quarta-feira, 23 de março de 2011

Transtorno Bipolar

TEXTO DO BLOG DA ANA

Mais da metade dos bipolares não recebe tratamento

Mapeamento mundial sobre transtorno bipolar mostra que menos da metade dos doentes recebe tratamento.

(...)


COMENTÁRIO

O que é mais impressionante? O bipolar que não sabe que tem o transtorno e por isso não se trata, ou o bipolar que é diagnosticado e decide não se tratar? Antes de opinar, devemos tentar entender o que acontece, penetrar a causa secreta das coisas...

Agora que existe esse excelente estudo para pôr em números quantos bipolares diagnosticados não se tratam, as perguntas a serem respondidas são: 1) por que eles não se tratam quando têm acesso ao tratamento? 2) por que abandonam o tratamento quando podem prosseguir com ele? 3) como fazer com que os bipolares diagnosticados continuem com o tratamento mesmo quando decidem abandoná-lo?

A curto prazo, um bipolar pode se sentir muito bem sem o tratamento, porque não está em crise, mas a longo prazo ele sofrerá bastante porque cedo ou tarde virá uma crise... Do contrário, ou ele não era bipolar e tinha recebido um diagnóstico errado (o que não é impossível nem raro), ou ele curou-se espontaneamente (o que é improvável ou é milagre; mas continuemos falando de Medicina; deixemos os temas religiosos para outro post... Pois bem!).

Sem tratamento, é de esperar que as crises comecem a vir com intervalos cada vez menores entre si, que venham mais fortes, etc. Enfim, que o transtorno "evolua" se um bipolar passa a ter clicagem rápida, se um paciente tipo II recebe o diagnóstico de tipo I, etc.

A grande questão é que não se interna um bipolar a não ser que ele esteja numa crise de mania, por exemplo. A internação é uma medida extrema, mas fundamental para salvar a vida do paciente em certos casos. Todavia, entre uma crise e outra, não se pode nem se deve obrigar o bipolar a se tratar. A decisão deve ser dele. Inteiramente dele. Nesse caso, resta informá-lo e, mais eficiente que informar, "emocioná-lo" com histórias comoventes de pacientes que decidiram não se tratar. Ao final de tudo, a decisão ainda será dele.

Das opções possíveis, "emocionar" é psicologicamente mais eficiente que "informar". Exemplos, na campanha eleitoral política, não faltam. Os políticos, nessa área, têm grande experiência!

Por incrível que pareça, a maioria das pessoas (incluindo não-bipolares) age desta maneira: toma uma decisão emotiva e, só depois, pensa de maneira racional a fim de encontrar uma justificativa para as decisões tomadas de maneira emotiva!

Como mania e depressão são modos de escapar da realidade (por dois caminhos bem diversos, é claro!) um bipolar não pode decidir durante suas crises; mas isso não é tudo. Mesmo não estando em crise, há "sintomas leves", resquícios ou restos que ficam "pairando" entre uma crise e outra. Isso costuma acontecer em 50% do tempo. Sendo assim, mesmo fora das crises, o bipolar pode não estar inteiramente apto a decidir, a não ser que esses resquícios não existam. É complicado? Nem tanto. Se nos lembrarmos que o TAB também já foi chamado de insanidade cíclica, então podemos dizer que ao menos em parte do tempo o bipolar pode decidir o que fazer. E, se ele pode decidir nesses "bons momentos", então ele também pode amenizar ou até evitar aqueles "maus momentos", porque estes costumam nascer daqueles, ou são melhor enfrentados quando o bipolar se prepara de antemão.

Sei que há uma parte do trasntorno que é inevitável, imprevisível, implacável... Mas sei também que há uma parte que só depende do bipolar. Do mesmo modo que as formigas se preparam para o inverno quando a época do ano ainda o permite, os bipolares podem se preparar para as crises quando estão naqueles bons momentos de que falei. A crise pode ser tão implacável ou inevitável para o bipolar como a neve é para uma colônia de formigas durante o inverno, mas tudo o que foi feito durante o tempo bom ajudará a amenizar ou a enfrentar o que vem durante o tempo mau...

Outro bom exemplo é o dos pescadores. Em alto-mar, eles podem ser surpreendidos por grandes ondas caso surja uma tempestade de repente (a previsão do tempo nem sempre acerta!). As ondas podem chegar a vários metros de altura e é impossível fugir delas em alto-mar. É claro que os pescadores não controlam as forças da Natureza, nem podem evitar tais ondas; mas eles passam por esse perigo da melhor maneira possível porque, antes de saírem para o mar, preparam-se em terra, quando geralmente o sol ainda brilha acima deles.


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4 comentários:

Anônimo disse...

Excelente! Concordo com a exposição. Parabéns, Will

Ana SSK disse...

Muito prudente o seu texto-comentário.

Penso que a raiz do problema, está no diagnóstico. Acredito que pode-se haver estabilização mesmo dem medicação, em alguns casos.

Mas a medicação desnecessária tende a apodrecer o ser humano...

Antigamente chamavam de psicose maníaco-depressiva. Atualmente, qualquer neurose é diagnosticada como depressão ou bipolaridade...

Jéssica. disse...

É, a bipolaridade se confunde com muitos outros trantornos psicológicos e com muitas personalidades diferentes. Eu nunca sei diferenciar.

PS: Bom, respondendo seu comentário no meu blog, eu me pareço muuuuuito com a Mel. Sim, eu assisto a novela todos os dias! E justamente foi aquele capítulo que você citou o qual mais me identifiquei com ela. Já vivi situação bem parecida, quase identica. Enfim, pensei que só eu me achava parecida com ela. Me impressionei com a sua percepção d aminha personalidade, mesmo não nos conhecendo muito bem. Beijos.

Akasha Taltos disse...

Sou bipolar e várias vezes abandonei o tratamento, até perceber que não tem jeito, os remédiosm são meus aliados e não meus inimigos. Amo a estabilidade e "normalidade" que estou vivendo a 1 ano, depois que resolvi que NÃO quero mais variar de humor. Sei que "não sou uma só" mas quero pelo menos tentar ser por muito tempo apenas uma. Adorei seu post. Estou te seguindo.