Tudo muda, já como não devia,
E no mundo não há assentar-me firme,
Pois não sei, sempre ledo, conduzir-me;
E assim vivo mudado, a cada dia.
Põe-se o Sol (que a brilhar nos aturdia),
Mas, perdido eu em dias, lá reunir-me
Não sei como convinha, já a ruir-me
Se hoje não me vi como ontem me via.
Manhãs vindas, diversos sentimentos;
O Sol vai e retorna, sempre igual,
Mas não para brilhar sobre igual rosto.
Não há risos eternos, ou tormentos;
E venha o Sol por meu bem, ou meu mal,
Cá um dia não me encontrará em meu posto.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Mãos dadas, de Drummond
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o meu futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
Também não cantarei o meu futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicidas,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
O tempo é minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
sábado, 23 de abril de 2011
Tipos de Blogs
Eu costumo dividir os blogs em cinco tipos (partindo daquela ideia de Pound que dividia os escritores em 6 grupos. Para blogs, 4 tipos básicos, além de 1 tipo misto, serão suficientes):
1. Criadores
São os blogs que apresentam ideias originais ou que inovam de alguma maneira.
Os posts criados pelos blogs Criadores nunca foram vistos antes, são a origem de todas as variantes, cópias ou cacoetes que você verá depois.
Em poucas palavras, os Criadores são a origem ou a mãe (com todo o respeito!) de todos os outros blogs...
Os Criadores criam.
2. Aperfeiçoadores
São os blogs que acrescentam algo às ideias já existentes, melhorando-as.
Se estivéssemos falando de aviação, eu diria que Santos Dummond foi Criador, porque criou o 14 Bis; e que os inventores do Concorde são Aperfeiçoadores, porque melhoraram em 1000 vezes o 14 Bis, mas, ainda assim, não inventaram o avião...
Os blogs Aperfeiçoadores podem ter várias funções: a) atualizar um texto antigo, que já não fazia sentido hoje em dia; b) corrigir um texto excelente, mas que continha erros; c) fazer com que os leitores se interessem por uma ideia que já não causava interesse; etc.
Os Aperfeiçoadores apenas não são capazes de uma coisa: de serem os primeiros a ter a ideia, do contrário seriam Criadores e, não, Aperfeiçoadores...
Os Aperfeiçoadores têm função oposta à dos Corruptores.
3. Disseminadores
São os blogs que passam adiante as ideias já existentes, mas sem acrescentar nada a elas.
Os Disseminadores não são capazes de criar ideias ou de aperfeiçoá-las. Eles simplesmente disseminam ideias vistas em outros blogs.
Os Disseminadores fazem com que circulem, com maior ou menor graça, as ideias originais dos Criadores, ou as ideias melhoradas dos Aperfeiçoadores. Há quatro tipos de Disseminadores:
Os Copistas simplesmente repassam um texto adiante, sem reescrevê-lo. Os blogs que reproduzem poemas, frases, mensagens, etc., não alteram os textos que publicam. Um blog especializado em publicar poemas de autores famosos, certamente não alterará os poemas desses poetas.
Os Compiladores reúnem num só lugar textos que andam espalhados por aí. Exemplo: Antes você tinha que visitar vários endereços na Net para encontrar todos os textos já publicados sobre o tema X, até que um dia alguém decidiu reuni-los num único blog. Pronto! Acabou a sua peregrinação.
Os Intérpretes reescrevem os textos que encontram, utilizando suas próprias palavras, mas mantendo as ideias originais intactas, sem prejuízo de tais ideias. São eles que criam variantes para as ideias originais, acham ou imaginam exemplos concretos para ideias abstratas, desenvolvem textos curtos ou resumem textos longos. Mas eles não acrescentam ideias novas às ideias antigas, nem as aperfeiçoam. Do contrário, seriam ou Criadores ou Aperfeiçoadores.
Um Disseminador pode ser Compilador e Intérprete ao mesmo tempo, se ele reescreve os textos que reproduz, mas não poderia ser, a um só tempo, Copista e Intérprete.
Os Tradutores são Disseminadores Intérpretes que conhecem outras línguas.
Os Disseminadores não aperfeiçoam nem corrompem.
4. Corruptores
Sãos os blogs que passam adiante as ideias já existentes, mas deformando ou corrompendo-as. Há dois tipos de Corruptores:
Os Corruptores ingênuos ou Corruptores de boa-fé, diferentemente dos Disseminadores Intérpretes, são maus intérpretes. Eles permitem que as ideias se degenerem ou adquiram um sentido diferente quando tentam reescrevê-las.
Os Corruptores ingênuos têm o mesmo objetivo dos Disseminadores Intérpretes, mas, diferentemente destes que alcançam bons resultados, aqueles alcançam maus resultados.
O que poderíamos dizer a favor dos Corruptores ingênuos é que costumam ser blogs mantidos por pessoas de mentalidade ingênua, isto é, por pessoas que não possuem a chamada mentalidade crítica. São os analfabetos funcionais da blogosfera, porque interpretam de maneira equivocada os textos que reproduzem.
Os Corruptores conscientes ou Corruptores de má-fé são os que corrompem uma ideia de maneira intencional. Geralmente eles têm um motivo para isso, ou simplesmente acham graça ao fazerem uma ideia circular com outro sentido diferente do original.
Os Corruptores, ingênuos ou não, têm função oposta à dos Aperfeiçoadores.
5. Mistos
Os posts de um blog serão, predominantemente, Criadores ou Aperfeiçoadores, Disseminadores ou Corruptores. Do contrário, quando não haja predomínio, poderemos falar em blogs Mistos.
Em resumo
Em resumo, os blogs Criadores e Aperfeiçoadores são excelentes ou bons; os blogs Disseminadores são bons ou aceitáveis; mas os blogs Corruptores são maus ou inoportunos.
Pound
Se você já conhecia aquela divisão de Pound mencionada no início deste post, significa que eu poderia ter poupado um bocado de explicações. Porque, grosso modo, os blogs Criadores corresponderiam aos escritores Gênios ou Inventores; os blogs Aperfeiçoadores, aos escritores Mestres; etc.
Qual o seu tipo de blog?
