sexta-feira, 10 de junho de 2011

"Tá parecendo bipolar que nem a Raquel. Uma hora tá apaixonadinho, outra hora tá com raiva."

Quem viu Malhação dia 8 de junho, ouviu um dos personagens dizer Tá parecendo bipolar que nem a Raquel. Uma hora tá apaixonadinho, outra hora tá com raiva.

Eis aí um exemplo de como a palavra bipolar vem sendo usada em linguagem popular. Tornou-se sinônimo de inconstante, de instável emocionalmente. O curioso, nesse caso, é que usaram a palavra bipolar (com o sentido popular que ela tem) para se referir a uma bipolar de verdade!

Tenhamos em mente que bipolar (no popular) não corresponde à bipolar (na linguagem dos médicos). A palavra é a mesma, mas o que ela significa, em uma e outra linguagem, difere... Em resumo, se você diz bipolar para um médico, ele imaginará X; mas, se você diz bipolar para um leigo, ele imaginará Y!

Palavras são símbolos.

Sendo assim, o que um médico, um psiquiatra imagina quando dizemos que a Raquel é bipolar? Certamente, ele imagina que ela deve recorrer a medicamentos para estabilizar o humor, que ela não deve beber álcool nem café, que deve evitar estressores, que a psicoterapia seria muito bem-vinda, etc. Um leigo, entretanto, não imagina nada disso. De modo geral, os leigos que sabem o que é TAB ou são bipolares ou convivem com bipolares. Ou pelo menos viram um bom documentário na TV, dividido em 390 episódios.... Pois é! A mesma TV que deseduca, também educa...

Ainda assim, estamos falando de um número pequeno de leigos que conhecem o TAB de verdade, porque nem todos eles se interessam pelo assunto ainda que sejam bipolares ou tenham parentes bipolares... Isso mesmo, há bipolares que não procuram se informar, ao menos não a fundo. É um Dá-me cá a receita e não falemos mais no assunto, doutor... No caso de parentes, às vezes é um Já não te paguei a consulta e os remédios? será que você ainda tá com isso?! Ou Você vai tomar esses remédios até quando? Você já tá melhor, pode parar com os remédios... E a palavra bipolar vai entrando meio torta, meio deformada no nosso dia-a-dia, através da TV, de alguns bipolares, de alguns parentes de bipolares, dos que já a ouviram pelo menos uma vez ou outra...

Sobre bipolares que não querem se informar a fundo sobre o TAB, é compreensível. Ninguém quer se aproximar de algo que o faz sofrer, mas talvez a desinformação sobre o assunto traga mais sofrimentos ainda... O bipolar que conhece o TAB a fundo, conhece melhor a si mesmo. Quanto mais complicada é uma coisa, mais você deve conhecê-la bem para lidar com ela da melhor maneira possível. Seja como for, à parte o bom-senso e a necessidade, é um direito das pessoas se informarem ou não.

Enfim, como dizia a sábia inscrição na entrada do templo de Delfos, conhece-te a ti mesmo.

Mas... onde estou com a cabeça? Comecei falando de Malhação e acabei falando do Mundo Antigo; fui do Projac no Rio a Delfos na Grécia sem ter concluído o post! Vamos à conclusão...

Veja: Um mulher leiga não diz que está meio grávida, a não ser de brincadeira; mas muitas pessoas já dizem, seriamente, que são meio bipolares...

Meio?... Metade?... É, pode ser...

Mas e você, bipolar de verdade que me visita neste blog e acabou de ler este post, o que você acha disto? Você consegue usar a palavra bipolar com o sentido que ela tem na linguagem popular? Você consegue dizer que está meio bipolar?...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Espalhe este selo por aí

No final da coluna à direita deste blog, desde o dia 6, há um selinho para copiar e colar.

A mudança de estações do ano lembra bastante a alternância entre euforia e depressão que há no Transtorno Bipolar, especialmente para os que conhecem o mito de Deméter.

O mito de Deméter fala em dois períodos que se sucedem. Um deles abrange o outuno e o inverno; o outro abarca a primavera e o verão.

Não preciso dizer que outono e inverno corresponderiam à depressão enquanto primavera e verão, à euforia.

Talvez alguém pergunte: Mas porque há folhas secas no selo e não um sol brilhante, que é mais alegre? Resposta: Um conjunto de folhas secas é a imagem que melhor nos dá a ideia de mudança das estações do ano.

