Quem viu Malhação dia 8 de junho, ouviu um dos personagens dizer Tá parecendo bipolar que nem a Raquel. Uma hora tá apaixonadinho, outra hora tá com raiva.
Eis aí um exemplo de como a palavra bipolar vem sendo usada em linguagem popular. Tornou-se sinônimo de inconstante, de instável emocionalmente. O curioso, nesse caso, é que usaram a palavra bipolar (com o sentido popular que ela tem) para se referir a uma bipolar de verdade!
Tenhamos em mente que bipolar (no popular) não corresponde à bipolar (na linguagem dos médicos). A palavra é a mesma, mas o que ela significa, em uma e outra linguagem, difere... Em resumo, se você diz bipolar para um médico, ele imaginará X; mas, se você diz bipolar para um leigo, ele imaginará Y!
Palavras são símbolos.
Sendo assim, o que um médico, um psiquiatra imagina quando dizemos que a Raquel é bipolar? Certamente, ele imagina que ela deve recorrer a medicamentos para estabilizar o humor, que ela não deve beber álcool nem café, que deve evitar estressores, que a psicoterapia seria muito bem-vinda, etc. Um leigo, entretanto, não imagina nada disso. De modo geral, os leigos que sabem o que é TAB ou são bipolares ou convivem com bipolares. Ou pelo menos viram um bom documentário na TV, dividido em 390 episódios.... Pois é! A mesma TV que deseduca, também educa...
Ainda assim, estamos falando de um número pequeno de leigos que conhecem o TAB de verdade, porque nem todos eles se interessam pelo assunto ainda que sejam bipolares ou tenham parentes bipolares... Isso mesmo, há bipolares que não procuram se informar, ao menos não a fundo. É um Dá-me cá a receita e não falemos mais no assunto, doutor... No caso de parentes, às vezes é um Já não te paguei a consulta e os remédios? será que você ainda tá com isso?! Ou Você vai tomar esses remédios até quando? Você já tá melhor, pode parar com os remédios... E a palavra bipolar vai entrando meio torta, meio deformada no nosso dia-a-dia, através da TV, de alguns bipolares, de alguns parentes de bipolares, dos que já a ouviram pelo menos uma vez ou outra...
Sobre bipolares que não querem se informar a fundo sobre o TAB, é compreensível. Ninguém quer se aproximar de algo que o faz sofrer, mas talvez a desinformação sobre o assunto traga mais sofrimentos ainda... O bipolar que conhece o TAB a fundo, conhece melhor a si mesmo. Quanto mais complicada é uma coisa, mais você deve conhecê-la bem para lidar com ela da melhor maneira possível. Seja como for, à parte o bom-senso e a necessidade, é um direito das pessoas se informarem ou não.
Enfim, como dizia a sábia inscrição na entrada do templo de Delfos, conhece-te a ti mesmo.
Mas... onde estou com a cabeça? Comecei falando de Malhação e acabei falando do Mundo Antigo; fui do Projac no Rio a Delfos na Grécia sem ter concluído o post! Vamos à conclusão...
Veja: Um mulher leiga não diz que está meio grávida, a não ser de brincadeira; mas muitas pessoas já dizem, seriamente, que são meio bipolares...
Meio?... Metade?... É, pode ser...
Mas e você, bipolar de verdade que me visita neste blog e acabou de ler este post, o que você acha disto? Você consegue usar a palavra bipolar com o sentido que ela tem na linguagem popular? Você consegue dizer que está meio bipolar?...