Procure descobrir se o seu tipo de blog é Criador, Aperfeiçoador ou Disseminador. Também procure descobrir se você anda visitando blogs Corruptores, etc.
Leia mais
Meu querido mundo virtual
Por que alguns blogs são mais visitados que outros
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Laura Pausini - Strani amori
TRADUÇÃO DO BLOG
Estranhos Amores
Strani Amori
Mi dispiace, devo andare via.
Me desagrada, devo ir embora.
Ma sapevo che era una bugia.
Mas eu sabia que era uma mentira.
Quanto tempo perso dietro a lui,
Quanto tempo perdido atrás dele,
Che promette e poi non cambia mai!
Que promete e depois não muda nunca!
Strani amori mettono nei guai.
Estranhos amores nos metem em problemas.
Ma, in realtà, siamo noi
Mas, na realidade, somos nós [que nos metemos neles].
E lo aspetti ad un telefono,
E você o espera junto a um telefone [isto é, espera uma ligação dele],
Litigando che sia libero,
Brigando para que [a linha] seja livre,
Con il cuore nello stomaco,
Com o coração no estômago,
Un gomitolo nell'angolo,
Um novelo no canto,
Lì da sola, dentro un brivido,
Ali sozinha, dentro um calafrio,
Ma perché lui non c'è.
Mas só porque ele não está lá, do outro lado da linha.
E sono strani amori che
E são estranhos amores que
Fanno crescere e sorridere
Fazem crescer e sorrir
Fra le lacrime.
Entre as lágrimas.
Quante pagine lì da scrivere,
Quantas págias ali a escrever,
Sogni e lividi da dividere.
Sonhos e decepções para compartilhar.
Sono amori che spesso a questa età
São amores que frequentemente nesta idade
Si confondono dentro a quest'anima
Se confundem dentro desta alma
Che si interroga senza decidere
Que se interroga sem decidir
Se è un amore che fa per noi.
Se é um amor que faz bem a nós.
E quante notti perse a piangere,
E quantas noites perdidas a chorar,
Rileggendo quelle lettere,
Relendo aquelas cartas,
Che non riesci più a buttare via
Que você não consegue mais jogar fora
Dal labirinto della nostalgia.
Do labirinto da nostalgia.
Grandi amori che finiscono,
Grandes amores que acabam,
Ma perché restano nel cuore.
Mas porque ficam no coração.
Strani amori che vanno e vengono
Estranhos amores que vão e vêm
Nei pensieri che lì nascondono
Nos pensamentos que ali escondem
Storie vere che ci appartengono,
Histórias verdadeiras que nos afastam,
Ma si lasciano come noi.
Mas se abandonam [isto é, são abandonadas] como nós [somos abandonados].
Strani amori fragili
Estranhos amores frágeis,
Prigionieri, liberi.
Prisioneiros, livres.
Strani amori mettono nei guai,
Estranhos amores nos metem em problemas,
Ma, in realtà, siamo noi.
Mas, na realidade, somos nós.
Strani amori fragili,
Estranhos amores frágeis,
Prigionieri, liberi.
Prisioneiros, livres.
Strani amori che non sanno vivere
Estranhos amores que não sabem viver
E si perdono dentro noi.
E se perdem dentro de nós.
Mi dispiace devo andare via.
Me desagrada, devo ir embora.
Questa volta l'ho promesso a me,
Desta vez prometi a mim ir embora, te deixar,
Perché ho voglia di un amore vero,
Porque tenho vontade de um amor verdadeiro,
Senza te.
Sem você.
Marcadores:
italiano,
Laura Pausini,
Strani Amori,
tradução,
vídeo,
videoclip,
youtube
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Diário bipolar
A Ana, do Solar Bipolar, mantém um diário. Obviamente, trata-se de um diário on line, porque estamos falando de um blog.
Um bom psiquiatra ou psicólogo se vale não só de relatos do paciente e de seu comportamento duante as consultas, mas também de documentos como diários, cartas, fotos, desenhos, poemas, letras de música, testemunhos de parentes e amigos, etc.
No diário, se ele é atualizado com frequência, haverá trechos escritos durante as fases de mania e de depressão, e também trechos escritos durante os períodos de vida normal, se por acaso eles existam e constem do diário. Com sorte, se o bipolar começou com o diário antes mesmo do surgimento do TAB, teremos outro período relevante de sua vida, que, certamente, interessará a um bom psiquiatra ou psicólogo.
Um psiquiatra ou psicólogo pode consultar esse diário a qualquer momento, reunindo os elementos essenciais a um diagnóstico e também aqueles elementos interessantes ou curiosos, raros ou nunca vistos em Literatura médica, procurando caracterizar ou descaracterizar as fases de mania e de depressão, ou quaisquer fases que possam caracterizar o TAB; ainda que, de ambos os profissionais, só o psiquiatra realmente possa dar o diagnóstico.
Um bipolar, entretanto, verificará esses momentos mais facilmente durante seus períodos de vida normal, relendo seu diário bipolar. Então ele perceberá como pensava, falava e se portava durante as fases de mania, por exemplo, e terá uma visão de si mesmo que não teve ou não pôde ter durante essa fase. Mais ainda, o bipolar notará como os seus textos variam entre as fases de mania e de depressão; e esse contraste entre os textos de uma fase e outra realçará a diferença entre eles, tornando essas variações ainda mais perceptíveis, inclusive, aos olhos do leitor leigo.
Durante uma fase de mania, não é surpresa que o bipolar escreva textos maiores, frases mais longas, com menos pontuação, isto é, com menos pausas como se falasse quase sem parar. Isso acontece especialmente com aquelas pessoas que escrevem como falam, o que é muito comum quando não se recorre a técnicas ou a recursos que afastam a linguagem escrita da linguagem falada. É o que acontece com 99,9% das pessoas, bipolares ou não.
Ainda assim, não seria numa fase de mania que um bipolar empregaria essas técnicas ou adotaria esses recursos de maneira 100% fria. Sabemos que um bipolar, durante uma fase de mania, procura fazer tudo exatamente como deseja, buscando passar por qualquer obstáculo que lhe tolha a realização de sua plena vontade. Isso inclui a sua maneira de escrever, que provavelmente não se deterá diante de regras e fórmulas literárias, a não ser que estejamos falando de um Ernest Hemingway, acostumado desde cedo a escrever, seja como jornalista, seja como romancista.
