Encontrei um texto do Cortázar no blog da Mayara Constantino e decidi traduzi-lo especialmente para os leitores do Mastigando Estrelas.
Os Amantes
Quem os vê andar pela cidade se todos estão cegos?
Eles pegam na mão um do outro: algo fala entre seus dedos, línguas doces lambem a úmida palma, correm pelas falanges, e acima está a noite cheia de olhos.
São os amantes, sua ilha flutua à deriva em direção de mortes de grama, na direção de portos que se abrem entre lençóis.
Tudo se desordena através deles, tudo encontra sua cifra escamoteada; porém eles nem sequer sabem que enquanto rodam em sua amarga arena* há uma pausa na peça de teatro do nada, o tigre é um jardim que brinca.
Amanhece nas carroças de lixo, começam a sair os cegos, o ministério abre suas portas. Os amantes rendidos se olham e se tocam uma vez mais antes de cheirar o dia.
Já estão vestidos, já andam pelas ruas. E é só então quando estão mortos, quando estão vestidos, que a cidade os recupera hipócrita e lhes impõe os deveres cotidianos.
Los Amantes
¿Quién los ve andar por la ciudad si todos están ciegos ?
Ellos se toman de la mano: algo habla entre sus dedos, lenguas dulces lamen la húmeda palma, corren por las falanges, y arriba está la noche llena de ojos.
Son los amantes, su isla flota a la deriva hacia muertes de césped, hacia puertos que se abren entre sábanas.
Todo se desordena a través de ellos, todo encuentra su cifra escamoteada; pero ellos ni siquiera saben que mientras ruedan en su amarga arena* hay una pausa en la obra de la nada, el tigre es un jardín que juega.
Amanece en los carros de basura, empiezan a salir los ciegos, el ministerio abre sus puertas. Los amantes rendidos se miran y se tocan una vez más antes de oler el día.
Ya están vestidos, ya se van por la calle. Y es sólo entonces cuando están muertos, cuando están vestidos, que la ciudad los recupera hipócrita y les impone los deberes cotidianos.
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(*) Me lembra a arena da praça de touros. Ruedo, rodar, arena, etc.
Um comentário:
Amor
A morte.
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