Mas por que não usar uma imagem de Deméter? Resposta: As imagens mais famosas de Deméter são antigas, sérias, pesadas. Uma imagem mais leve e moderna teria mais aceitação. Além do mais, só um círculo pequeno de pessoas conhece ao mesmo tempo o mito de Deméter (Mitologia) e telas famosas que retratem Deméter (Pintura). Para muitas pessoas, seria apenas a imagem de uma mulher...

Por fim, da mesma forma que o mito de Narciso representa o Autismo, não vejo melhor mito do que o de Deméter para representar o Transtorno Bipolar...

terça-feira, 7 de junho de 2011

Bipolares famosos - Lord Byron - Versos inscritos numa taça feita de um crânio

Tradução de Castro Alves

Não, não te assustes: não fugiu o meu espírito.
Vê em mim um crânio, o único que existe
Do qual, muito ao contrário de uma fronte viva,
Tudo aquilo que flui jamais é triste.

Vivi, amei, bebi, tal como tu; morri;
Que renuncie a terra aos ossos meus.
Enche! Não podes injuriar-me; tem o verme
Lábios mais repugnantes do que os teus olhos.

Onde outrora brilhou, talvez, minha razão,
Para ajudar os outros brilhe agora eu;
Substituto haverá mais nobre que o vinho
Se o nosso cérebro já se perdeu?

Bebe enquanto puderes; quando tu e os teus
Já tiverdes partido, uma outra gente
Possa te redimir da terra que abraçar-te,
E festeje com o morto e a própria rima tente.

E por que não? Se as frontes geram tal tristeza
Através da existência curto dia ,
Redimidas dos vermes e da argila
Ao menos possam ter alguma serventia.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Bipolares não-diagnosticados

Talvez você, leitor bipolar que visita este blog nas horas vagas, se pergunte: Como alguém pode ser bipolar se não recebeu o diagnóstico de TAB? Nesse caso, eu diria: Tente se lembrar de quando surgiram seus primeiros sintomas e de quando você recebeu o diagnóstico. Entre um momento e outro, quanto tempo se passou? 2 anos? 5? 10? Nesse meio-tempo, você foi um bipolar não-diagnosticado... Creia em mim!

Nesse meio-tempo, da mesma forma que os os dabéticos não-diagnosticados consomem açúcar, você provavelmente consumiu álcool, café e tudo o mais que não podia. Afinal, você não sabia de sua condição clínica, talvez nem imaginasse...

Nesse meio-tempo, as pessoas notavam as suas variações de humor e achavam tudo normal, ou encontravam uma justificativa. Afinal, todo o mundo tem seus altos e baixos. Mas, se o seu gato de estimação morre e você fica deprimido dois meses, isso é uma frescura; logo passa. E, se não passa, as pessoas se afastam e já não dizem que é frescura, porque estão ausentes...

Se você está eufórico, que mal há? Os vendedores adoram, você está gastando mais. E as pessoas desconhecidas que te veem eufórico nunca te viram deprimido para comparar. Você está contente; irradia felicidade. O que há de mal na felicidade? Quem te critica, está com inveja!

Mas, durante uma depressão, você é impelido a ir ao médico e recebe o diagnóstico de depressão unipolar. O que há de errado? Nada! Afinal, você estava se sentindo para baixo e não esperava outro diagnóstico. Ninguém esperava. É só uma depressão e, se não fosse a incapacidade para o trabalho, você não teria ido ao médico. Exageros do psicólogo da empresa... Para que remédios?

Você estava numa fase de mania e bebeu demais? Ah, então sua animação se devia ao álcool, está explicado! Todo o mundo passa da conta de vez em quando e faz coisas que, sóbrio, nunca faria. Quem nunca bebeu demais? Bebedeira não é doença!

Até que um dia acontece alguma coisa grave; algo está realmente errado. Tão errado que agora todos conseguem notar... Os sintomas mais leves não foram sequer notados; os mais graves foram ignorados. Um longo tempo se passou... Você, nesse período, talvez tenha magoado a alguém que não merecia ser magoado, terminado um casamento, desfeito uma sociedade, torrado todo o seu dinheiro... Talvez tenha arriscado a vida durante uma fase de mania ou atentado contra a própria existência durante uma fase depressiva. Você podia ter morrido, alguns bipolares realmente morrem antes de receber o diagnóstico correto...

Mas você está vivo? Bom. Você recebeu o diagnóstico correto e está se tratando? Melhor ainda. Significa que você sobreviveu à fase do não-diagnóstico, que, em média, leva dez anos.

Nem todos têm essa "sorte".


Moral da história? Todo bipolar diagnosticado, um dia, já foi um bipolar não-diagnosticado. Mas nem todo bipolar não-diagnosticado será, algum dia, diagnosticado...


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Transtorno Bipolar
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