Romances: Hemingway
Ainda assim, mesmo num caso como o de Hemingway, também podemos encontrar elementos em sua obra que falem a favor de um diagnóstico de TAB. Como eu dizia acima, tudo o que um bipolar produz (quanto maior o conjunto de obras produzidas, melhor) pode ajudar a caracterizar ou mesmo caracterizar o TAB.
Pintura: Van Gogh
O diário de Van Gogh, obviamente, não era de papel nem eletrônico. Era de tecido. E ele escrevia com pincéis...
Se tivermos em mente o caso de Van Gogh, outro bipolar famoso, eu falaria algo sobre sua tela Campo de Trigo com Corvos (a imagem reproduzida abaixo). Ela possui elementos muito fortes que confirmam ou ajudam a confirmar o TAB de Van Gogh. O campo de trigo, tão vivo e tão alegre, nos lembra a mania. O céu, negro e sombrio, com corvos, nos lembra a depressão.
Ainda há algo nessa tela, entretanto, que me chama a atenção. É o caminho que atravessa o campo de trigo em direção do horizente, até sumir. O que, exatamente, esse caminho significa? Opções: 1) é uma simples parte da paisagem pintada por Van Gogh; 2) é o elemente que liga as duas fases, a de mania e de depressão; 3) é o caminho que o bipolar percorre entre uma fase e outra, e não tem a ver com o TAB; 4) é o caminho que todos fazemos nesta vida, ou seja, é o livre-arbítrio até onde o TAB permite que um bipolar o exerça; 5) Van Gogh não pensou em nada disso enquanto pintava a tela.
Provavelmente a opção 5 é correta, o que não exclui, entretanto, a possibilidade de o caminho ter algum significado...
Campo de Trigo com Corvos é tida como a última tela de Van Gogh e, como eu disse, aquela que melhor representa ou representaria o seu TAB.
Letras de música: Cazuza
Com base nas letras das canções que Cazuza compunha, podemos falar sobre um diagnóstico de TAB. Obviamente, há outros elementos que devem ser levados em conta, como sua biografia, o relato de sua mãe e amigos, etc.
O que eu quero dizer, veja bem, é que assim como um diário, as letras de música que um bipolar compõe podem falar bastante a favor de um diagnóstico de TAB; mas não devem ou não deveriam ser os únicos elementos a observar se temos outros para levar em conta.
Letras de música e pequenos poemas esporádicos não são extamente textos longos como os que vemos em romances de 100 ou 200 páginas. Um romance, não só pela extensão da obra, seria mais rico em elementos para análise. Haveria cenas concretas, diálogos, adágios, monólogos, metáforas, etc., na medida em que o romance fosse rico em variações.
Ainda assim, é ingenuidade pensar que todo poema, por exemplo, é uma biografia. Pensar assim, é menosprezar o artista, porque o bom artista cria, ainda que possa recorrer à sua biografia para realizar tal tarefa. Devemos observar, antes de tudo, como ele se expressa e, não exatamente ou nem sempre, o que ele expressa.
Outros documentos
Acima, eu também falava de outros documentos. Talvez as fotos sejam o que mais possam causar estranheza ao leitor deste blog. Mas explico:
A maneira de se vestir também dirá muito sobre o paciente. E pelas fotos poderemos ver isso em vários momentos, especialmente se as fotos compreendem um período de tempo realmente grande.
Seja como for, qualquer foto é útil, especialmente fotos que mostrem o paciente dentro de um contexto. Podemos compará-lo às outras pessoas que aparecem na foto e ver se sua expressão facial, por exemplo, é proporcional ou adequada à ocasião. Podemos ver, também, se sua maneira de vestir é adequada à ocasião ou exagerada.
Sei que cada pessoa tem a sua maneira de vestir, que umas são mais exageradas ou mais recatadas que as outras. Mas o vestuário não deixa de ser um reflexo do comportamento humano ou um espelho do humor das pessoas. Uma roupa pode ser tão extravagante como uma crise de mania ou como a maneira de falar de um bipolar durante essa fase. Como se vê, não se trata apenas de uma questão de gostos.
Em todo caso, um bom psiquiatra ou psicológo recorrerá ao maior número possível de documentos e testemunhos. Quanto mais elementos para analisar, menores serão as possibilidades de erro.
Procurar abranger o maior período possível da vida do paciente também é excelente, especialmente se podemos saber como ele se comportava antes do surgimento do TAB. Em poucas palavras: Qual é o seu temperamento de base? Ele aparece entre uma crise e outra tal como era antes do aparecimento do transtorno bipolar? Do contrário, e se o paciente não está em crise, o que temos?
Já falei em outro post que há sintomas leves que costumam flutuar entre uma crise e outra, e que isso costuma acontecer em metade do tempo.
Consultas
Se você deseja ir a um profissional e perguntar sobre um possível diagnóstico de TAB para você ou para um parente, reúna o maior número possível de elementos.
Obviamente, se você pergunta a um profissional se seu namorado ou amigo é bipolar, ele não poderá te dar um diagnóstico à distância, sem a presença de seu namorado ou amigo. Mas assim ele já poderia te aclarar algumas dúvidas, e você, certamente, ficaria mais à vontade para insistir com aquele namorado ou amigo cabeça-dura sobre uma ida a um profissional.
Um bom psiquiatra ou psicólogo se vale não só de relatos do paciente e de seu comportamento duante as consultas, mas também de documentos como diários, cartas, fotos, desenhos, poemas, letras de música, testemunhos de parentes e amigos, etc.
No diário, se ele é atualizado com frequência, haverá trechos escritos durante as fases de mania e de depressão, e também trechos escritos durante os períodos de vida normal, se por acaso eles existam e constem do diário. Com sorte, se o bipolar começou com o diário antes mesmo do surgimento do TAB, teremos outro período relevante de sua vida, que, certamente, interessará a um bom psiquiatra ou psicólogo.
Um psiquiatra ou psicólogo pode consultar esse diário a qualquer momento, reunindo os elementos essenciais a um diagnóstico e também aqueles elementos interessantes ou curiosos, raros ou nunca vistos em Literatura médica, procurando caracterizar ou descaracterizar as fases de mania e de depressão, ou quaisquer fases que possam caracterizar o TAB; ainda que, de ambos os profissionais, só o psiquiatra realmente possa dar o diagnóstico.
