Olá, Maga! Concordo com você em gênero, número e grau. É muito triste que tudo aconteça da maneira como você explicou em seu post...
O que acontece é que as pessoas leigas em geral tendem a aceitar explicações mais simples, ou pior, tendem a aceitar simplificações que não explicam nada. Por mais que psiquiatras competentes consigam explicar o que houve, as pessoas em geral continuam dizendo que Wellington fez o que fez porque era louco, que nada poderia ser feito, etc.
Eu discordo. A tragédia de Realengo começou quando Wellington abandonou o tratamento psicológico que fazia... Mas parece que ninguém entende isso, isto é, ninguém entende que um bom modo de diminuir futuros casos como esse é investir em saúde mental... Se há uma campanha para que as pessoas não abandonem o tratamento da tuberculose, por que não há campanha parecida para que as pessoas não abandonem tratamentos psicológicos? A saúde mental merece menos atenção que a saúde física? Por que os familiares de Wellington agora têm medo da reação do povo, mas não tiveram medo do que poderia acontecer quando Wellington abandonou o tratamento?
O que aconteceu em 7 de abril é consequência de anos de negligência, porque foram 7 anos em que Wellington ficou sem tratamento... A irmã dele dizia que ele era "estranho", mas por que, eu pergunto, os familiares não fizeram mais por ele do que dizer que ele era "estranho"?
Não seria surpresa se Wellington tivesse se matado (sozinho, sem envolver outras pessoas) devido à esquizofrenia, porque estava sem tratamento há 7 anos. Mas por que ninguém se importou com essa possibilidade?
Se ele tivesse tuberculose, provavelmente a família dele não o teria deixado abandonar o tratamento, simplesmente porque teriam medo de que ele morresse. Mas ora! Não foi exatamente isso o que aconteceu, justamente porque ele abandonou o tratamento? para não falar na morte das 12 crianças? Talvez eles próprios, os familiares de Wellington, não entendessem que ele era "estranho" devido a uma doença... uma doença perfeitamente tratável, o que equivale a dizer uma tragédia de Realengo perfeitamente evitável... Há milhões de esquizofrênicos em todo o Brasil, mas até hoje só houve um Wellington...
Mas ninguém quer entender o que aconteceu ou adotar certas medidas para evitar novas tragédias. É muito mais simples dizer que ele era louco e cruzar os braços. Em outros países, entretanto, eles adotaram certas medidas para diminuir o número de tais tragédias, já que evitar 100% delas é impossível...
Sobre os meios de comunicação e as explicações dadas por psiquiatras, é preciso lembrar que:
1) Os psiquiatras têm um compromisso com a ciência, com a Psiquiatria, com a verdade científica; e
2) a TV tem um compromisso com os telespectadores, com o público em geral, público este que é leigo e geralmente não assimila, não entende ou não aceita as explicações de um psiquiatra. É para esse público que a TV fala, motivo pelo qual a verdade da TV é diferente daquela verdade científica dos psiquiatras, simplesmente porque jornalistas e psiquiatras são profissionais diferentes, se dirigem a públicos diferentes, etc.
A verdade da TV tem que estar associada ao IBOPE, ao que público leigo aceita ou rejeita. Do contrário, o canal de TV não sobrevive. Enfim, os psiquiatras falam a outros psiquiatras, a um círculo menor; mas a TV fala a um grande número de pessoas, a um círculo maior e mais leigo... Um psiquiatra, quando fala a outro que Wellington era esquizofrênico, não tem que explicar o que é esquizofrenia... Um jornalista, quando fala a milhões de telespectadores, não pode explicar sem convencer, ou a matéria não terá aceitação...
Os psiquiatras e os jornalistas têm objetivos diferentes, falam a públicos diferentes; e é curioso quando eles são colocados lado a lado num programa de TV... Como você mesma disse, no programa da Globo News os dois especialistas queriam dizer uma coisa, mas a jornalista queria ou esperava que eles dissessem outra... Não vi o programa, mas confio em seu post... Acredito que você seja uma boa observadora!
A explicação que mais parece agradar às pessoas em geral é a de que Wellington era louco (uma simplificação). E a explicação que mais parece agradar às autoridades é a de que nada podia ser feito, isto é, as autoridades não têm que fazer nada para evitar futuros casos, fica tudo como está... Mas essas duas explicações simplificadas não sairão da boca de um bom psiquiatra, isto é, a verdade complexa, a única que explica o que houve, ficará restrita a um pequeno círculo de especialistas...
Graças a Deus a imprensa também é capaz de passar excelentes informações; e eu gosto de ver esses pequenos deslizes como exceções ou casos à parte, especialmente quando algo inusitado acontece e tudo é dito de improviso... A tragédia de Realengo foi a maior surpresa da imprensa nacional nos últimos tempos, e as notícias sobre o caso foram também um grande improviso, sem matérias anteriores que servissem de base para essa... Os casos anteriores que aconteceram no Brasil nem de longe se comparam a esse...
Talvez alguém diga que todas as notícias são inusitadas e que todas as matérias jornalísticas são escritas de improviso. Explico: Notícias de assassinatos, roubos, etc. são corriqueiras; já há, mais ou menos esboçado, um formato para tais matérias. Mas o caso de Realengo foi bem diferente...
Ah, sim! Uma última coisa que quase ninguém parece entender. Ele não era psicopata, mas psicótico, o que já é outra coisa bem diferente. Mas quem quer saber? Wellington era louco e isso explica tudo... Continuemos com nossas vidas como sempre o fizemos... Afinal, é um assunto tão desagradável; não pensemos mais nele...
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Jorge - Conto
Um comentário:
gostei do comentário o governo não investe na saúde mantal somos ignorantes e não aceitamos que a doença mental também mata como qualquer outra.muitos desses doentes são deixado de lado pela família o preconceito talvez seja maior em casa.
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