOG DA ANA

Psiu!

(...) O mundo está cheio de mortos-vivos, de gente que funciona no modo automático sem ouvir as coisas que pensa, sem levar em conta as suas próprias questões. (...)


COMENTÁRIO

Pois é! Isso é tão comum, e às vezes tão grave, que há pessoas que se desesperam quando têm de ficar sozinhas com seus próprios pensamentos ao menos por um minuto. Para elas, é uma ideia insuportável.

Em poucas palavras, elas se atormentam quando têm de ficar na companhia de si mesmas. Então procuram conversar o tempo todo, falar demais, ligar a TV, ouvir música tão alta quanto possível, deixar-se absorver por alguma atividade, etc. Mas, diferentemente de outras pessoas, elas não fazem isso para buscar entretenimento ou prazer; elas o fazem porque, de outro modo, se afligem, se desesperam, não suportam o silêncio... Mas, por silêncio, entenda-se elas mesmas. Elas mesmas e seus próprios pensamentos, nada mais, ninguém mais...

Essas pessoas simplesmente não podem ouvir os próprios pensamentos ou ver-se diante de alguma pergunta que a mente delas fez e não pôde responder, ou que outra pessoa lhes fez e parece complexa demais...

Geralmente, são pessoas que não conseguem refletir ou desenvolver um pensamento de maneira aprofundada. Suas respostas são simples, geralmente se resumem a uma frase. E uma frase ingênua, se empregamos o adjetivo ingênuo como antônimo de crítico. Causas complexas não existem para essas pessoas. Questões complexas, para essas pessoas, não existem. Quem se atém a questões complexas são os loucos. (Os médicos, os psicólogos, os psicanalistas, todos estes, para aquelas pessoas, são loucos, simplesmente porque refletem e pensam muito sobre um assunto. O curioso é que elas recorrem a esses profissionais ao menos de vez em quando...)

Essas pessoas são quase loucas, porque se privam da realidade ou do entendimento das coisas ao menos parcialmente. Os loucos fazem coisa parecida, mas em maior grau. Porém os loucos (pelo menos os loucos) não podem evitar isso...

Essas pessoas não têm os olhos para dentro; elas procuram se esvaziar internamente, imaterialmente. E como todo corpo precisa de uma alma, de um enchimento, essas pessoas buscam esse preenchimento de algum modo, isto é, buscam uma substituição.

Seja como for, não as condeno. Se elas fogem de si mesmas, deve haver um motivo para isso. Porque a verdade é que ninguém foge de algo que lhe parece bom ou agradável. E ninguém esvazia algo para enchê-lo com outra coisa de valor considerado inferior.

Quem tem vida interior, nunca está sozinho. Mas algumas pessoas, quando se voltam para si mesmas, quando fazem silêncio, parecem lançadas diante de algum deserto ou de alguma visão tão horrível, que elas recuam, fogem ou se desesperam.

O bebedor comum, bebe porque tem prazer com a bebida. O bebedor alcoólatra, bebe porque não tem prazer ou sossego sem a bebida. E aí está toda a diferença.

Quem se ocupa com alguma atividade porque sente prazer com isso, é alguém que se diverte. Mas, quem se ocupa porque de outro modo se desesperaria, é alguém que tem um vício ou não tem outra opção... E fugir de si mesmo é a pior das fugas, porque não leva a lugar nenhum.


Poesia, Literatura em Geral

Mas vamos lá! A Ana falava, antes de tudo, de poesia; não fujamos ao tema.

Poetas psicológicos, que se voltavam para si mesmos, para o seu interior, produziram excelentes poemas. Podemos meniconar Petrarca, Camões, Sá de Miranda... E na Literatura, quanto mais profundo é um texto, mais valor ele tem. A Poesia não foge a essa regra, não pode fugir, e ai dela se fugisse! Porque, do contrário, deixaria de ser Literatura também.

Os poemas que exploram conflitos psicológicos estão no topo da evolução da Poesia.

Textos que se baseiam unicamente em ações externas, têm pouco ou nenhum valor em Literatura. É o que geralmente se chama lixo ou subliteratura. E não, não sou eu quem o diz; é a Crítica Literária, coisa que, no Brasil, praticamente não existe. (Eis aí outra afirmação que não é minha.)

Os textos mais valorizados são aqueles em que há profundida psicológica. Mas, para que haja tal qualidade admirada pela Crítica, as cenas externas (isto é, as ações) devem ceder espaço; e o ritmo também se torna mais lento. É o que acontece em Dom Casmurro, em São Bernardo, por exemplo. Dois romances psicológicos nacionais da melhor espécie. São ricos como as pessoas que têm profundidade psicológica, profundeza de alma, por assim dizer.


Psicanálise versus Psicologia
(Leia o comentário da Ana no post Psiu!, e você vai entender.)

Sobre Psicanálise e Psicologia, eu diria que:

O Psicanalista é como o camponês que olha para um pé de oliva, sacudindo essa árvore até que o maior número possível de azeitonas caia sobre a lona estendida abaixo; e então o psicanalista recolhe aquelas azeitonas que lhe servem, descarta as imprestáveis e faz disso a sua ciência.

O Psicólogo é como o camponês que sobe na escada, para ficar junto aos ramos do pé de oliva; olha, escolhe, e a cada olhada vai seguindo este ou aquele ramo que lhe pareça mais proveitoso, e faz disso a sua ciência.

No primero caso, é a árvore que solta seus frutos; e então o Psicanalista os recolhe e seleciona.

No segundo caso, é o Psicólogo que os seleciona e recolhe ao mesmo tempo.

PS- Você vai lembrar disso toda vez que beber azeite ou comer azeitonas.... E, para que não deixemos de falar de Poesia, esses dois exemplos acima não deixam de ter lá a sua poesia. São quase poéticos, modéstia à parte.

2 comentários:

Ana SSK disse...

Uau, Breno!
Fico honrada que algumas palavras minhas tenha desencadeado um post tão bonito aqui!

Pois bem, acho mesmo que o mundo está cheio de zumbis falando clichês. Coisa vazia. E se escapa disso, periga ser chamado de bipolar ou depressivo...como já falamos esta semana.

A Psicanálise é coisa atemporal, visto que seu tempo é lógico, e não cronológico. Assim, não responde ao imperativo moderno do -corra! pressa! vamos! é pra ontem! - E assim, por mais fazer despertar do que adormecer, é vista de olhos tortos, muitas vezes. (adorei a sua metáfora com a oliva e a azeitona)

É por isso que me parece que a modernidade mais quer zumbis consumindo e se endividando, sempre pensando estarem atrasados; do que gente, de fato, com dores, alegrias e questões.

Luciene Rroques disse...

Ola Breno M. Agradeço por tuas palavras.
Bons textos em tua página.
Um abraço!