Um bipolar, entretanto, verificará esses momentos mais facilmente durante seus períodos de vida normal, relendo seu diário bipolar. Então ele perceberá como pensava, falava e se portava durante as fases de mania, por exemplo, e terá uma visão de si mesmo que não teve ou não pôde ter durante essa fase. Mais ainda, o bipolar notará como os seus textos variam entre as fases de mania e de depressão; e esse contraste entre os textos de uma fase e outra realçará a diferença entre eles, tornando essas variações ainda mais perceptíveis, inclusive, aos olhos do leitor leigo.
Durante uma fase de mania, não é surpresa que o bipolar escreva textos maiores, frases mais longas, com menos pontuação, isto é, com menos pausas como se falasse quase sem parar. Isso acontece especialmente com aquelas pessoas que escrevem como falam, o que é muito comum quando não se recorre a técnicas ou a recursos que afastam a linguagem escrita da linguagem falada. É o que acontece com 99,9% das pessoas, bipolares ou não.
Ainda assim, não seria numa fase de mania que um bipolar empregaria essas técnicas ou adotaria esses recursos de maneira 100% fria. Sabemos que um bipolar, durante uma fase de mania, procura fazer tudo exatamente como deseja, buscando passar por qualquer obstáculo que lhe tolha a realização de sua plena vontade. Isso inclui a sua maneira de escrever, que provavelmente não se deterá diante de regras e fórmulas literárias, a não ser que estejamos falando de um Ernest Hemingway, acostumado desde cedo a escrever, seja como jornalista, seja como romancista.
Romances: Hemingway
Ainda assim, mesmo num caso como o de Hemingway, também podemos encontrar elementos em sua obra que falem a favor de um diagnóstico de TAB. Como eu dizia acima, tudo o que um bipolar produz (quanto maior o conjunto de obras produzidas, melhor) pode ajudar a caracterizar ou mesmo caracterizar o TAB.
Pintura: Van Gogh
O diário de Van Gogh, obviamente, não era de papel nem eletrônico. Era de tecido. E ele escrevia com pincéis...
Se tivermos em mente o caso de Van Gogh, outro bipolar famoso, eu falaria algo sobre sua tela Campo de Trigo com Corvos (a imagem reproduzida abaixo). Ela possui elementos muito fortes que confirmam ou ajudam a confirmar o TAB de Van Gogh. O campo de trigo, tão vivo e tão alegre, nos lembra a mania. O céu, negro e sombrio, com corvos, nos lembra a depressão.
Ainda há algo nessa tela, entretanto, que me chama a atenção. É o caminho que atravessa o campo de trigo em direção do horizente, até sumir. O que, exatamente, esse caminho significa? Opções: 1) é uma simples parte da paisagem pintada por Van Gogh; 2) é o elemente que liga as duas fases, a de mania e de depressão; 3) é o caminho que o bipolar percorre entre uma fase e outra, e não tem a ver com o TAB; 4) é o caminho que todos fazemos nesta vida, ou seja, é o livre-arbítrio até onde o TAB permite que um bipolar o exerça; 5) Van Gogh não pensou em nada disso enquanto pintava a tela.
Provavelmente a opção 5 é correta, o que não exclui, entretanto, a possibilidade de o caminho ter algum significado...
Campo de Trigo com Corvos é tida como a última tela de Van Gogh e, como eu disse, aquela que melhor representa ou representaria o seu TAB.
Letras de música: Cazuza
Com base nas letras das canções que Cazuza compunha, podemos falar sobre um diagnóstico de TAB. Obviamente, há outros elementos que devem ser levados em conta, como sua biografia, o relato de sua mãe e amigos, etc.
O que eu quero dizer, veja bem, é que assim como um diário, as letras de música que um bipolar compõe podem falar bastante a favor de um diagnóstico de TAB; mas não devem ou não deveriam ser os únicos elementos a observar se temos outros para levar em conta.
Letras de música e pequenos poemas esporádicos não são extamente textos longos como os que vemos em romances de 100 ou 200 páginas. Um romance, não só pela extensão da obra, seria mais rico em elementos para análise. Haveria cenas concretas, diálogos, adágios, monólogos, metáforas, etc., na medida em que o romance fosse rico em variações.
Ainda assim, é ingenuidade pensar que todo poema, por exemplo, é uma biografia. Pensar assim, é menosprezar o artista, porque o bom artista cria, ainda que possa recorrer à sua biografia para realizar tal tarefa. Devemos observar, antes de tudo, como ele se expressa e, não exatamente ou nem sempre, o que ele expressa.
Outros documentos
Acima, eu também falava de outros documentos. Talvez as fotos sejam o que mais possam causar estranheza ao leitor deste blog. Mas explico:
A maneira de se vestir também dirá muito sobre o paciente. E pelas fotos poderemos ver isso em vários momentos, especialmente se as fotos compreendem um período de tempo realmente grande.
Seja como for, qualquer foto é útil, especialmente fotos que mostrem o paciente dentro de um contexto. Podemos compará-lo às outras pessoas que aparecem na foto e ver se sua expressão facial, por exemplo, é proporcional ou adequada à ocasião. Podemos ver, também, se sua maneira de vestir é adequada à ocasião ou exagerada.
Sei que cada pessoa tem a sua maneira de vestir, que umas são mais exageradas ou mais recatadas que as outras. Mas o vestuário não deixa de ser um reflexo do comportamento humano ou um espelho do humor das pessoas. Uma roupa pode ser tão extravagante como uma crise de mania ou como a maneira de falar de um bipolar durante essa fase. Como se vê, não se trata apenas de uma questão de gostos.
Em todo caso, um bom psiquiatra ou psicológo recorrerá ao maior número possível de documentos e testemunhos. Quanto mais elementos para analisar, menores serão as possibilidades de erro.
Procurar abranger o maior período possível da vida do paciente também é excelente, especialmente se podemos saber como ele se comportava antes do surgimento do TAB. Em poucas palavras: Qual é o seu temperamento de base? Ele aparece entre uma crise e outra tal como era antes do aparecimento do transtorno bipolar? Do contrário, e se o paciente não está em crise, o que temos?
