sexta-feira, 8 de abril de 2011

Para não dizerem que não falei de Realengo

Creio que não seja necessário reproduzir aqui notícias sobre a tragédia de Realengo. Todos sabem o que aconteceu naquela escola. Passemos adiante...

O que mais me surpreendeu não foi saber que Wellington tinha problemas psicológicos, mas saber que ele tinha começado um tratamento e o abandonou...

Se ele tivesse pneumonia e tentasse abandonar o tratamento, a família provavelmente o teria impedido. Porque, sem tratamento, ele acabaria morrendo... Mas não foi exatamente isso o que aconteceu? para não falar da morte dos alunos? Parece que as pessoas dão mais importância à saúde física que à saúde mental.

Se Wellington tivesse continuado com o tratamento, a tragédia de Realengo talvez não tivesse acontecido, talvez Wellington estivesse vivo e anônimo como sempre foi, isto é, não estaríamos falando sobre o que houve no Rio; este post (como milhares de outros sobre o assunto) não existiria...

Ampliemos a questão; deixemos Wellington um pouco de lado.

Se uma pessoa está em depressão profunda, ela pode cometer suicídio. Mas, se ela recebe o tratamento adequado, a possibilidade de suicídio vai ficando cada vez mais afastada. Em poucas palavras, o tratamento salva a vida do paciente. A mesma coisa acontece com quem sofre de pneumonia ou tuberculose. Mas por que, eu pergunto, as pessoas dão mais importância às doenças físicas que às doenças mentais, se ambas podem, igualmente, levar à morte?

Nem todas as doenças mentais matam, como nem todas as doenças físicas são capazes de levar ao óbito. Mas por que aquelas são tão negligenciadas? As pessoas tratam até mesmo um resfriado, mas, às vezes, não tratam sequer uma doença mais grave, se esta é mental.

Lamentar a morte das crianças de Realengo é compreensível e natural. Mas não procurar entender o que houve com Wellington é permitir que tudo possa acontecer de novo. O foco, se queremos discutir a solução do problema, não são as crianças, simplesmente porque elas não fizeram nada errado. O foco é Wellington e o tratamento interrompido...

Ele recebeu um diagnóstico e começou um tratamento... Até aí estava tudo bem. A tragédia começou quando ele abandonou o tratamento. Há casos em que não cabe ao paciente decidir e, por isso, outras pessoas decidem por ele. Mas quem quer falar de Wellington? Ninguém. Todos querem prestar solidariedade às famílias das vítimas, o que é correto e necessário; mas pouco prático para evitar novos casos.

O que houve em Realengo deveria nos levar à ação (isto é, entender o problema e tomar medidas para diminuir as possibilidades de uma nova tragédia de Realengo), mas parece que somos mais propensos à inação (isto é, lamentar, aceitar, rezar, esquecer...).


Leia mais
19 mil leitos psiquiátricos a menos
Comentando o post da Maga, do Bipolar Brasil, sobre a tragédia de Realengo
Jorge - Conto

2 comentários:

Carolina disse...

Ainda vamos ver várias tentativas de explicação do que realmente motivou esse ataque à escola ontem. E, como você mesmo disse, depois todo mundo esquece...

Anônimo disse...

O absurdo e que as pessoas ainda acham que problemas psicológicos só acontencem no vizinho.
Na sua votação sobre bipolar foi bem isso que votei.
Eu vejo estórias todos os dias: depressão, síndrome do pânico, bipolar, síndrome de asperger, etc..etc...
Estamos na vibração da Era de Aquário devemos ter consciência sobre esse mundo tecnológico e que as informações hoje são muitos claras para sabermos o que esta acontecendo dentro da própria casa.
Vamos acordar... a Psicopatia não acontece do dia pra noite. Abraço Cynthia.