A inquietude de Juliana Schalch é indisfarçável. Com grandes e amendoados olhos esverdeados, a atriz paulistana mal consegue conter seus gestos expansivos quando analisa Marta, sua personagem em O Brado Retumbante. Na minissérie, que estreia na TV Globo no dia 17 de janeiro, ela sofre de transtorno bipolar e bate de frente com o pai, o presidente da República do Brasil Paulo Ventura, vivido por Domingos Montagner.
Mulherengo e distante da família, o político é casado com a primeira dama Antônia, papel de Maria Fernanda Cândido, que faz de tudo para proteger e compreender a filha. Quem também ajuda Marta com seu transtorno psíquico é seu marido, o apaixonado empresário Tony, interpretado por Leopoldo Pacheco.
Na construção para o papel, Juliana voltou ao passado - a atriz quase se formou em psicologia pela PUC de São Paulo, o que ajudou na busca por referências psicológicas para construir o perfil instável da personagem. "Procurei o que seria uma bipolaridade em mim para transmitir isso na Marta. Senti as emoções da personagem na última potência", avalia Juliana, que também solicitou a orientação de psicanalistas para o trabalho.
Outro álibi da atriz nesta composição contemporânea e absolutamente atual foi tentar encontrar as nuances da personagem através da música. Para se inspirar nas cenas mais tensas, Juliana ouviu muitas bandas de punk rock. Já nos momentos mais amenos e serenos, se concentrou em canções de jazz e blues, para moldar a psique de Marta.
A atriz vê a personagem como uma eterna incompreendida pelo pai, absolutamente racional, e, por isso, acaba sendo acolhida paternalmente pelo marido, Tony, seu superprotetor na história. No entanto, sua personagem também acolhe outros, como o irmão, de forma ainda mais delicada. Na história, ele é um transexual que faz uma cirurgia para mudar de sexo e virar mulher em Los Angeles. Ao chegar ao Brasil, Marta o hospeda em sua casa e enfrenta a incompreensão do pai com a decisão sexual do filho. "Ela vira uma mãe para o irmão", explica, arregalando os olhos e fazendo sutis movimentos de alongamento.
Nitidamente, Juliana ainda está assimilando um papel de tamanha densidade para a TV. Afinal, antes da minissérie de Euclydes Marinho, dirigida por Ricardo Waddington, a atriz só havia feito pequenas participações em novelas. Estreou como a determinada Juliana de Três Irmãs, em 2007, e já atuou em 2011na pele da meiga Lara, de Morde e Assopra. "Mas nada chega perto da Marta. Amo a maquiagem, os anéis, o jeito irreverente dela ser e se vestir", compara.
No cinema, a atriz também tem começado a ganhar destaque. Depois de participações em longas como VIPs e Tropa de Elite 2, a paulistana protagonizou recentemente seu primeiro filme, Os 3. Na trama de Nando Olival, em cartaz nos cinemas, ela interpreta Camila, uma mulher que se envolve simultaneamente com dois homens, que fazem de seu cotidiano um "reality show", com câmaras espalhadas pela casa.
"A Camila é independente, mas meio menina. A Marta é mais mulher, mais intensa. Ela muda minha trajetória como atriz. Mostra um lado meu que nunca foi visto na tevê", finaliza.
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