Já falei em outro post que há sintomas leves que costumam flutuar entre uma crise e outra, e que isso costuma acontecer em metade do tempo.
Consultas
Se você deseja ir a um profissional e perguntar sobre um possível diagnóstico de TAB para você ou para um parente, reúna o maior número possível de elementos.
Obviamente, se você pergunta a um profissional se seu namorado ou amigo é bipolar, ele não poderá te dar um diagnóstico à distância, sem a presença de seu namorado ou amigo. Mas assim ele já poderia te aclarar algumas dúvidas, e você, certamente, ficaria mais à vontade para insistir com aquele namorado ou amigo cabeça-dura sobre uma ida a um profissional.
Não roube, é claro, o diário de ninguém se você pretende seguir esse meu conselho acima. No máximo, tire uma xérox do diário se realmente for por uma boa causa! Não deixe seu superego te intimidar. Às vezes, meu caro leitor, o id é muito mais prático e eficiente que qualquer gênio imaginado, ainda que mereça um bom sermão ou umas boas palmadas no traseiro...
Leia mais
Transtorno Bipolar
Bipolares não-diagnosticados
Revelar a bipolaridade ou não revelar. Eis a questão
Marta - Romance
Leia mais
Transtorno Bipolar
Bipolares não-diagnosticados
Revelar a bipolaridade ou não revelar. Eis a questão
Marta - Romance
Marcadores:
Ana Bárbara,
bipolar,
Cazuza,
consulta,
diário,
distúrbio bipolar,
Hermingway,
Prosa,
Solar Bipolar,
TAB,
TBH,
Transtorno Afetivo Bipolar,
Transtorno Bipolar,
Transtorno Bipolar do Humor,
Van Gogh
quinta-feira, 14 de abril de 2011
Dobrada à moda do Porto, de Fernando Pessoa
Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.
Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...
(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).
Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.
Álvaro de Campos
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.
Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...
(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).
Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.
Álvaro de Campos
Marcadores:
Alvaro de Campos,
Dobrada à moda do Porto,
Fernando Pessoa,
poema,
Poesia
terça-feira, 12 de abril de 2011
Jorge - Conto
Jorge toma o táxi.
— Você viu — vai perguntando o taxista — o que aconteceu em Realengo?
Todo o mundo viu, mais de uma vez, porque a notícia é veiculada na TV dia e noite.
— Eu vi, foi horrível.
— Aquele atirador era louco!
— Na verdade, era esquizofrênico...
— Que nada! Era louco mesmo!
E a viagem prosseguiu. Jorge desceu na escola onde era professor. Deu aula como já fazia há 25 anos. Era seu último dia antes de se aposentar.
— Você viu, Jorge, o que aconteceu em Realengo?
Todo o mundo tinha visto.
— Você viu o que aquele psicopata fez?
— Vi tudo pela TV. Várias vezes. Mas sabe... aquilo poderia ter sido evitado.
— Como? O homem tinha um espírito mau no corpo, aquilo não se evita!
— Os jornais dizem que ele era esquizofrênico e estava sem tratamento há sete anos. Você sabe, é uma doença tratável...
— Que nada!
— Nenhuma doença mental deveria ser caso de polícia. Sejamos sensatos.
— Quê?! Esquizofrenia é desculpa. O remédio dele era uma bala na cabeça!
E em seguida soou o sinal. Jorge foi para a sua sala, deu aula. Os alunos não paravam de falar em Realengo. A aula não andava, não ia em frente. Jorge acabou falando com os alunos sobre o massacre.
— Vocês sabem o que é esquizofrenia?
Ninguém sabia. Jorge explicou, mas era como se não tivesse explicado, porque ninguém entendeu.
— Meu pai — um aluno ia dizendo — falou que não existe isso de louco não. Ainda bem que o policial matou o bandido.
No fim do expediente, na sala dos professores, houve bolo, refrigerante e cigarros. Jorge foi felicitado pela aposentadoria. Era um bom professor e dava aulas ali há mais de 16 anos.
— Obrigado — dizia Jorge, agradecendo os cumprimentos.
Na volta para casa, tomou novamente o táxi. O taxista era outro, mas o assunto era o mesmo.
— Você viu o que houve? Ele era louco. Tinha que ter sido morto há mais tempo. Um monstro, um bandido! E circulava por aí. O diabo que o leve...
Jorge tentou explicar que as doenças mentais devem ser tratadas, que tudo poderia ter sido evitado, mas suas explicações eram inúteis. Parecia que alguém já tinha explicado tudo a todos. Jorge, com sua experiência de 25 anos como professor, não conseguia explicar nada.
Jorge subiu as escadas, chegou a seu apartamento, ligou a TV. As notícias sobre Realengo se repetiam, sem novidades. As imagens que ele viu à noite eram as mesmas que ele havia visto de tarde, e as da tarde ele já tinha visto de manhã... As explicações também se repetiam, sem que nada ou quase nada fosse acrescentado. A palavra psicopata foi usada até a exaustão. O atirador era psicótico, não psicopata...
Jorge recebeu visitas. Não tinha milhões de amigos, mas tinha uns poucos e bons.
— Ah, Jorge! Se todos fossem gente boa como você! Aquele atirador era um demônio!
Jorge ia explicar pela milésima vez que o atirador era esquizofrênico e poderia ter sido tratado. A tragédia poderia ter sido evitada. Mas ele estava cansado, já havia tentado explicar isso milhões de vezes o dia todo, sem sucesso. Deixou pra lá e se contentou em sorrir...
Jorge se levantou, foi ao banheiro, tomou o seu remédio para esquizofrenia e voltou.
— Um monstro — dizia Jorge — um psicopata, um demônio.
Jorge já não tinha que explicar nada, agora concordava com todos.
Leia mais
19 mil leitos psiquiátricos a menos
Para não dizerem que não falei de Realengo
Comentando o post da Maga, do Bipolar Brasil, sobre a tragédia de Realengo
— Você viu — vai perguntando o taxista — o que aconteceu em Realengo?
Todo o mundo viu, mais de uma vez, porque a notícia é veiculada na TV dia e noite.
— Eu vi, foi horrível.
