Essa, certamente, é a pergunta mais comum encontrada na Internet ou em programas de TV sobre o tema. Sempre que se fala no assunto, vem a pergunta "O que é?"
Curiosamente, essa é justamente a pergunta que mais me parece mal respondida. As tentativas de resposta costumam ser tão resumidas ou tão simplificadas, que o resultado mal corresponde à realidade. Como explicar, de maneira resumida, algo que não se resume à meia-dúzia de palavras? Como simplificar algo que, por natureza, é complexo, talvez o caso mais intrigante da Medicina atual?
De modo geral, os textos na Internet costumam ser curtos e superficiais, de acordo com o gosto da maioria das pessoas. Daí que, se uma pessoa encontra um texto longo e profundo sobre o que é transtorno bipolar, provavelmente ela passará para outro texto, até que encontre um resumido e simplificado, tal como ela deseja; e não será difícil encontrar, porque tais textos são os mais comuns na Internet...
Num programa de TV, costuma acontecer coisa semelhante, porque o texto do programa tem de se adequar aos telespectadores habituais dele. Um documentário médico, certamente, será mais longo e profundo ao falar de TAB. Já uma reportagem de TV para o público leigo, provavelmente será mais curta, mais simplificada ou menos profunda.
Daí que não importa o que seja o transtorno bipolar. O que importa é a resposta que as pessoas estão dispostas a ouvir...
Para ficarmos com a melhor resposta que vemos na Internet (dentre as curtas e simplificadas), costuma-se dizer que o transtorno bipolar é um distúrbio caracterizado por oscilações de humor, e quem sofre desse distúrbio experimenta euforia e depressão. Até aí, tudo muito correto... Mas, na prática, o que a maioria das pessoas entende? Que ser bipolar é estar triste num momento e alegre no outro, coisa que todo o mundo experimenta...
Mas o que seria preciso dizer para explicar melhor o que é transtorno bipolar?
Certamente, ao menos com respeito ao TAB I e II, seria preciso lembrar que:
a) com "oscilações de humor", não queremos dizer ficar bem ou mal-humorado de vez em quando, sem consequências significativas para a vida afetiva, social ou profissional; porque aqui "humor" tem um sentido bem diferente do popular;
b) as oscilações de humor (se ainda estamos falando de fases ou episódios) não duram segundos ou minutos, mas dias, semanas ou meses; e podem durar ainda mais se não forem controladas com medicação;
c) depressão é diferente de tristeza, da mesma forma que euforia é diferente de alegria; depressão e euforia não são sinônimos para tristeza e felicidade;
d) a depressão e a euforia não obedecem a fatores externos, mas internos; não variam segundo as circunstâncias, mudando facilmente de acordo com o que acontece no mundo externo...
Mas veja: a explicação já começa a ficar complicada. Se vamos falar de humor, depressão e euforia para explicar o TAB, teremos, antes de tudo, de explicar o que é humor, depressão e euforia, porque a maioria das pessoas tampouco entende estes três últimos conceitos, que, em linguagem popular, têm significados muito diferentes! Em poucas palavras, quando falamos em humor, depressão e euforia para explicar o TAB, estamos dizendo X e a maioria das pessoas está entendendo Y... e, entre X e Y, costuma haver um abismo...
Pense bem: Se antes de tudo não conseguirmos explicar o que é depressão, por exemplo, como poderemos explicar o que é TAB?
Não adianta "martelar" na cabeça das pessoas que o bipolar passa por depressão e euforia, se as pessoas continuarem sem entender o que é depressão e euforia...
E olha que nem começamos a falar em TAB misto (depressão + euforia), TAB-SOE (sintomas mais leves, menos claros ou ocorrendo em menor número), TAB na adolescência (um meio-termo entre TAB adulto e TAB na infância), TAB na infância (muito diferente do TAB adulto), etc. Tudo isso também é TAB e faria parte da explicação...
Seria uma explicação longa, é verdade, e haveria quem oferecesse uma explicação mais curta e mais simplificada, tão ao gosto da maioria...
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2 comentários:
Oi Breno, gosto muito do seu blog, só não tenho comentado mais pq algumas vezes me faltam palavras e muitas vezes também ânimo.
Hj não resisti, mesmo sabendo que tá dificil organizar meus pensamentos, me desculpe ser tão prolixa.
Em 1º lugar, muito pertinente esse post, o que lemos por aí realmente deixa todo mundo com a sensação de ser bipolar.
Até hoje se eu comento com alguém é comum eu ouvir a resposta:
-Ah, mas isso eu também tenho!
Eu nem comento mais, mas aprendi uma resposta..
- sério? e qual é o transtorno que isso te causa?
Normalmente a pessoa diz, ah mas eu não me deixo abalar não, eu toco minha vida, bem ou mal eu não deixo de fazer nada.
Ai eu dou risada e falo que trastorno bipolar sem trasntorno não é trasntorno bipolar..hehe (a não ser é lógico que esteja estabilizada, mas normalmente algum trasntorno (mesmo que sutíl) a pessoa teve, né?
Bom vou abrir outro comentário para a 2º parte, esse já tá muito grande.
bj
Bom.. em 2º (e faz tempo que estou pra te pedir isso) seria pedir um post, até hoje algumas peças ainda não se encaixam, é lógico que já falei com o médico, ele já explicou algumas coiss, mas como me parece que você pesquisa bastante eu gostaria de saber o seu parecer, nas suas palavras. Não quero parecer folgada, mas é que você repassa tudo tão mastigadinho pra gente.. :)
Vamos lá.. já li seu post onde vc aborda se os bipolares são ou não mais violentos e também um outro onde vc distingue temperamento de comportamento mas mesmo assim eu gostaria de uma abordagem sua detalhando um pouco mais os sintomas da fase maníaca e hipomaníaca, que é mais difícil de entender que a depressão.
Eu por ex sou uma pessoa extremamente calma, me irrito sim lógico, às vezes dou meu showzinho, mas nada demais, no geral sou mais calma que a maioria das pessoas.
E pelo que lemos por aí os bipolares possuem temperamento forte, em mania são explosivos, impulsivos, arrogantes e etc.. como sendo uma condição.
Por não ter esse perfil, às vezes me questiono se sou ou não bipolar.
Queria muito saber se existem bipolares calmos, mais contidos, mesmo em mania/hipomania, nos relatos que lemos eles quase não existem.
É isso Breno, não sei se mais gente tem essa dúvida ou não, se é um assunto que vale ou não a pena abordar.. é só uma sugestão, tá amigo? Se achar que não merece um post, ok.. eu entenderei.
Um super beijo e obrigada pelo seu blog.
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