Tenhamos memória; lembremos que o TAB também já foi chamado de psicose maníaco-depressiva e de insanidade cíclica (este último nome geralmente traduzido para o português como insanidade circular).
Estes últimos nomes, convenhamos, não são lá muito bonitos. Daí é fácil entender por que razão não havia, no Orkut, comunidades intituladas Eu sou maníaco-depressivo... Mas, ultimamente, não-bipolares têm se auto-denominado bipolares, criando, inclusive, comunidades no Orkut intituladas Eu sou bipolar... Não duvido, obviamente, de que haja ao menos alguns bipolares de verdade nessas comunidades. Por que não haveria?
O curioso é que a palavra bipolar está sendo mais bem aceita que o bipolar em si. Mas veja bem: me refiro à palavra bipolar no seu sentido popular, usada como sinônimo de quem ora fica triste, ora fica alegre, sem ter que recorrer à medicação para estabilizar o humor... e me refiro ao bipolar em si como aquele que recebeu o diagnóstico de um profissional da área. Daí é fácil entender por que muitos bipolares de verdade preferem não se identificar. Em poucas palavras, tentando entender a moda ou a lógica popular, você pode ser bipolar, desde que não seja de fato! Curioso? Curioso.
Mas continuemos falando da troca de nomes, que pretende ser o assunto principal deste post.
Se você lê a Bíblia, provavelmente sabe que Abrão, Sarai e Jacó tiveram seus nomes alterados para Abraão, Sara e Israel, repectivamente. Essa mudança de nomes está relacionada a uma mudança na situação deles. O novo nome assinala uma nova fase, que, às vezes, ainda nem começou...
Com Paulo, entretanto, não aconteceu exatamente a mesma coisa. Ele se chamava Saulo, é verdade, mas não passou a se chamar Paulo definitivamente, de certo momento em diante. Durante boa parte da Bíblia, ele é chamado pelos dois nomes. O motivo é que Saulo era seu nome hebreu; e Paulo, seu nome romano. De modo geral, ele é chamado de Saulo pelos hebreus, e de Paulo quando está em Roma ou entre romanos. Lembremos que ele era um hebreu que tinha cidadania romana, e que fez uso dela mais de uma vez, para se livrar de certos perigos.
O caso do TAB é o primeiro, isto é, o de Abraão, Sara e Israel. Porque a palavra bipolar substitui o termo psicose maníaco-depressiva e está relacionada a esta nova fase, digamos, popular do TAB.
Mas não, meu caro leitor; não estou dizendo que a Medicina recorreu à Cabala Hebraica ou à Numerologia que conhecemos para alterar os nomes. Qualquer leigo pode entender facilmente que bipolar é uma palavra muito mais aceitável, agradável ou bonitinha que psicose maníaco-depressiva... Basta verificar como ela soa a nossos ouvidos.
Obviamente, há outros motivos para essa popularização de auto-diagnósticos entre os leigos, esse novo milagre da multiplicação, não dos pães, mas dos bipolares... Um desses motivos, certamente, é o fato de pessoas famosas admitirem publicamente que sofrem de TAB.
Tendo assistido a um vídeo do programa Plural, postado no blog Bipolar Brasil, descubro que há até muitas pessoas não-bipolares diagnosticadas como bipolares, e digo diagnosticadas por profissionais. É acessar o vídeo e conferir...
Mas, como eu dizia, parece que as pessoas em geral ainda não têm uma ideia exata do que é TAB e, frequentemente, entendem que TAB é estar triste num momento e alegre no outro (o que acontece com qualquer pessoa, isto é, qualquer um poderia se dizer bipolar, sem passar por um médico, sem se medicar, etc). E não, meu caro leitor; as pessoas normais não são loucas por agirem assim... Essa aparente loucura faz parte da normalidade e elas seguem sendo perfeitamente normais ao se comportarem desse modo.
Coisa parecida aconteceu com a palavra depressão, que entrou para o vocabulário popular como sinônimo de tristeza. Mas já falei sobre isso em outro post. Neste eu só queria frisar do que é capaz uma simples troca de nomes, além de apontar outros motivos para a popularização da palavra bipolar.
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