— Aquele atirador era louco!
— Na verdade, era esquizofrênico...
— Que nada! Era louco mesmo!
E a viagem prosseguiu. Jorge desceu na escola onde era professor. Deu aula como já fazia há 25 anos. Era seu último dia antes de se aposentar.
— Você viu, Jorge, o que aconteceu em Realengo?
Todo o mundo tinha visto.
— Você viu o que aquele psicopata fez?
— Vi tudo pela TV. Várias vezes. Mas sabe... aquilo poderia ter sido evitado.
— Como? O homem tinha um espírito mau no corpo, aquilo não se evita!
— Os jornais dizem que ele era esquizofrênico e estava sem tratamento há sete anos. Você sabe, é uma doença tratável...
— Que nada!
— Nenhuma doença mental deveria ser caso de polícia. Sejamos sensatos.
— Quê?! Esquizofrenia é desculpa. O remédio dele era uma bala na cabeça!
E em seguida soou o sinal. Jorge foi para a sua sala, deu aula. Os alunos não paravam de falar em Realengo. A aula não andava, não ia em frente. Jorge acabou falando com os alunos sobre o massacre.
— Vocês sabem o que é esquizofrenia?
Ninguém sabia. Jorge explicou, mas era como se não tivesse explicado, porque ninguém entendeu.
— Meu pai — um aluno ia dizendo — falou que não existe isso de louco não. Ainda bem que o policial matou o bandido.
No fim do expediente, na sala dos professores, houve bolo, refrigerante e cigarros. Jorge foi felicitado pela aposentadoria. Era um bom professor e dava aulas ali há mais de 16 anos.
— Obrigado — dizia Jorge, agradecendo os cumprimentos.
Na volta para casa, tomou novamente o táxi. O taxista era outro, mas o assunto era o mesmo.
— Você viu o que houve? Ele era louco. Tinha que ter sido morto há mais tempo. Um monstro, um bandido! E circulava por aí. O diabo que o leve...
Jorge tentou explicar que as doenças mentais devem ser tratadas, que tudo poderia ter sido evitado, mas suas explicações eram inúteis. Parecia que alguém já tinha explicado tudo a todos. Jorge, com sua experiência de 25 anos como professor, não conseguia explicar nada.
Jorge subiu as escadas, chegou a seu apartamento, ligou a TV. As notícias sobre Realengo se repetiam, sem novidades. As imagens que ele viu à noite eram as mesmas que ele havia visto de tarde, e as da tarde ele já tinha visto de manhã... As explicações também se repetiam, sem que nada ou quase nada fosse acrescentado. A palavra psicopata foi usada até a exaustão. O atirador era psicótico, não psicopata...
Jorge recebeu visitas. Não tinha milhões de amigos, mas tinha uns poucos e bons.
— Ah, Jorge! Se todos fossem gente boa como você! Aquele atirador era um demônio!
Jorge ia explicar pela milésima vez que o atirador era esquizofrênico e poderia ter sido tratado. A tragédia poderia ter sido evitada. Mas ele estava cansado, já havia tentado explicar isso milhões de vezes o dia todo, sem sucesso. Deixou pra lá e se contentou em sorrir...
Jorge se levantou, foi ao banheiro, tomou o seu remédio para esquizofrenia e voltou.
— Um monstro — dizia Jorge — um psicopata, um demônio.
Jorge já não tinha que explicar nada, agora concordava com todos.
Leia mais
19 mil leitos psiquiátricos a menos
Para não dizerem que não falei de Realengo
Comentando o post da Maga, do Bipolar Brasil, sobre a tragédia de Realengo
Marcadores:
Conto,
Esquizofrenia,
Jorge,
Prosa,
Realengo
segunda-feira, 11 de abril de 2011
l venti del cuore - Renato Russo
Achei este vídeo no youtube e a tradução me agradou bastante. Vi que houve grande boa-vontade de quem o postou lá, porque ele comentou que “esses vídeos foram feitos baseados nas traduções encontradas em sites”.
Seja como for, parece que a letra em italiano pregou algumas peças nos tradutores. Por isso fiz uma tradução bastante literal para que os leitores do Mastigando Estrelas possam comparar ambas. Notem que a letra em italiano diz volti e não volte, por exemplo.
Em todo caso, com a tradução que aparece no vídeo, vocês já poderiam entender do que se trata a letra. Minha tradução fica sendo uma segunda opção, algo a mais.
TRADUÇÃO DO BLOG
Os Ventos do Coração
I Venti del Cuore
Campi di lavanda e l'auto che va.
Campos de lavanda e o carro que vai.
Dietro quei cipressi, la strada piegherà.
Depois daqueles ciprestes, a estrada fará uma curva.
E passata la collina chissà
E passada a colina quem sabe
se la casa come un tempo mi apparirà.
se a casa como antigamente me aparecerá.
Ed ogni volta che ti penso, eri là,
E cada vez que penso em você, te encontro lá,
quel sorriso in tasca largo ed incredulo
sorrindo com aquela grande paciência e incrédulo.
Quanti bimbi e cani avevi intorno!
Quantos meninos e cães você tinha em torno!
E che chiasso di colori al tramonto!
E que viveza de cores ao pôr-do-sol!
E i ricordi si confondono là dove non vorrei.
E as recordações se confondem lá onde eu não gostaria.
Le memorie poi s'increspano e non so più chi sei.
As memórias depois se encrespam e não sei mais quem você é.
E i venti del cuore soffiano e gli angeli poi ci abbandonano
E os ventos do coração sopram e os anjos depois nos abandonam
con la fame di volti e di parole,
com a fome de rostos e de palavras,
seguendo fantasmi d'amore, i nostri fantasmi d'amore.
seguindo fantasmas de amor, os nossos fantasmas de amor.
E mi sembrava quasi un'eternità
E me parecia quase uma eternidade
che non salivo scalzo sopra quel glicine
qie eu não saía descalço sobre aquela grama.
In penombra, ti guardavo dormire.
Na sombra, eu te observava dormir.
Nei capelli, tutti i nidi d'aprile.
Nos cabelos, todos os ninhos de abril.
E le immagini si perdono, fermarle non potrei.
E as imagens se perdem, firmá-las eu não poderia.
