Por que o BBB não é um flagrante ao vivo?
Todos sabemos que ninguém é o mesmo diante de uma câmera, quanto mais diante de várias câmeras, sendo visto pelo Brasil inteiro. Um comentarista desportivo da Globo (já não lembro se o Galvão Bueno) contou a história abaixo:
Durante a copa do mundo, torcedores brasileiros estavam num bar. Eles estavam exaustos, visivelmente cansados. Mas, quando a câmera da reportagem surgiu, eles se levantaram e começaram a pular como se não estivessem exaustos. Ora! O cansaço físico deles não desapareceu. O que houve é que, diante das câmeras, eles se sentiram impelidos a passar determinada imagem, apesar do cansaço.
Com o BBB não é diferente. Os participantes procuram agir de maneira a ganhar a simpatia do telespectador. Ainda que alguém dentro da casa procure agir como age fora, por acreditar que seu modo pessoal de ser basta ou é perfeito para ganhar o prêmio, a situação em que ele se encontra na casa o influenciará. Não é só a nossa psicologia que determina como agimos, mas também as relações que estabelecemos com outras pessoas (a antropologia nossa de cada dia, amém).
Se a situação foge da nossa rotina (porque é um BBB) e se foge da antropologia nossa de cada dia (porque as pessoas com quem convivemos no BBB são desconhecidas), então o que nos resta para continuarmos agindo da mesma maneira de sempre é a nossa psicologia, nosso individualismo. Ora! Há dois elementos contra um! Façamos as contas: 1) a situação ou o momento; 2) as relações pessoais a que nos vemos obrigados, porque temos que repeli-las, aceitá-las ou nos adaptar a elas; 3) nossa psicologia.
Ainda assim, há outro elemento: a competição pelo prêmio.
Mas agora vamos ao que eu pretendia dizer...
Quem leva mais vantagem ao tentar conseguir a simpatia do telespectador? A resposta, grosso modo, é esta: Quem for mais flexível com sua própria psicologia (com seu próprio individualismo) a fim de adequar-se ao meio ou à situação, e ao gosto dos telespectadores, a fim de ganhar a simpatia destes. Em poucas palavras, quem tiver menos individualismo ou quem relegá-lo a um segundo plano. Enfim, quem for menos autêntico ou tiver um caráter mais flexível...
É claro que alguém pode ter uma personalidade que não precise de retoques para vencer o BBB, de modo que não terá de se desviar de seu individualismo nem sequer um milímetro. Mas será que esse é o caso de todos? Melhor, será que esse é o caso de alguém neste mundo?!
Um bom curso de teatro ajudaria bastante a ganhar o BBB, porque quem sabe colocar-se diante das câmeras leva vantagem quando está sendo avaliado pelos telespectadores. Um ator, numa novela, não ganha a simpatia do público sendo ele mesmo, mas interpretando um papel. E há personagens que o público aceita ou rejeita. Exemplo:
Na novela da vida real (nossa escola, nosso ambiente de trabalho, nossa vizinhança, etc.), estar triste é diferente de mostrar-se triste. Mas a mulher que sofre e não demonstra, não despertará a compaixão dos demais, a não ser que estes sejam adivinhos! Por outro lado, a mulher que não sofre, mas mostra sofrimento por algum motivo oculto, despertará a piedade dos demais se ela for uma boa atriz.
Desse modo, se alguém mostra um coração partido, sem que de fato esteja com o coração em pedaços, ganhará a compaixão do público mais piedoso. O público julga pela aparência, já que ele não pode ver por dentro o que cada participante realmente sente...
Pouca personalidade para adequar-se às mais variadas situações, para não bater de frente com ninguém, ajuda bastante. De modo geral, sofrer calado é uma atitude considerada boa por muita gente. Ser vítima costuma gerar empatia. Revoltar-se, tomar uma atitude, é considerada uma atitude má. Sendo assim, ter uma personalidade apagada, não ter opinões fortes ou bem definidas, tudo isso na prática tem ajudado alguns participantes a chegar à final do BBB, muito mais que ter um caráter bem definido ou opiniões fortes que não variam ao sabor do vento. Os participantes que incomodam o telespectador são eliminados no primeiro paredão que estes enfrentam... Os que não incomodam, mas tampouco agradam, são eliminados depois, às vezes no final do reality show, quando o público tem que escolher o seu preferido, isto é, aquele que agradou mais...
Quanto menos definida for a opinião de alguém, mais facilmente ele se adaptará às opiniões de terceiros, isto é, gerará menos conflitos. Em poucas palavras, o indivíduo se apaga para adaptar-se a um gosto geral...
Além do mais, quem seleciona as imagens que o telespectador vê na TV aberta? E quem pode dizer que as imagens boas e más de um participante são mostradas na mesma proporção, de modo que nada escape ao julgamento do telespectador? (Com imagens boas, quero dizer aquelas capazes de gerar empatia. Com imagens más, quero dizer aquelas capazes de despertar antipatia no público.) O simples fato de alguém selecionar essas imagens, por mais imparcial que ele seja, já torna indireto o julgamento dos telespectadores em casa...
A maioria das pessoas assiste ao BBB pela TV aberta...
Por fim, uma pergunta óbvia, mas nunca antes feita (salvo engano meu, é claro!): O objetivo do programa é que o público possa julgar livremente os participantes ou é gerar audiência? (Você pode pensar quanto tempo quiser, não tenha pressa de responder...)
Creio que o BBB alcance o melhor que ele pode oferecer quando é visto pela TV fechada, ao vivo, em tempo real, ainda que não possamos esperar que um telespectador assista ao programa 24h por dia, todos os dias! Enfim, nada é perfeito...
O que mais me supreende é que a Diana tenha sido a última eliminada. Ela não se encaixa no estereótipo boazinha-sofredora-humilde-ingênua-criança-grande que costumamos ver chegar à final do BBB. Sinal dos tempos? É, pode ser... pode ser...
Assim, a Diana não desagradou ao público a ponto de ser eliminada nos primeiros paredões; mas, na hora de o público escolher o seu preferido, ele escolheu a Maria... Esta se assemelha mais às pessoas em geral, e porque se parece mais, gera mais empatia. A Diana também chegou a formar um par, mas já não era a mesma coisa; o público já não via esse casal com os mesmos olhos, especialmente porque a Diana era bastante diferente da Maria.
Se a Diana foi uma das mais autênticas, isto é, uma das participantes que menos recorreu a artifícios para ganhar a simpatia do público, isso significa que tivemos nela mais uma pessoa de carne e osso que um personagem... Talvez isso, por si só, já seja uma vitória para ela... para a pessoa dela.
Moral da história: Quantos telespectadores não mudariam seus votos se soubessem imterpretar sinais faciais, gestos, identificar sinais de mentira, etc.! Nossa psicologia é mais complexa do que alguns podem supor pelas atitudes infantilizadas de alguns participantes do BBB. Como eu disse em outro post, até o Mickey Mouse demonstra mais profundidade psicológica que alguns participantes do BBB...
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Diana BBB11 - análise psicológica
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