E le pagine non svelano chi eri e chi ora sei
E as páginas não revelam quem você era e quem agora você é.
E i venti del cuore soffiano e gli angeli poi ci abbandonano,
E os ventos do coração sopram e os anjos depois nos abandonam,
con la voglia di voci e di persone,
com a vontade de vozes e de pessoas,
seguendo fantasmi d'amore, i nostri fantasmi d'amore.
seguindo fantasmas de amor, os nosos fantasmas de amor.
Seguendo fantasmi d'amore, i nostri fantasmi d'amore.
Seguindo fantasmas de amor, os nossos fantasmas de amor.
Quando i venti del cuore soffiano,
Quando os ventos do coração sopram,
seguiamo fantasmi d'amore, i nostri fantasmi d'amore.
seguimos fantasmas de amor, os nossos fantasmas de amor.
Marcadores:
I Venti del Cuore,
italiano,
música,
Renato Russo,
tradução,
vídeo,
videoclip,
youtube
Comentando o post da Maga, do Bipolar Brasil, sobre a tragédia de Realengo
Olá, Maga! Concordo com você em gênero, número e grau. É muito triste que tudo aconteça da maneira como você explicou em seu post...
O que acontece é que as pessoas leigas em geral tendem a aceitar explicações mais simples, ou pior, tendem a aceitar simplificações que não explicam nada. Por mais que psiquiatras competentes consigam explicar o que houve, as pessoas em geral continuam dizendo que Wellington fez o que fez porque era louco, que nada poderia ser feito, etc.
Eu discordo. A tragédia de Realengo começou quando Wellington abandonou o tratamento psicológico que fazia... Mas parece que ninguém entende isso, isto é, ninguém entende que um bom modo de diminuir futuros casos como esse é investir em saúde mental... Se há uma campanha para que as pessoas não abandonem o tratamento da tuberculose, por que não há campanha parecida para que as pessoas não abandonem tratamentos psicológicos? A saúde mental merece menos atenção que a saúde física? Por que os familiares de Wellington agora têm medo da reação do povo, mas não tiveram medo do que poderia acontecer quando Wellington abandonou o tratamento?
O que aconteceu em 7 de abril é consequência de anos de negligência, porque foram 7 anos em que Wellington ficou sem tratamento... A irmã dele dizia que ele era "estranho", mas por que, eu pergunto, os familiares não fizeram mais por ele do que dizer que ele era "estranho"?
Não seria surpresa se Wellington tivesse se matado (sozinho, sem envolver outras pessoas) devido à esquizofrenia, porque estava sem tratamento há 7 anos. Mas por que ninguém se importou com essa possibilidade?
Se ele tivesse tuberculose, provavelmente a família dele não o teria deixado abandonar o tratamento, simplesmente porque teriam medo de que ele morresse. Mas ora! Não foi exatamente isso o que aconteceu, justamente porque ele abandonou o tratamento? para não falar na morte das 12 crianças? Talvez eles próprios, os familiares de Wellington, não entendessem que ele era "estranho" devido a uma doença... uma doença perfeitamente tratável, o que equivale a dizer uma tragédia de Realengo perfeitamente evitável... Há milhões de esquizofrênicos em todo o Brasil, mas até hoje só houve um Wellington...
Mas ninguém quer entender o que aconteceu ou adotar certas medidas para evitar novas tragédias. É muito mais simples dizer que ele era louco e cruzar os braços. Em outros países, entretanto, eles adotaram certas medidas para diminuir o número de tais tragédias, já que evitar 100% delas é impossível...
Sobre os meios de comunicação e as explicações dadas por psiquiatras, é preciso lembrar que:
1) Os psiquiatras têm um compromisso com a ciência, com a Psiquiatria, com a verdade científica; e
2) a TV tem um compromisso com os telespectadores, com o público em geral, público este que é leigo e geralmente não assimila, não entende ou não aceita as explicações de um psiquiatra. É para esse público que a TV fala, motivo pelo qual a verdade da TV é diferente daquela verdade científica dos psiquiatras, simplesmente porque jornalistas e psiquiatras são profissionais diferentes, se dirigem a públicos diferentes, etc.
A verdade da TV tem que estar associada ao IBOPE, ao que público leigo aceita ou rejeita. Do contrário, o canal de TV não sobrevive. Enfim, os psiquiatras falam a outros psiquiatras, a um círculo menor; mas a TV fala a um grande número de pessoas, a um círculo maior e mais leigo... Um psiquiatra, quando fala a outro que Wellington era esquizofrênico, não tem que explicar o que é esquizofrenia... Um jornalista, quando fala a milhões de telespectadores, não pode explicar sem convencer, ou a matéria não terá aceitação...
Os psiquiatras e os jornalistas têm objetivos diferentes, falam a públicos diferentes; e é curioso quando eles são colocados lado a lado num programa de TV... Como você mesma disse, no programa da Globo News os dois especialistas queriam dizer uma coisa, mas a jornalista queria ou esperava que eles dissessem outra... Não vi o programa, mas confio em seu post... Acredito que você seja uma boa observadora!
A explicação que mais parece agradar às pessoas em geral é a de que Wellington era louco (uma simplificação). E a explicação que mais parece agradar às autoridades é a de que nada podia ser feito, isto é, as autoridades não têm que fazer nada para evitar futuros casos, fica tudo como está... Mas essas duas explicações simplificadas não sairão da boca de um bom psiquiatra, isto é, a verdade complexa, a única que explica o que houve, ficará restrita a um pequeno círculo de especialistas...
Graças a Deus a imprensa também é capaz de passar excelentes informações; e eu gosto de ver esses pequenos deslizes como exceções ou casos à parte, especialmente quando algo inusitado acontece e tudo é dito de improviso... A tragédia de Realengo foi a maior surpresa da imprensa nacional nos últimos tempos, e as notícias sobre o caso foram também um grande improviso, sem matérias anteriores que servissem de base para essa... Os casos anteriores que aconteceram no Brasil nem de longe se comparam a esse...
Talvez alguém diga que todas as notícias são inusitadas e que todas as matérias jornalísticas são escritas de improviso. Explico: Notícias de assassinatos, roubos, etc. são corriqueiras; já há, mais ou menos esboçado, um formato para tais matérias. Mas o caso de Realengo foi bem diferente...
Ah, sim! Uma última coisa que quase ninguém parece entender. Ele não era psicopata, mas psicótico, o que já é outra coisa bem diferente. Mas quem quer saber? Wellington era louco e isso explica tudo... Continuemos com nossas vidas como sempre o fizemos... Afinal, é um assunto tão desagradável; não pensemos mais nele...
Leia mais
19 mil leitos psiquiátricos a menos
Para não dizerem que não falei de Realengo
Jorge - Conto
O que acontece é que as pessoas leigas em geral tendem a aceitar explicações mais simples, ou pior, tendem a aceitar simplificações que não explicam nada. Por mais que psiquiatras competentes consigam explicar o que houve, as pessoas em geral continuam dizendo que Wellington fez o que fez porque era louco, que nada poderia ser feito, etc.
Eu discordo. A tragédia de Realengo começou quando Wellington abandonou o tratamento psicológico que fazia... Mas parece que ninguém entende isso, isto é, ninguém entende que um bom modo de diminuir futuros casos como esse é investir em saúde mental... Se há uma campanha para que as pessoas não abandonem o tratamento da tuberculose, por que não há campanha parecida para que as pessoas não abandonem tratamentos psicológicos? A saúde mental merece menos atenção que a saúde física? Por que os familiares de Wellington agora têm medo da reação do povo, mas não tiveram medo do que poderia acontecer quando Wellington abandonou o tratamento?
O que aconteceu em 7 de abril é consequência de anos de negligência, porque foram 7 anos em que Wellington ficou sem tratamento... A irmã dele dizia que ele era "estranho", mas por que, eu pergunto, os familiares não fizeram mais por ele do que dizer que ele era "estranho"?
Não seria surpresa se Wellington tivesse se matado (sozinho, sem envolver outras pessoas) devido à esquizofrenia, porque estava sem tratamento há 7 anos. Mas por que ninguém se importou com essa possibilidade?
Se ele tivesse tuberculose, provavelmente a família dele não o teria deixado abandonar o tratamento, simplesmente porque teriam medo de que ele morresse. Mas ora! Não foi exatamente isso o que aconteceu, justamente porque ele abandonou o tratamento? para não falar na morte das 12 crianças? Talvez eles próprios, os familiares de Wellington, não entendessem que ele era "estranho" devido a uma doença... uma doença perfeitamente tratável, o que equivale a dizer uma tragédia de Realengo perfeitamente evitável... Há milhões de esquizofrênicos em todo o Brasil, mas até hoje só houve um Wellington...
Mas ninguém quer entender o que aconteceu ou adotar certas medidas para evitar novas tragédias. É muito mais simples dizer que ele era louco e cruzar os braços. Em outros países, entretanto, eles adotaram certas medidas para diminuir o número de tais tragédias, já que evitar 100% delas é impossível...
Sobre os meios de comunicação e as explicações dadas por psiquiatras, é preciso lembrar que:
1) Os psiquiatras têm um compromisso com a ciência, com a Psiquiatria, com a verdade científica; e
2) a TV tem um compromisso com os telespectadores, com o público em geral, público este que é leigo e geralmente não assimila, não entende ou não aceita as explicações de um psiquiatra. É para esse público que a TV fala, motivo pelo qual a verdade da TV é diferente daquela verdade científica dos psiquiatras, simplesmente porque jornalistas e psiquiatras são profissionais diferentes, se dirigem a públicos diferentes, etc.
A verdade da TV tem que estar associada ao IBOPE, ao que público leigo aceita ou rejeita. Do contrário, o canal de TV não sobrevive. Enfim, os psiquiatras falam a outros psiquiatras, a um círculo menor; mas a TV fala a um grande número de pessoas, a um círculo maior e mais leigo... Um psiquiatra, quando fala a outro que Wellington era esquizofrênico, não tem que explicar o que é esquizofrenia... Um jornalista, quando fala a milhões de telespectadores, não pode explicar sem convencer, ou a matéria não terá aceitação...
Os psiquiatras e os jornalistas têm objetivos diferentes, falam a públicos diferentes; e é curioso quando eles são colocados lado a lado num programa de TV... Como você mesma disse, no programa da Globo News os dois especialistas queriam dizer uma coisa, mas a jornalista queria ou esperava que eles dissessem outra... Não vi o programa, mas confio em seu post... Acredito que você seja uma boa observadora!
A explicação que mais parece agradar às pessoas em geral é a de que Wellington era louco (uma simplificação). E a explicação que mais parece agradar às autoridades é a de que nada podia ser feito, isto é, as autoridades não têm que fazer nada para evitar futuros casos, fica tudo como está... Mas essas duas explicações simplificadas não sairão da boca de um bom psiquiatra, isto é, a verdade complexa, a única que explica o que houve, ficará restrita a um pequeno círculo de especialistas...
Graças a Deus a imprensa também é capaz de passar excelentes informações; e eu gosto de ver esses pequenos deslizes como exceções ou casos à parte, especialmente quando algo inusitado acontece e tudo é dito de improviso... A tragédia de Realengo foi a maior surpresa da imprensa nacional nos últimos tempos, e as notícias sobre o caso foram também um grande improviso, sem matérias anteriores que servissem de base para essa... Os casos anteriores que aconteceram no Brasil nem de longe se comparam a esse...
Talvez alguém diga que todas as notícias são inusitadas e que todas as matérias jornalísticas são escritas de improviso. Explico: Notícias de assassinatos, roubos, etc. são corriqueiras; já há, mais ou menos esboçado, um formato para tais matérias. Mas o caso de Realengo foi bem diferente...
Ah, sim! Uma última coisa que quase ninguém parece entender. Ele não era psicopata, mas psicótico, o que já é outra coisa bem diferente. Mas quem quer saber? Wellington era louco e isso explica tudo... Continuemos com nossas vidas como sempre o fizemos... Afinal, é um assunto tão desagradável; não pensemos mais nele...
Leia mais
19 mil leitos psiquiátricos a menos
Para não dizerem que não falei de Realengo
Jorge - Conto
Marcadores:
Bipolar Brasil,
Maga de Moraes,
Prosa,
Realengo
Assinar:
Postagens (Atom)